Lava-Jato prende Nuzman e Leonardo Gryner

Agentes prendem Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio-2016 Foto: Marcio Alves / Agência O Globo

Em novo desdobramento da Operação Unfair Play, a força-tarefa da Lava-Jato prendeu temporariamente o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e seu braço direito, Leonardo Gryner. Gryner se reuniu em um hotel em Paris, em 2009, com o empresário Arthur Soares, acusado de pagar milhões em subornos ao ex-governador Sérgio Cabral e atualmente foragido.

O “Rei Arthur”, apelido de Soares, é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como responsável pelo pagamento de US$ 2 milhões (R$ 3,5 milhões, na cotação da época) em propina ao senegalês Papa Massata Diack.

Segundo o MP francês, em troca, o pai dele, Lamine Diack, à época presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), votaria na candidatura do Rio durante a eleição realizada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), no dia 2 de outubro de 2009, na Dinamarca.

As novas provas que basearam o pedido de prisão temporária — com duração de cinco dias renováveis por mais cinco — contra o presidente do COB e seu braço direito são e-mails encontrados no Comitê trocados entre Nuzman, Gryner e Papa Diack.

Numa das mensagens, Papa Diack escreveu para Nuzman sobre Gryner:

“Nós estamos na sexta feira, 11 de dezembro de 2009, e meu banco Societé General de Senegal ainda não recebeu nenhuma transferência SWIFT de sua parte. Eu tentei falar com Leonardo Gryner diversas vezes mas não houve resposta. Você poderia verificar com ele [Gryner] se ele pode confirmar 100% que as transferências foram feitas a meus endereços em Dacar ou em Moscou (BSGV) [Banque Societé General Vostok]”.

Em outra mensagem, o Ministério Público aponta que há indícios de que podem haver outros delegados envolvidos na compra de votos para eleger o Rio a cidade sede dos Jogos de 2016. Segundo o e-mail, Papa Diack (como consultor de marketing da IAAF e CEO da empresa Pomodzi Sports Marketing) pede, mais uma vez, a Carlos Nuzman que dê a posição para “resolver o problema para a satisfação de todas as partes”, pois “tem encontrado todo tipo de problemas com a implementação/execução do problema anexo”.

Ao esclarecer o citado “problema” diz: “(…) Estou me referindo à sua amável assistência para resolver isso. Nós temos enfrentado de nosso lado todo tipo de constrangimento de pessoas que confiaram no nosso comprometimento em Copenhague. Por favor, me dê uma posição final e oficial a respeito de como podemos resolver esse assunto com a satisfação de todas as partes. Por favor aceite as desculpas e mensagem de amizade do meu pai [Lamine Diack]. Eu tenho notado a bondade e diligência da Sra. Maria Pedroso que tem se comunicado comigo quase toda semana”, escreveu.

Nuzman já havia sido allvo da Lava-Jato no Rio há exatamente um mês, em operação que investigava a compra de votos para a eleição do Rio como sede dos Jogos Olímpicos 2016. O presidente do COB é suspeito de intermediar a negociata com membros africanos em prol da sede carioca. O Ministério Público Federal vê “fortes indícios” de sua participação no esquema. Ele foi intimado a depor.

Ex-jogador de vôlei com participação nos Jogos Olímpicos de 1964, Nuzman é o ex-atleta que chegou mais longe na carreira de dirigente esportivo no Brasil, e um dos melhores exemplos de cartolas que se perpetuam nos cargos.

Ainda em 1975, foi eleito pela primeira vez presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), entidade que comandou durante duas décadas. Em 1995, alçou voo para assumir o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que preside há 22 anos, sendo reeleito cinco vezes sempre com apoio praticamente unânime dos presidentes das confederações das modalidades olímpicas do país.

Sob seu mandato no esporte olímpico, o Brasil foi derrotado na candidatura a sediar os Jogos de 2004, promoveu os Jogos Pan-Americanos de 2007 e, no ano passado, os Jogos Olímpicos.

Tanto nos Pan-2006 quanto nas Olimpíadas do ano passado, Nuzman acumulou os cargos de presidente do COB e do Comitê Organizador (Co-Rio-2016) do evento, algo inusual em outras edições dos Jogos.

O acúmulo de funções chegou a ser contestado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que avaliou existir conflito de interesses, uma vez que o COB recebia repasse de verbas do comitê.

 

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