Crise fecha mais de 420 mil empresas em sete municípios da Baixada

A crise econômica atingiu até mesmo a Cacau Show, tradicional loja de chocolates que teve uma de suas unidades fechadas no Centro de Nova Iguaçu
Davi de Castro/Jornal de Hoje

Por causa da crise financeira e econômica do país, mais de 420 mil empresas situadas na Baixada Fluminense encerraram suas atividades nos últimos três anos. Um levantamento feito pela Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (Jucerja) mostrou que em apenas sete municípios da região, um total de 422.131 estabelecimentos encerraram suas atividades entre 2015 a agosto de 2017. Duque de Caxias e Nova Iguaçu são os campeões de empresas fechadas. Na sequência vêm as cidades de São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, Queimados e Mesquita (veja quadro abaixo).
Nova Iguaçu sofreu com o fechamento de quase 122 mil empresas em menos de três anos, principalmente no centro e na periferia da cidade, elevando o crescimento da taxa de desemprego. Mesmo assim, com extremo otimismo, Vicente Guimarães Sobrinho, retornou à presidência do Sindicato do Comercio Varejista de Nova Iguaçu (Sincovani), por força do falecimento de Uéliton Pessanha de Carvalho, considerando que “a instabilidade política e econômica do país é a principal razão de desconforto físico e mental dos empresários do comércio (…) e de todos os segmentos brasileiros (…). Mas cabe ao presidente em exercício e seus pares de diretoria, não desistir e aproveitar todas as nuances que possam parecer nesse cenário conturbado, como uma expectativa de retomada a uma saída em direção a um novo crescimento, nem que seja como um paliativo”.
Em Duque de Caxias, onde o número de empresas fechadas entre janeiro de 2015 e agosto deste ano passa de 135 mil, a cidade parou. O motivo é não somente por falta de recursos, mas também pela incerteza financeira provocada pela pendenga judicial  do prefeito Washington Reis, que teve o mandato cassado e promete recorrer da decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), entrando com recurso do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília. E esse ambiente de instabilidade política impede a perspectiva de instalação de novas empresas na cidade e outros investimentos externos.

Meriti não paga

Em São João de Meriti, onde 72 mil empresas fecharam as portas em menos de três anos, o prefeito Dr. João (PR) também não se mostra preocupado com a barriga dos servidores e suas famílias. “Na falta de sensibilidade pública dos governantes, quem mais sofre são os aposentados: assim como em Caxias, Meriti também deve e não tem prazo certo para pagar os salários atrasados”, reclama a aposentada Rosely de Castro. No município de Mesquita (11.388 empresas fechadas), o único sobrevivente, a situação ficou melhor porque o prefeito Jorge Miranda (PSDB) conseguiu na justiça uma transferência de recursos de R$ 14 milhões do MesquitaPrev e colocou em dia, de uma só vez,  três meses de salários e o 13º salário na gestão do seu antecessor.

Milagre em Belford Roxo

Em Belford Roxo ocorreu um fato milagroso. Mesmo na crise e afogado em dívidas, o governo aumentou o orçamento de R$ 637 milhões para R$ 680 milhões. Fez gastos em torno dos 52.66%, quando o limite é de 54%, para não infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal. E mesmo sabendo disso, o novo governo destruiu obras prontas, prometendo outras mais modernas, dentre elas o pórtico da história de fundação da cidade, que registrou o fechamento de quase 38.500 empresas. Já em Itaguaí foram reduzidos os contratos com prestadores de serviços e quase mil servidores foram jogados no olho da rua.

O Rio quebrou

A crise pegou de cheio o Rio de Janeiro, deixando os cofres do estado vazios. Só neste primeiro semestre de 2017, mais de 10 mil empresas encerraram as atividades, sendo aproximadamente 4.500 no município. As demais foram em todas as regiões do estado.  Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-RJ), a queda nas vendas e a crise financeira do estado motivaram o fechamento das empresas.  O percentual é de mais de 6% em relação ao ano de 2016. Só em junho deste ano, mais de mil lojas foram fechadas – um índice de 149% a mais do que o igual período no ano passado – em 2016 o índice foi de 55%.
Nessa conta estão inclusas oito empresas de ônibus, cujo setor era considerado como um dos mais produtivos. A mais recente a fechar as portas foi a Santa Maria, que fazia parte do consórcio BRT. Com isso, 120 ônibus estão foram das ruas, enquanto 380 trabalhadores estão nela. Aliás, o setor de transportes começou a ser atingido em 2015, quando outras sete empresas saíram de circulação, segundo a Rio Ônibus, demitindo mais de 2.400 funcionários.

Falta até papel higiênico

Sem um tostão furado, o estado do Rio deixou de pagar servidores, fornecedores e outros prestadores de serviços, atingindo ainda as áreas de saúde, educação, cultura e empreendimentos. Até papel higiênico faltam em vários setores públicos, como hospitais, unidades de saúde e escolas. Enquanto isso, um braço forte do esquema de corrupção deixou suspeitas de que a grana estaria nas contas de pessoas acusadas pelas investigações da Lava-Jato,  dentre elas o ex-governador Sérgio Cabral e alguns aliados, muitos dos quais já estão presos.  As 92 cidades do Rio também estão sofrendo, principalmente, com salários atrasados e o aumento do índice de desemprego.

Bye Bye Brasil

No Brasil os 5.570 municípios também foram atingidos, principalmente este ano, quando a situação ficou mais dramática. Mais de 200 mil empresas, em 2017, deram baixa em seus registros nas Juntas Comerciais dos estados. A situação colocou no olho da rua 26,3 milhões de desempregados e subempregados.
Dentre as 200 mil empresas que fecharam as portas e demitiram trabalhadores no Brasil, estão oito multinacionais que encerraram as atividades e voltaram a seus países de origem ou venderam tudo que tinham no país. Foram embora a Nintendo (japonesa), Duke Energy (americana), Geely Motors (chinesa), Acessorize (grife inglesa), Fnac (francesa) e HSBC (britânica). Já o Citybank (americano) foi vendido para o Itaú; e a Karin (japonesa), vendida para a Heineken (holandesa).
Autoridades especializadas no assunto avaliam que as vendas ficaram mais complicadas “por causa das taxas de juros muito altas”, como observam dirigentes da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo(Fecomércio) do Distrito Federal. A crise invadiu inicialmente o setor industrial e, ao se agravar, alcançou também os setores de varejo e de serviços, segundo assinala a Confederação Nacional do Comércio e Serviço (CNC).  Não há prazo para de dias melhores. Apenas esperança.

 

por Davi de Castro (davi.castro@jornalhoje.inf.br)

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