Porta-voz da PM usa nome do Bope para vender evento com aulas de resgate e arremesso de faca

Todos têm a caveira tatuada como símbolo do Bope

No momento em que a segurança pública do estado vive sua maior crise, a marca mais famosa da Polícia Militar do Rio, o Bope, serve para que dois oficiais da corporação, um deles relações-públicas da própria PM, vendam treinamento para civis. A programação do evento, sob responsabilidade da empresa Skull Experience e coordenado pelos majores Ivan Souza Blaz Junior, porta-voz da Polícia Militar, e Luciano Pedro Barbosa da Silva, apontado no anúncio como subcomandante do Batalhão de Operações Especiais, o Bope, inclui atividades como resgate de feridos, interrogatório, granada, arremesso de faca e até arco e flecha, tudo parte da chamada “Experiência do Bope”.

Mais uma imagem reproduzida do site da Skull Experience Foto: Reprodução

Para participar do curso que carrega a sigla da tropa de elite e tem os dois oficiais como instrutores principais, é preciso desembolsar pelo menos R$ 999 por três dias de atividades, de 8 a 10 de dezembro. O preço é para dois adultos, e crianças de até 11 anos não pagam — já a acomodação tripla sai a R$ 1.569, parceláveis em até 12 vezes.

Em seu perfil numa rede social para assuntos profissionais, Blaz conta que criou a SK EX Gestão e Aceleração de Equipes “com meu irmão de Operações Especiais, Luciano Pedro”. Atualmente, segue o texto, “a Skull Experience oferece um evento composto por palestra e atividade de campo, traçando um paralelo entre a ação de Operações Especiais e o mundo corporativo”, em um processo batizado de “imersão no universo caveira”.

Procurados, os oficiais afirmaram que só a PM se manifestaria. A assessoria de imprensa da corporação, porém, informou que “não foi possível falar com o comandante-geral (coronel Wolney Dias)”,

Militar não pode ser gestor de empresa

De acordo com o advogado criminalista Fabrício de Oliveira, do escritório Oliveira Campos & Giori Advogados, militares podem ser acionistas de uma empresa, desde que não sejam administradores da mesma. O oficial que descumpre a norma comete crime previsto no artigo 204 do Código Penal Militar. Já o Estatuto dos Militares, no artigo 29, prevê sanção administrativa para oficiais e praças que não seguem a regra.

“Ele (militar) só pode participar como acionista. Não pode ter funções gerenciais e participar da gestão, por exemplo — explicou.

Com o nome SK EX Gestão e Aceleração de Equipes, que o major Blaz cita em seu perfil de uma rede social, não é possível encontrar CNPJ ou composição societária da empresa. Fontes ouvidas pelo EXTRA afirmam, no entanto, que ainda que o militar não conste oficialmente como sócio, se for comprovado que tem cargo de gerenciamento pode ser punido criminal e administrativamente.

No site da Skull Experience, no campo “Onde nos encontrar” é informado um endereço na Barra da Tijuca. Já o major Luciano Pedro Barbosa da Silva aparece como responsável por registrar o domínio da página na internet em site onde é possível ver tal dado. O e-mail de Blaz, no entanto, é o que aparece como principal contato no registro.

O pacote, vendido numa parceria com o site “Hotel Urbano”, inclui hospedagem em um resort de luxo em Búzios, na Região dos Lagos, com alimentação completa, kit de boas-vindas (mochila, boné, camisa, caneta e chocolate, entre outros mimos).

Apresentação exclusiva

O evento conta com uma “apresentação exclusiva” do cantor Egypcio, ex-integrante do Tihuana, banda que ficou famosa com o tema do filme “Tropa de Elite” — aquela música do refrão-chiclete “Tropa de Elite, osso duro de roer”. A página da Skull Experience resume assim o fim de semana: “O evento de aventura operacional que você esperava –

Num vídeo feito durante uma palestra da Skull Experience e postado no Instagram da empresa, o major Blaz aponta para a plateia e grita: “Vocês são caveiras, senhoras e senhores!”.

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