Secretaria de Segurança e alto escalão da PM discutem manutenção de UPPs

A decisão do secretário de Segurança, Roberto Sá, de manter todas as UPPs em funcionamento, contrariando um estudo feito pela PM, abriu uma crise na cúpula do órgão. Oficiais do Estado Maior da PM e da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), responsáveis pela elaboração do diagnóstico das unidades, ficaram insatisfeitos com a deliberação. O trabalho recomendou que as 12 UPPs com piores indicadores fossem extintas para que o efetivo reforçasse unidades que pudessem ser recuperadas. Para o grupo, a manutenção de PMs nas favelas mais violentas coloca em risco os agentes lotados nessas UPPs.

O resultado do estudo escancara o fracasso do programa em algumas áreas. Em três unidades — Nova Brasília e Parque Proletário, na Zona Norte, e São Carlos, no Centro —, os agentes não conseguem patrulhar mais do que um terço do território. Só nos últimos três meses, policiais foram feridos e bases atacadas em mais da metade das UPPs. No período, houve confrontos em 90% das unidades.

Esse diagnóstico foi entregue ao comandante geral pelo grupo em meados de julho. Antes de levá-lo ao secretário, o coronel Wolney Dias escreveu um parecer defendendo a manutenção das unidades. Em seguida, o secretário recebeu o trabalho e também discordou de suas conclusões. Os autores do estudo ficaram sabendo da deliberação durante uma coletiva de imprensa.

Em algumas unidades, policiais não patrulham um terço do território

Para membros do governo, a decisão de manter as UPPs foi tomada isoladamente pelo secretário, que participou de sua criação e não estaria disposto a participar de seu fim.

“Desde o Governo Cabral esse tipo de decisão é do secretário. Não chegou até o governador. Mas me pareceu inteligente. O programa se perdeu, mas não deve ser abandonado”, afirma o presidente licenciado da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB).

Sá e Dias dizem que a decisão foi tomada em conjunto, com o aval do governador Luiz Fernando Pezão. Em nota, a Secretaria de Segurança alega que Sá e Dias “não julgaram conveniente a extinção de UPPs por entenderem que se trataria de um retrocesso no programa e sinalização de abandono das comunidades em questão que apoiaram o projeto e poderiam ficar à mercê de represálias dos criminosos”. Já a PM afirma que está “atendendo a expectativa da maioria dos moradores das comunidades”.

Ao invés de um recuo no programa, o secretário anunciou a diminuição do efetivo das UPPs. Segundo Sá, 3 mil agentes que faziam trabalhos burocráticos nas unidades vão passar a patrulhar a Região Metropolitana, para tentar frear o aumento da criminalidade. Já as UPPs vão ser, a partir de agora, subordinadas aos batalhões e terão o mesmo efetivo operacional.

No entanto, ao contrário do que foi anunciado, as UPPs não têm 3 mil homens em funções burocráticas aptos a reforçar o patrulhamento nas ruas imediatamente. Deste total, 1,6 mil policiais não podem sair dos quarteis. São agentes licenciados por diversos motivos: tratamentos psicológico e médico; lesões físicas ou fora de serviço por determinação judicial.

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