As voltas que o mundo dá

Gilvan de Souza/Flamengo

A vida costuma nos reservar grandes surpresas. Incríveis coincidências, reencontros marcantes e até mesmo chances de dar a volta por cima. Este último exemplo, aliás, parece mesmo ser o destino do goleiro Alex Muralha, do Flamengo. Ele, que chegou ao clube na temporada passada, não demorou a assumir a titularidade da equipe, e foi além do que muitos imaginavam com a convocação para a seleção brasileira.
Mas 2017 foi um ano de pesadelo para Muralha. O goleiro falhou contra o Atlético-PR, na Libertadores, e levou gol nos acréscimos contra o San Lorenzo, que custou a classificação às oitavas-de-final da competição. Os resultados pesaram, e Muralha voltou a falhar no Brasileirão até que, pressionada pela torcida, a diretoria contratou o experiente Diego Alves.
O novo titular absoluto, no entanto, não chegou ao clube a tempo de ser inscrito na Copa do Brasil, e o Flamengo se viu obrigado a confiar, mais uma vez, em Muralha. Mas a falha contra o Paraná e o fato de não ter defendido nenhum pênalti no duelo pela Primeira Liga fizeram com que o arqueiro perdesse a posição de titular para o jovem Thiago, cria da base rubro-negra.
O goleiro de 20 anos foi o escolhido para começar o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, contra o Cruzeiro, no Maracanã, mas falhou feio no gol de Arrascaeta, que empatou em 1 a 1 o duelo. Imprensa e torcida se perguntavam quem seria escalado como titular no jogo da volta, no Mineirão, mas Thiago sofreu lesão no punho.
Sem Diego Alves, que chegou ao Flamengo após o prazo de inscrição, e Thiago, machucado, Alex Muralha viu a oportunidade de dar a volta por cima e reconquistar a confiança do torcedor. O novo empate, desta vez sem gols, levou a decisão para os pênaltis. Parecia um roteiro de cinema em que o vilão se transformaria em mocinho e terminaria como herói. Parecia.
Muralha pulou em todas as cinco cobranças do Cruzeiro para seu lado direito e não defendeu nenhuma. O Flamengo ficou com o vice-campeonato da Copa do Brasil. A torcida, mais uma vez, não perdoou e escolheu o goleiro como responsável pela derrota.
Desde aquela partida, no dia 27 de setembro, Muralha não voltou mais a atuar como titular do Flamengo, mas esteve sempre no banco de reservas, como suplente de Diego Alves no Brasileiro e na Sul-Americana, competição em que o Flamengo avançou à semifinal após passar por Chapecoense e Fluminense.
Após tantas falhas e grande pressão da torcida, parecia que Muralha jamais voltaria a entrar em campo pelo Flamengo. Parecia. No primeiro jogo da semifinal, contra o Junior Barranquilla, no Maracanã, Muralha substituiu Diego Alves, que deixou o gramado após forte choque com o adversário.
Torcedores entraram em pânico ao verem que Muralha iria para o jogo, mas demonstraram apoio e gritaram seu nome. Para azar do goleiro, ele foi vazado menos de um minuto após entrar em campo. Não houve falha, mas a bola era defensável.
No fim de semana, pelo Brasileirão, Muralha falhou gravemente nos dois gols que deram a vitória ao Santos por 2 a 1. No primeiro lance ele perdeu a bola para Ricardo Oliveira ao tentar driblar o atacante dentro da área. Foi o suficiente para que todo o apoio do torcedor se transformasse em vaias e muitos xingamentos.
Hoje o Flamengo faz o jogo da volta contra o Junior Barranquilla, na Colômbia, e a pergunta que não quer calar é: Muralha será titular na partida que vale vaga na final da Sul-Americana? Será que o goleiro ainda tem forças para enfrentar todo o descontentamento do torcedor e fazer um jogo seguro?
Depois de um ano cheio de falhas e insegurança, esta poderá ser a última oportunidade de Muralha reescrever sua história com a camisa do Flamengo. Como num filme de drama e suspense, o goleiro terá a chance de ter um final feliz e mostrar a quem não acredita em seu potencial que o mundo dá voltas e que é possível superar as adversidades.

*Raphael Bittencourt (jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Editor do Jornal de Hoje)

error: Conteúdo protegido !!