“Chega, ninguém aguenta mais tanto roubo”, disse Geddel

*Luiz Flávio Gomes

Nas manifestações pelo impeachment de Dilma (16/8/15, em Salvador, BA), a frase completa do larápio Geddel foi a seguinte: “Chega, ninguém aguenta mais tanto roubo. Isso já deixou de ser corrupção. É roubo, assalto aos cofres públicos para enriquecer os petistas”. “Um cínico é um homem que sabe o preço de tudo, mas o valor de nada” (Oscar Wilde).
Nas cleptocracias (governo de ladrões; no nosso caso, ladrões do mundo empresarial e político), enquanto não for rompido o “sistema” corrupto, os governos ladravazes vão se sucedendo eternamente, seja de esquerda, de centro ou de direita.
Nas malas encontradas num “bunker” que seria de Geddel (como diz a PF), mais de R$ 51 milhões de reais foram apreendidos. Um “Tesouro Perdido”. A maior apreensão de dinheiro da nossa História.
Nos países governados por ladrões só existem dois tipos de pessoas: as que roubam e as que pagam a conta. Se você não é um dos ladrões do dinheiro público, você está pagando a conta. O peemedebista Geddel, da quadrilha do Temer (como diz a PGR), foi vice-presidente da Caixa no primeiro governo Dilma e ministro da Integração Nacional na gestão Lula.
Pediu exoneração da secretaria da Presidência Temer quando tentou usar o cargo para a satisfação de interesses privados (regularização indevida de um apartamento em Salvador).
Gilmar Mendes, na ocasião, afirmou: “Parece que as coisas estão sendo magnificadas (…) É uma coisa inusitada, absolutamente despropositada, que um ministro, ainda mais para um profissional do Itamaraty, tenha esse tipo de conduta [gravação de Geddel]. Temos crises maiores do que esse episódio relativo a um flat em uma longínqua praia da Bahia”.
Geddel, há mais de 25 anos envolvido em escândalos públicos, conta com longa carreira no grupo dos que surrupiam a população brasileira. E ainda teria praticado o crime de obstrução de Justiça, colaborando para que Lúcio Funaro e Cunha não fizessem delação (contra a quadrilha que está no poder).
Ambos receberam dinheiro de Joesley (JBS-Friboi) para isso. Temer, ao ser recordado de todos esses fatos, disse (naquele áudio do dia 7/3/17): “Mantenha isso aí, viu”.
Enquanto o império da lei (a certeza do castigo e o empobrecimento dos larápios corruptos) não valer para todos, não colocaremos fim à cleptocracia brasileira. Repressão e educação são as armas com as quais devemos combater a corrupção.

*Luiz Flávio Gomes é Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri (2001) e Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP (1989). Criador do Movimento Quero um Brasil Ético. Jurista e professor em vários cursos de pós-graduação nacionais e internacionais, entre eles a Facultad de Derecho de la Universidad Austral, Buenos Aires (Argentina), já tendo publicado mais de 57 livros na área jurídica.

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