Livro traz à tona segredos de Roberto Jefferson

Jornalista Cássio Bruno conta detalhes da vida do ex-deputado que denunciou o mensalão

“O Roberto tem boas histórias fora do Congresso. Eu escrevi tudo o que quis, sem nenhuma interferência dele!, diz o autor

Roberto Jefferson – O Homem que Abalou a República. Este é o nome do livro que traz revelações sobre a vida ex-deputado que denunciou o mensalão. A biografia não autorizada é de autoria do jornalista mesquitense Cássio Bruno Gonçalves, que iniciou sua carreira da redação do JORNAL DE HOJE, por onde passou nos anos 2000. Agora, prestes a completar 38 anos (nasceu em 28 de novembro de 1979), Cássio Bruno lançará seu livro, pela Editora Record, na próxima sexta-feira (17), na Livraria da Travessa, na Rua Visconde de Pirajará, 572, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro.
A experiência adquirida no JORNAL DE HOJE alavancou a carreira de Cássio Bruno, que teve passagem por O Dia e O Globo, no qual permaneceu por mais de uma década, boa parte na cobertura política. Colaborou ainda para a revista Veja e para o site G1. Em 2008 venceu o 10° Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “A ditadura nas favelas”, publicada em O Globo. Em 2010, conquistou o VI Prêmio de Jornalismo, promovido pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), na categoria Nacional Impresso, pela série de reportagens “Relações perigosas”, também publicada em O Globo. No mesmo ano, foi finalista do Prêmio Esso de Jornalismo. Cássio Bruno é casado e tem uma filha.

 

>> Por que você decidiu escrever um livro sobre o Roberto Jefferson?

Ele é um baita personagem do ponto de vista jornalístico. Além de ser um político polêmico, o Roberto tem boas histórias fora do Congresso Nacional. Mas o mais importante é o seguinte: o mensalão criou precedentes no combate à corrupção no Brasil. Abriu caminho para a Operação Lava Jato. Até estourar o mensalão, em 2005, e, depois, no julgamento dos denunciados, em 2012, os brasileiros nunca tinham visto gente poderosa da República e do Congresso ir, de fato, para a cadeia. O Roberto foi um dos protagonistas de tudo isso.

>> Por que a biografia é classificada como “não autorizada”?

Porque o Roberto Jefferson, em nenhum momento, teve acesso ao conteúdo do livro antes do texto original seguir para a editora. Eu escrevi tudo o que quis, sem nenhuma interferência dele. Ou seja: o trabalho foi jornalístico, mesmo após o Roberto ter aceitado dar entrevista para o livro.

>> Então não é um livro chapa-branca?

É jornalismo investigativo! Sem chapa-branca. Com bastidores de um escândalo de corrupção, com pitadas de História do Brasil, entre outros fatos. O Roberto Jefferson nada tem a ver com o texto do livro. Pelo contrário. Ele só vai ler quando estiver à venda nas livrarias. É provável que o Roberto não goste do resultado final já que não é um livro de exaltação da carreira dele.

>> Foi difícil o trabalho de apuração do livro?

Foram dois anos e meio dedicados exclusivamente à apuração. Isso sem contar os outros anos a mais dedicados à cobertura relacionada ao Roberto Jefferson que fiz para “O Globo”, jornal ao qual fui repórter por mais de uma década. Dediquei-me um ano inteiro somente para fazer pesquisas, ler livros e reportagens sobre a vida do Roberto e de todo o cenário político em volta dele.

>> Quem você entrevistou?

Entrevistei 82 pessoas, em ON e em OFF, em vários estados do país, incluindo familiares, amigos, vizinhos, políticos aliados e adversários, cientistas políticos, peritos criminais, pesquisadores, jornalistas, advogados, médicos, delegados, agentes penitenciários, diretores de presídios, apresentadores de televisão, músicos, motociclistas, integrantes de CPIs e personagens envolvidos diretamente no processo do mensalão. Tive acesso também a centenas de depoimentos oficiais, processos, depoimentos à Justiça, projetos de lei e discursos, além de livros publicados cujos temas tinham a ver com o personagem.

