Baleada no Alemão atingida por tiro de fuzil está em estado grave

Airton, marido de Karolyne, inconsolável na porta do Miguel Couto em meio a orações de parentes pela saúde da jovem

Grávida de cinco meses, a jovem Karolayne Nunes de Almeida Alves, de 19 anos, foi baleada na noite do último sábado no Complexo do Alemão, na Zona Norte, e acabou perdendo o bebê. A informação é de parentes e amigos. Um único disparo atingiu o seu braço e sua barriga. Karolayne foi levada para o Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, e até a noite de domingo permanecia em coma. Seu estado de saúde é considerado muito grave. O caso aconteceu quase seis meses depois da tragédia com o bebê Arthur que chocou o país.

A jovem passava de carro pela localidade da Birosca, na Fazendinha, por volta das 21h, quando foi atingida. Identificado apenas como Airton, o marido de Karolayne, que dirigia o veículo, contou aos familiares que um bandido passou de moto pelo casal e atirou para o alto. Em seguida, policiais militares teriam feito disparos em direção ao criminoso. Nesse momento, a gestante acabou baleada. De acordo com a família, o tiro que atingiu a jovem foi de fuzil. O casal tinha ido até a comunidade para fazer um lanche, e não morava no Alemão, onde tem parentes.

Na porta do Hospital Miguel Couto, Airton não quis falar com a imprensa. A assessoria das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) informou que não houve nenhuma troca de tiros no fim de semana na localidade envolvendo PMs e que a unidade da Fazendinha também “não foi acionada para qualquer intervenção no ocorrido”. A assessoria de imprensa da PM afirmou que outras unidades da corporação também não fizeram nenhuma operação na favela na noite do último sábado.

Karolayne e Airton são recém-casados e moram no Engenho da Rainha, a pouco mais de dois quilômetros do Alemão. A jovem esperava uma menina, primeiro filho do casal, e ainda não tinha decidido se o nome seria Rebeca ou Juliana. Parentes e amigos do casal fizeram uma oração na porta do hospital. Eles pediram pela recuperação de Karolayne. A grávida chegou a passar por uma cirurgia na madrugada de domingo e entrou em coma logo em seguida.

O carro do casal, um gol preto, foi levado para a 44ª DP (Inhaúma), onde passou por uma perícia. O veículo tinha, ao menos, três marcas de tiros na lataria. O vidro traseiro também foi atingido e ficou todo estilhaçado. Dentro do carro, nos bancos, havia ainda pelo menos cinco marcas de disparos. A investigação será transferida para a 45ª DP (Complexo do Alemão).

Questionada sobre os motivos de a grávida ter sido levada para uma unidade de saúde distante 20 quilômetros do local do crime, a Secretaria municipal de Saúde respondeu que o Hospital municipal Miguel Couto “disponibilizava de equipe de plantão e recursos de suporte à vida de forma imediata para o caso” no momento da solicitação de atendimento.

Ainda de acordo com o órgão, Karolayne passou primeiro pela Policlínica Rodolpho Rocco, em Del Castinho, e depois foi transferida pela Central de Regulação para o Miguel Couto. “A paciente recebeu todos os cuidados necessários para seu quadro clínico no momento da transferência”, acrescentou a nota da secretaria, que não confirmou a morte do bebê, dizendo que essas informações estavam sendo passadas para a família da paciente.

 

História do bebê Arthur comoveu o país

 

Em 30 de junho deste ano, a atendente de mercado Claudineia dos Santos, de 29 anos, foi atingida por um tiro na Favela do Lixão, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, durante um confronto entre policiais e traficantes. A bala acertou o útero da vítima e passou de raspão pela cabeça do filho que a mulher, grávida, esperava: feriu uma das orelhas, a clavícula, os dois pulmões e a coluna cervical do menino. Internada para uma cesariana de emergência, Claudineia deu à luz e ganhou a torcida de milhares de pessoas na internet, que vibravam a cada vitória do bebê Arthur na maternidade.

Para driblar uma possível paraplegia, o recém-nascido passou por uma delicada operação na coluna vertebral, no Hospital estadual Adão Pereira Nunes. “Vejo essa história toda como um milagre”, disse a mãe do menino à época. Esperançosa, ela ainda conseguiu alimentar o filho no hospital. Algumas imagens do encontro emocionante chegaram a ser veiculadas no “Fantástico”, da TV Globo. Apesar dos esforços da equipe médica, entretanto, o pequeno Arthur não resistiu. Em decorrência de uma hemorragia digestiva intensa, o bebê morreu exatamente 30 dias após ser baleado dentro da barriga da mãe na Favela do Lixão.

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