Pai de jovem morto em favela no Rio acusa PM e diz não crer em punição de culpado

“Meu filho vai virar estatística. E quem fez isso com ele não vai ser punido”. As frases são do mecânico Crenilson de Moraes Dionísio, de 43 anos, pai de Denilson de Souza Moraes, de 16, morto por um tiro, nesta terça-feira, no Complexo do Chapadão, na Zona Norte do Rio. O jovem trabalhava num ferro-velho quando foi ferido. Depois de ouvir relatos de pessoas que estavam com o adolescente, Crenilson diz não ter dúvidas de que o disparo partiu de um policial militar — havia uma operação da PM na comunidade.

“Sempre pedi para ele que quando tivesse operação, não saísse para a rua. E ele estava lá, queimando cobre, no trabalho, quando foi ferido. E o que é pior: meu filho vai virar estatística. E quem fez isso com ele não vai ser punido. Quando é um policial que morre, é uma comoção. Mas meu filho? Hoje estamos falando dele. Amanhã ninguém mais vai se lembrar do que aconteceu — disse, emocionado, enquanto aguardava a liberação do corpo de Denilson no Instituto Médico Legal (IML), nesta quarta-feira.

Crenilson contou que estava no trabalho quando soube do acontecera com o jovem. Ele correu para o Hispital estadual Carlos Chagas, mas Denilson já havia morrido. A irmã dele, Priscila Moraes, de 25 anos, havia passado mal e também teve que receber atendimento médico.

“Não tive tempo de me despedir. E agora estou aqui, pensando apenas que meu filho tinha todo um futuro pela frente. Estava animado, havia acabado de tirar a Carteira de Trabalho e ia fazer um curso de eletricista”, contou o mecânico.

Segundo ele, além do trabalho no ferro-velho, Denilson estudava à noite. O pai contou ainda que o adolescente era um rapaz caseiro, que ajudava a mãe nas tarefas domésticas.Ainda não há informações sobre o sepultamento de Denilson. A morte dele está sendo investigada pela Divisão de Homicídios (DH), que já ouviu os depoimentos de Crenilson e de testemunhas.

Em relação ao que aconteceu, a Polícia Militar informou que PMs do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA) atuaram nos complexos do Chapadão e Pedreira nesta terça-feira, em uma ação de combate a roubo de cargas. De acordo com a corporação, durante a manhã o 9º BPM (Rocha Miranda) foi informado de que uma pessoa ferida havia dado entrada no hospital vindo do Chapadão. A PM não informou se houve troca de tiros entre policiais e criminosos na região.

Após a morte de Denilson, amigos e parentes dele realizaram uma passeata pedindo paz na Estrada Rio do Pau, na Pavuna. No início desta noite, uma nova manifestação foi realizada pedindo paz e justiça após a morte do adolescente. No cartaz, a frase: “Mais uma vítima covarde”.

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