PSDB, volúvel ou solúvel?

*Pedro Luiz Rodrigues

O PSDB vai aos poucos perdendo o lustro e a respeitabilidade que até há não muito representaram sua marca registrada. De concessão em concessão, de trapalhada em trapalhada, a agremiação vai decepcionando afiliados e simpatizantes, dessa maneira abalando os alicerces de sua própria vitalidade eleitoral.
Se deixarmos de lado as diferenças ideológicas, a agremiação parece enveredar por curso similar ao do Partido dos Trabalhadores. Ao se distanciar dos princípios éticos e de conduta que foram sua bandeira até a chegada ao poder, o PT – sob o pretexto do realismo político – não apenas decepcionou adeptos e aderentes, mas sepultou em cova profunda a aura de respeitabilidade que antes exibia.
Se não fosse pelo mínimo de amálgama que ainda lhes trazem seus líderes indiscutíveis (FHC, num caso, Lula, no outro), as duas agremiações já teriam se dissolvido na grande sopa em que se transformou a política brasileira.
O PSDB, hoje, é lamentável constatar, não passa de uma caricatura de si mesmo. O personalismo, embora natural no jogo de forças interno dos partidos, chega ao paroxismo. Agrava o quadro a situação do ex-candidato do partido à Presidência da República, o senador Aécio Neves.
As disputas internas estão conduzindo a atritos; há um jogo de capoeira – às vezes parece dança, às vezes parece briga – na base paulista, entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Dória. Outras lideranças partidárias tradicionais perdem em visibilidade e capacidade de articulação, como é o caso dos senadores José Serra e Aloysio Nunes.
A segunda denúncia contra o Presidente Michel Temer, que já está na Câmara, poderá ampliar ainda mais as divisões na família pemedebista. Na votação da primeira denúncia, no início de agosto, 47 deputados do PSBD, 21 votaram contra o Presidente da República. Esses números refletem o racha que hoje prevalece entre o presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati e o comando paulista do partido.
Arthur Virgílio Neto, um dos fundadores do PSDB e hoje prefeito de Manaus, diz que seu partido tenderá a se dissolver se não houver prévias presidenciais: “Tem gente que perde a indicação e depois não morre de entusiasmo em apoiar o escolhido. Não conseguimos falar uma linguagem que unifique o Brasil. Quem ganhar prévia sairá legitimado. Seria uma leviandade de último grau de quem perder ir para outro partido”.
Arthur Virgílio apresentou-se anteontem como pré-candidato do partido à Presidência da República em 2018. Ele se considera mais competitivo do que João Doria ou Geraldo Alckmin.

*Pedro Luiz Rodrigues, diplomata e jornalista, foi embaixador do Brasil na Nigéria.

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