A educação no fundo do poço!

*Nelson Valente

Estamos vivendo tempos sombrios em matéria de qualidade do ensino, em nosso país, especialmente se considerarmos a educação pública. Os resultados são catastróficos. Houve queda no desempenho em matemática. Na redação foi pior ainda. Vamos caminhando para o fundo do poço. Ou seja, são estudantes que concluíram o ensino médio, sabe-se lá Deus como, mas padecem dos males do analfabetismo funcional. São incapazes de raciocínios elementares. O que se pode esperar dessa geração?
Com se vê, há problemas em todas as frentes. A educação básica cresceu em números, é certo, mas não corresponde às expectativas no que tange qualidade. Enquanto se discute o sexo dos anjos, os resultados concretos estão aí, diante de todos, mostrando que há um longo caminho a ser percorrido.
O curioso é que pouco se fala na formação e no aperfeiçoamento dos professores, em todo esse processo. Temos quase 3 milhões deles, no Brasil inteiro, mas é sabido que a qualidade do que se ministra nos cursos de magistério deixa muita a desejar. Temos que melhorar os cursos de preparação dos professores, na dupla condição de conteúdos mais adequados e uma presente interatividade, palavra que pode enriquecer, e muito, o que se passa hoje em sala de aula. Para acabar com essa vergonha, só uma ampla reforma.
Toda vez que se aborda um plano de governo, em que nível, surge a expressão qualidade do ensino. Uma tristeza! Verifica-se que tudo é de uma lentidão irritante.
Uma pergunta se impõe: alguém do governo terá coragem, diante desse quadro, de falar nas perspectivas do Ensino Médio? O que funciona há mais de 60 anos está sendo destruído. Com professores desmotivados, na verdade, a perspectiva é rala. Mais uma esperança que se esvai, no esgotado espírito do sofrido magistério brasileiro.
É preciso ensinar o professor a caminhar sozinho. Se não tiver uma atualização permanente (e haja tempo para isso), o professor perderá a batalha da eficiência.
Se é verdade que o homem só se torna homem pela educação, todos devemos estar empenhados na sua melhoria.
A educação brasileira vive um tempo curioso, para não dizer exótico. As novidades se sucedem – e o ensino está cada vez pior.
Em conversa com o professor Arnaldo Niskier (membro da Academia Brasileira de Letras) e dele recolho o espanto com que recebeu a notícia de que determinadas “instituições de ensino superior”, recomendou aos seus professores que não tirassem pontos dos alunos que escrevessem errado. Ou seja, ninguém deve dar bola para a gramática e a ortografia.
Segundo uma confortável versão, quem se preocupa com essas coisas “é a burguesia”. Particularmente, esgotei a minha capacidade de espanto diante de tais barbaridades. Se o aluno toma conhecimento dessa estranha orientação, de que forma terá estímulo para demonstrar apreço pela língua portuguesa?
Ao mesmo tempo em que isso ocorre especialista em educação apontam erros mais frequentes anotados nas provas dos acadêmicos:
1. Falta de adequada ordenação de ideias, o que prova não ter o aluno o hábito de escrever; 2. Falta coerência e coesão nos textos; 3. Inadequação ao tema proposto (por falta de familiaridade com o tema indicado, o aluno foge para outro mais confortável); 4. Dificuldade em estruturação de parágrafos; 5. Erros de concordância nos tempos verbais, fragmentação da frase, separando sujeito do predicado por vírgula, utilização equivocada de verbos e pronomes, o que em alguns casos leva até a prejudicar a compreensão do texto.
Se isso é verdade no texto das redações, é fácil imaginar o que ocorre quando o indivíduo se expressa verbalmente, em que as agressões ao vernáculo doem em nossos ouvidos.
Se os alunos têm dificuldades de escrever e expor com clareza suas ideias é porque sua cota de informação e leitura é mínima, para não dizer inexistente.
Tenho insistido na vergonha em que se constitui a nossa taxa anual de leitura: menos de dois livros por pessoa, o que nos coloca muito longe das nações mais desenvolvidas.
Além disso, há o desprezo pelas regras gramaticais e ortográficas, como se houvesse um desejo recôndito de prestigiar a ignorância. Não se quer exagerar os cuidados com a norma culta da língua, mas por que valorizar o linguajar sem regras?
A educação não existe exatamente para conduzir os alunos ao aprendizado?
A ser verdade o que foi proclamado por tais “instituições de ensino superior”, ninguém mais poderia ser escritor, dando asas à imaginação. Só se poderia escrever sobre vivências claras, com o evidente abandono de tudo o que pudesse privilegiar a criatividade.
A educação brasileira precisa ser urgentemente repensada, no bojo de uma grande reforma social. Mas enquanto as questões mais simples não forem devidamente resolvidas pela “burocracia governamental” parece que continuamos na firme disposição de enfrentar os grandes problemas educacionais através do discurso bonito, inflamado, sem consistência.

*Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor.

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