>> Em algum momento você temeu pela sua segurança pessoal e da sua família?

Não temi por minha segurança e nem da família. Mas recebi ameaças de ser processado durante a apuração. Uma das ameaças foi da diretora do presídio onde o Roberto Jefferson ficou preso, em Niterói. No livro, eu conto as regalias dele na prisão. Quando fui ouvi-la para dar a versão dela no livro, a diretora me ameaçou.

>> Como surgiu a ideia do livro? 

Surgiu numa tarde em um dos intermináveis plantões que eu fiz em frente à casa do Roberto Jefferson, em Comendador Levy Gasparian, ex-distrito de Areal, no interior do Rio. Eu estava sentado na calçada esperando uma aparição do ex-deputado para entrevistá-lo antes dele ser preso pela Polícia Federal. Fiz plantão por pelo menos três meses. Jefferson foi o último dos condenados do mensalão a ir para a cadeia.

>> Quais são as novidades do livro?

As regalias que o Roberto Jefferson recebeu na cadeia são um dos atrativos da obra, como visitas irregulares e até doação de dinheiro para o churrasco dos carcereiros, entre outros casos. Eu conto tudo o que aconteceu lá dentro. Eu também consegui com exclusividade 24 cartas que ele escreveu à mão de dentro da prisão para o pai e a mãe. Por isso, muita coisa até então desconhecida do público vem à tona só agora. Publiquei a integra de todas essas cartas no livro. O Roberto não sabe que eu consegui as cartas. Saberá quando ler o livro.

>> Alguma novidade sobre os bastidores do mensalão?

Roberto Jefferson quis matar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, seu maior inimigo político. O próprio Roberto confessou para mim na entrevista para o livro. O Dirceu, aliás, também deu entrevista para o livro. Mas tudo isso é surpresa. Tem que ler o livro.

>> E a história do olho roxo?

Eu também conto o bastidor desse episódio. Naquela noite, às vésperas de um de seus depoimentos às CPIs, havia uma pessoa, até então desconhecida do público, no apartamento funcional dele em Brasília, embora o Roberto até hoje negue. Eu conto tudo, mas deixo para o leitor tirar a própria conclusão dessa história do olho roxo.

>> Roberto Jefferson: herói ou vilão?

A conclusão será do leitor. Não faço juízo de valor. Eu conto apenas as histórias. O trabalho do repórter é esse. Reportar as informações, sem emitir opinião. Mas, claro, ninguém é ingênuo. O Roberto foi um político corrupto. Ele foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal, condenado e preso acusado de corrupção. Por que o Roberto decidiu denunciar o mensalão? No livro, eu conto todos os detalhes da decisão. Adianto que não foi por amor à pátria.

O que mais você aborda no livro? 

Escrevi os detalhes inéditos sobre a descoberta, o tratamento e a cura do tumor no pâncreas e de outras doenças que o Roberto teve ao longo da vida. Eu também conto bastidores da época em que ele era da tropa de choque de o ex-presidente Collor, no impeachment, e quando ele era advogado de bicheiros do Rio. Revelo a paixão dele pelo motociclismo, pela música e, claro, pelo tiro ao alvo. Roberto é colecionador de armas e facas. Andava armado no Congresso.

Ele trabalhou na televisão? 

Sim. Conto um pouco da história da TV brasileira. Jefferson foi funcionário do SBT e integrou um dos programas populares de maior audiência do país nos anos de 1980: O Povo na TV. Foi a partir desse programa que ele ficou conhecido no estado do Rio e conseguiu se eleger pela primeira vez como deputado federal.

Quando será o lançamento?

Dia 17 de novembro, às 19h, na Livraria da Travessa, em Ipanema. O livro não foi escrito para jornalistas que cobrem política em Brasília. Esse não foi o objetivo do projeto. A ideia é que o público em geral tenha noção de como foi o período antes, durante e depois do mensalão, de forma didática. O livro tem muitos bastidores, curiosidades e furos jornalísticos.

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