Brasil registra oito desaparecimentos por hora nos últimos dez anos

Mãe de Luciane Torres da Silva, que desapareceu em 30 de agosto de 2009, em Nova Iguaçu, a dona de casa Luciene Torres acredita que a filha esteja viva
Ivan Teixeira / Jornal de Hoje

Mãe de Luciane Torres da Silva, que desapareceu em 30 de agosto de 2009, no Km 32, em Nova Iguaçu, a dona de casa Luciene Torres, 52, acredita que a filha esteja viva. A menina saiu de casa para comprar pão numa padaria próximo de casa e nunca mais voltou. Na época, um suspeito de raptar a criança, então com 9 anos, foi detido, mas liberado dias depois por falta de provas. Luciane é uma das 693.076 boletins de ocorrência registrados por desaparecimento no Brasil de 2007 a 2016, segundo dados inéditos compilados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em estudo feito a pedido do Comitê internacional da Cruz Vermelha. Em média, 190 pessoas desapareceram por dia nos últimos dez anos, oito por hora. É a primeira vez que dados de desaparecimento estão presentes no anuário de violência do Fórum. Só no ano passado, 71.796 desaparecimentos foram registrados.
Em números absolutos, São Paulo lidera as estatísticas, com 242.568 registros de desaparecimentos de 2007 a 2016, seguido por Rio Grande do Sul, com 91.469, e Rio de Janeiro, com 58.365. Acre, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná e Roraima não passaram os dados completos de todos os últimos dez anos.
Se formos levar em conta a taxa, Distrito Federal concentra o maior número de registros: 106 por 100 mil habitantes. E a razão é bastante simples: embora não registre um número maior de desaparecidos do que os outros estados, a unidade da federação tem um banco de informações que interliga os órgãos, como hospitais, asilos, institutos médicos legais, serviços de verificação de óbito, entre outros, considerado por especialistas um ponto-chave para entender e combater o desaparecimento no país.
“As pessoas estão desaparecendo, e não há uma preocupação em cruzar os dados. Uma pessoa registrada como desaparecida pode aparecer em outro boletim de ocorrência como morte decorrente de intervenção policial, mas esse dado não é cruzado e não se chega à conclusão de que ela foi encontrada morta, por exemplo”, diz Olaya Hanashiro, consultora sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Ninguém estava olhando para esse fenômeno para além do período da ditadura militar. E o desaparecimento não deixou de ocorrer no cotidiano da população”, completa.

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