PF investiga esquema de desvio para PT e PMDB

Segundo a Polícia Federal, a empresa ‘Trade Brasil’ seria composta por Vaccarezza, Lobão, Tiago Cedraz e Jorge Luz

A Operação Lava Jato encontrou documento com “diretrizes” para criação de uma empresa, denominada “Brasil Trade”, que pode ser a formatação de uma sociedade entre corruptos, corruptores e operadores de propinas, responsáveis por desvios em contratos com a Petrobrás, que beneficiaria PT e PMDB: 40% para os partidos.
O achado faz parte da 45ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na quarta-feira (23). Batizada de Operação Abate II, a Polícia Federal fez buscas e apreensões em endereços dos advogados Tiago Cedraz Leite de Oliveira – filho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz – e Sergio Tourinho Dantas, e da ex-assessora de Cândido Vaccarezza (ex-PT) Ana Claudia de Paula Albuquerque.
Os dois advogados, que são sócios, fariam parte da sociedade capitaneada pelos lobistas Jorge Luz e Bruno Luz – pai e filho -, presos desde fevereiro, pela Lava Jato.
Além deles, a firma tinha participação de um executivo da empresa norte-americana Sangeant Marine, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, de outro ex-gerente da estatal, de um operador do ex-ministro Edison Lobão, entre outros.
“Referência a ambos (Cedraz e Dantas) foram encontradas no próprio documento que estabelecia as diretrizes iniciais do grupo denominado de ‘BRASIL TRADE’, assim como em outro que estabelecia aparente participação nos lucros a cada um dos envolvidos em oportunidade negocial ainda não identificada”, informa o delegado da PF Filipe Hille Pace, em seu pedido de buscas na Abate II.
“Em decorrência do nível de cognição investigativa que havia se alcançado até aquele momento, julgou-se provável que dirigentes da empresa norte-americana Sargeant Marine tivessem se beneficiado indevidamente com recursos gerados mediante a contratação, mediante corrupção, da empresa pela Petrobrás com o auxílio do grupo criminoso então denominado ‘Brasil Trade’”, informa a PF.
O documento tem 12 itens sobre a formação da firma. “Formação da TRADE BRASIL – Como explanado por CH e BO, o custo para implementação de uma Trading no Brasil é alto, razão pela qual a Trade Brasil deverá ser constituida inicialmente de forma OFF SHORE para as operações iniciais”, informa o item 6, da lista de “diretrizes” apreendida pela PF. “E logo que se tenha sustentação própria viabilizaria-se uma empresa no Brasil visto ser intenção de que a Fundação venha entrar de sócia ou mesmo operar com a Trade Brasil.”
Há referência a local de funcionamento, que seria no Rio, menção a uma reunião inicial em 2010, com aporte inicial de R$ 100 milhões previstos, negócios com “BR Distribuidora”, Petrobrás, fornecimento de asfalto para Salvador (BA) e Fortaleza (CE) e menções a Argentina e Tampa.
“40% do comissionamento era destinado ao pagamento de propina a Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza e outro agente político e 20% a Paulo Roberto Costa”, informa o pedido enviado ao juiz federal Sérgio Moro.
Em outro registro encontrado pela PF referente a Trade Brasil, há uma divisão: “CONVERSADO / 40% POL (PT/PMDB) / 40% COORDENAÇÃO / 20%: CASA”.
Os registros estão todos em siglas, que a polícia tenta confirmar. Casa seria a propina para os agentes da Petrobrás, entre eles Paulo Roberto Costa, Márcio Aché, José Raimundo Pereira Brandão e Murilo Barbosa Sobrinho.
A formação da Brasil Trade tem relação com o negócio alvo da Operação Abate, 44ª fase da Lava Jato, fechado com a empresa Sargeant Marine, que levou para a cadeia Vaccarezza, no dia 18.
A atuação do grupo em favor da empresa norte-americana com a Petrobrás culminou na celebração de doze contratos, entre 2010 e 2013, no valor de aproximadamente US$ 180 milhões. A empresa fornecia asfalto para a estatal e foi citada na primeira delação do escândalo, feita pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa em agosto de 2014.
Segundo Jorge Luz, Edison Lobão teria sido, ao lado do ex-deputado Cândido Vaccarezza, padrinhos políticos do contrato. Vaccarezza não desfruta mais de foro especial. Na sexta-feira, 18, ele foi preso por ordem do juiz federal Sérgio Moro. Na noite desta terça, 22, o ex-líder dos Governos Lula e Dilma na Câmara foi solto.
No âmbito do termo para fornecimento de asfalto, Vaccarezza é investigado por propinas de US$ 500 mil; já Lobão e seu suposto representante, Murilo Barbosa Sobrinho, são atrelados a repasses de US$ 450 mil em planilhas de pagamentos via offshore entregues pelos operadores de propinas.
“Em virtude da proximidade do então agente da Petrobrás Márcio Aché com o Murilo, que seria o representante dos interesses de Lobão, foi acomodado uma parte dos valores que eram recebidos da comissão pelos contratos da Sargeant Marine para o senador. Isso foi dito pelos operadores, já está em sigilo e contra isso não foram tomadas medidas nenhuma aqui na primeira instância”, afirmou o delegado da PF.

