Polícia sabia de guerra anunciada na favela da Rocinha

A UPP da Rocinha tinha a informação de que criminosos planejavam invadir a comunidade a qualquer momento. A Polícia Civil monitorava as ações da quadrilha desde sexta-feira, quando começaram a circular informações sobre a expulsão da família de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, da favela. Agentes penitenciários contaram que vários advogados de chefes da Amigos dos Amigos (ADA) — facção que domina a Rocinha — foram vistos no presídio de Bangu 4 na sexta-feira. Entretanto, nenhum dos órgãos se mobilizou para impedir que bandidos armados de fuzis entrassem, à luz do dia, na Rocinha..

A UPP afirma que reforçou o policiamento na manhã de domingo. Os PMs, entretanto, se esconderam enquanto o bando entrava na favela. Na Rocinha, o tráfico ignora a existência da UPP. Investigações da Polícia Civil escancaram a ousadia do bando de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157. Para monitorar a movimentação dos policiais, a quadrilha instalou câmeras em caixas de plástico pretas em diversos locais da favela. No último dia 24 de maio, sete dessas câmeras foram apreendidas por policiais — uma na Rocinha e outras seis no Vidigal, perto da base da UPP. Um inquérito foi aberto na 11ª DP (Rocinha) para investigar o caso.

Diante da falta de ação da polícia, o bando passou a contar com outras fontes de lucro na favela. Além da venda de drogas — que proporciona à quadrilha o maior faturamento da cidade, segundo a Polícia Civil —, Rogério decidiu explorar os moradores: passou a cobrar pedágio pela venda de gás. Informações que chegaram ao Ministério Público dão conta de que, há cerca de um mês, o preço do botijão passou de R$ 70 a R$ 100 na parte alta da favela.

Autoridades silenciam sobre invasão

Nenhuma autoridade da cúpula da segurança do estado nem o governador Luiz Fernando Pezão se pronunciou sobre a guerra do tráfico na Rocinha, que teve início na madrugada de domingo. Confrontos entre quadrilhas na maior favela do país provocaram pelo menos quatro mortes, o fechamento de uma estação do metrô, de cinco postos de saúde, de seis unidades de ensino e do comércio. Apesar disso, Pezão avisou, por meio de sua assessoria, que não comentaria o assunto. O chefe da Polícia Civil, delegado Carlos Leba, afirmou que somente o secretário de Segurança, Roberto Sá, falaria, o que não aconteceu. E o comandante da PM, coronel Wolney Dias, que retornou à tarde de uma viagem de trabalho, também decidiu não se manifestar.

O relações-públicas da Polícia Militar, major Ivan Blaz, foi o único oficial da corporação a falar sobre a guerra na Rocinha. Ele defendeu os policiais da UPP que, em um vídeo divulgado pela internet, buscam proteção durante a invasão à favela (“Se esconde aí, rapaziada, são mais de 20 com fuzis”, diz um deles). Blaz argumentou que o efetivo local não tinha condições de conter os bandidos:

“A Polícia Militar do Rio lida com possibilidades de invasões de mais de 1.200 comunidades carentes da Região Metropolitana. Recebemos diariamente inúmeras informações sobre ataques de quadrilhas rivais. Isto torna o nosso trabalho extremamente difícil.

Já o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que as ações das Forças Armadas no Rio dependem de uma solicitação da Secretaria de Segurança.

“Quando não formos demandados, evidentemente não vamos tomar uma liderança”, disse Jungmann.

 

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