Uma semana depois de enterrar o coronel Luiz Gustavo Teixeira, comandante do 3º BPM (Méier), a família do oficial voltou, nesta quinta-feira, ao cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Era Dia de Finados, dia de tristeza, de saudade, e, segundo a viúva do oficial, Kesia Teixeira, de 46 anos, também de indignação. Ela disse que pretende tomar medidas judiciais contra o ministro da Justiça, Torquato Jardim, que afirmou estar convencido de que Teixeira foi vítima de “um acerto de contas”, apesar de a investigação do caso, a cargo da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, apontar que o coronel foi morto durante uma tentativa de assalto. Além disso, Torquato acusou os comandantes de batalhões do Rio de serem “sócios do crime organizado”.
“Como um ministro da Justiça fala coisas tão graves contra um chefe de família que foi morto no exercício de sua profissão? A situação chegou a um nível tão absurdo que não pude mais me manter em silêncio, porque esse senhor não atacou apenas a honra do meu marido. Ele atacou uma família inteira, que vive a mesma dificuldade do restante da população do Rio. Já estamos avaliando as medidas judiciais que tomaremos”, disse Kesia, que foi casada por 20 anos com o policial militar.
Nem todos os parentes de Teixeira foram nesta quinta-feira ao cemitério. O filho mais novo, que tem 12 anos, ficou em casa. Ele ainda não conseguiu voltar a estudar, e, segundo a mãe, chora compulsivamente. Kesia afirmou que as declarações de Torquato o deixaram ainda mais deprimido.
“Para uma autoridade falar que meu marido foi executado, precisa provar. Meu filho ficou muito nervoso com tudo isso, e eu estou desesperada. Imagine seu filho entrar no colégio e saber por um colega o que o ministro falou? Saber que se referiu ao pai dele como sócio do crime organizado? Isso é uma dor difícil de sair do coração”, desabafou a viúva.
Filha mais velha do comandante, Carolina Teixeira, de 17 anos, que está no 3º ano do ensino médio, não conteve a emoção ao abordar o assunto.
“Esse ministro falou coisas muito duras. O que posso afirmar é que perdi um exemplo de pai, de homem, de chefe de família e de policial militar. Meu pai sempre foi um comandante ativo, que tentava integrar a comunidade à PM. Era um homem que lutava pela corporação, que fazia de tudo para tentar suprir a falta de homens em seu batalhão”, disse a adolescente, chorando. — Sócio do crime organizado? A gente mora no Méier, num apartamento financiado. Meu pai botou filho em escola pública, e se doava intensamente ao trabalho. Comprou tinta com dinheiro do próprio bolso para pintar o prédio do batalhão. Morreu fardado, ao contrário do que o ministro declarou (Torquato havia dito que “ninguém assalta dando dezenas de tiros em cima de um coronel à paisana”).
Teixeira foi assassinado na Rua Lins de Vasconcelos, no bairro de mesmo nome, após participar de um evento oficial no Leblon. No momento do crime, estava em um carro dirigido pelo cabo Nei Vilas Bastos Filho, que sacou uma pistola ao ver quatro homens armados saírem de um outro veículo, que parou à frente. Houve um intenso tiroteio, e o coronel foi atingido no peito. O praça levou um tiro na perna esquerda, e os bandidos fugiram. Dois deles já foram identificados pela polícia e estão foragidos.
Ao levantar suspeitas sobre a morte do oficial, Torquato Jardim também fez várias acusações contra o governo do estado, que, segundo ele, não controla a corrupção na Polícia Militar. Ele disse ainda que o comando da corporação “decorre de acerto com deputado estadual e o crime organizado”. Suas declarações abriram uma crise nas relações entre o Palácio Guanabara e a União, que vêm tentando unir esforços para combater a violência no Rio. Um dos motivos de preocupação é o grande número de PMs assassinados este ano: já são 114.
“Luiz falava que já não aguentava mais vir ao Jardim da Saudade para enterrar colegas. Desta vez, a violência, que sempre passou de fininho, acabou atingindo minha família com tudo”, lamentou o músico Cláudio Teixeira, irmão mais velho do coronel morto no Lins.