Desdobramento alcança filho
de ministro do TCU

A segunda etapa da Abate alcança o filho do ministro do TCU e seu sócio na Trade Brasil. O suposto envolvimento de Cedraz, e também do advogado Sérgio Tourinho – igualmente, alvo de buscas na Abate II -, foi revelado pelos operadores de propinas do PMDB Jorge Luz e Bruno Luz, pai e filho.
“Os operadores informaram que participaram das tratativas iniciais da contratação da Sargeant Marine”, disse o delegado Fillipe Pace, da Polícia Federal.
Jorge Luz e Bruno Luz aparecem nos documentos com as siglras “JL” e BL”, segundo a PF. Cedraz e Dantas seriam “ST” e “TC”. Outras siglas são: de “MA” e “RA”, referência ao ex-executivo da Petrobrás Márcio Aché e seu filho Rafael Aché; “LD” seria Luiz Eduardo Loureiro Andrade, representante da Sargeant Marine no Brasil, conhecido como Ledu; “BO” e “CH”, seriam Carlos Henrique Nogueira Herz e Bo Hans Vilhelm Ljungberg.
Para a PF, Cedraz e Tourinho “também tinham funções específicas dentro do ‘Brasil Trade’ para acompanhamento de outros assuntos negociais de interesse do grupo”. (As informações são da Agência Estado).

Moro coloca Bendine no banco
dos réus da Lava Jato

Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras é acusado de receber três milhões em propinas da Odebrecht
Gustavo Lima / Agência Câmara

O juiz federal Sérgio Moro aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine na Operação Lava Jato. O executivo é acusado de receber R$ 3 milhões em propinas da Odebrecht.
Além de Bendine, são acusados os operadores financeiros André Gustavo Viera da Silva e Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior e Álvaro José Galliez Novis e os executivos Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, da Odebrecht.
“Presentes indícios suficientes de autoria e materialidade, recebo a denúncia contra os acusados”, decidiu Moro.
Outros cinco investigados também são acusados pela força-tarefa da Lava Jato pelos crimes de corrupção passiva, corrupção altiva, lavagem de dinheiro, pertinência a organização criminosa e embaraço à investigação de infrações penais.
Segundo a denúncia, Aldemir Bendine inicialmente fez um pedido de propina no valor de R$ 17 milhões, quando era presidente do Banco do Brasil, “para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht Agroindustrial”. A acusação aponta que os executivos Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, delatores da Lava Jato, teriam negado o pedido porque entenderam que Bendine não teria capacidade de influenciar no contrato de financiamento do Banco do Brasil.
A força-tarefa afirma que “na véspera” de assumir a presidência da Petrobras, em 6 de fevereiro de 2015, Aldemir Bendine e um de seus operadores financeiros novamente solicitaram propina a Marcelo Odebrecht e Fernando Reis. A denúncia afirma que desta vez o pedido foi feito para que o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado em seus interesses na estatal petrolífera, bem como para que pudesse ser beneficiado de alguma maneira, inclusive no que se refere às consequências da Lava Jato.
A empreiteira, de acordo com a investigação, optou por pagar a propina de R$ 3 milhões. O valor, afirma a força-tarefa, foi repassado em três entregas em espécie, no valor de R$ 1 milhão cada, em São Paulo, em apartamento alugado a Antônio Carlos Vieira da Silva. Esses pagamentos foram realizados no ano de 2015, nas datas de 17 de junho, 24 de junho e 1º de julho, pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, com a atuação do doleiro Álvaro José Galliez Novis.
O Ministério Público Federal aponta que parte dos valores da propina ainda foram repassados para Aldemir Bendine, também de forma oculta e dissimulada, com o pagamento, pelo operador André Gustavo Vieira da Silva, de viagem internacional que o ex-presidente da Petrobras realizou no final de 2015 e início de 2016. Outra parte foi entregue durante os diversos encontros pessoais que os acusados tiveram em 2015.
Em contrapartida ao pagamento de propina pela Odebrecht, Aldemir Bendine – já exercendo a função de presidente da Petrobras -, segundo a força-tarefa, chegou a solicitar ao departamento jurídico da companhia parecer sobre a possibilidade de levantamento do bloqueio cautelar imposto pela estatal contra a Odebrecht Óleo e Gás, assim como sobre a contratação direta ou a formação de Sociedade de Propósito Específico com o Estaleiro Enseada Paraguaçu, do qual a empreiteira é sócia. Diante da resposta negativa e dos avanços das investigações na operação Lava Jato, Bendine não deu continuidade a essas tratativas.
A denúncia ainda descreve que, buscando dar aparência lícita para os recursos, André Gustavo Vieira da Silva, Antônio Carlos Vieira da Silva e Aldemir Bendine, após tomarem ciência da existência de investigações contra si, resolveram dissimular os pagamentos de propina como se tivessem origem em serviços de consultoria prestados à Odebrecht. Para tanto, em março e abril de 2017, ou seja, dois anos após os fatos, efetuaram o recolhimento de tributos relacionados à falsa consultoria. Os documentos falsos foram inclusive apresentados nos autos da PET 6646 (autos nº 5022683-50.2017.4.04.7000), com o intuito de embaraçar as investigações.
Ainda, considerando todos os crimes praticados, Aldemir Bendine e seus operadores efetivamente aderiram a organização criminosa capitaneada por Marcelo Odebrecht e instalada para o cometimento de crimes contra a Petrobras, afirma a força-tarefa. (AE)

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