‘Golpe do lixo’ aconteceu para impedir o Zito governador

“Foi triste ver minha cidade cheia de lixo. Chorei. Chorei muitas vezes, aqui em casa, ao descobri que aquilo era um golpe político para não me deixar crescer”, disse Zito ao Jornal de Hoje

Ele foi carroceiro, melhorou de vida e comprou uma bicicleta e depois uma ‘mobilete’. Também trabalhou como auxiliar de laboratório e foi dono de clube de bailes, o Zito’s Clube, comprou uma motocicleta CB 900 e foi guarda municipal. Com o serviço de carroceiro, o pernambucano da cidade de Paulista, José Camilo Zito dos Santos, 65 anos, que chegou a Duque de Caxias com um ano de idade, ajudava muita gente. Pensando assim, entendeu que se ingressasse na política, poderia ajudar muito mais pessoas e de forma mais abrangente. Foi eleito vereador pelo PTR em 1988, em Duque de Caxias, e não parou mais. Este ano de 2017 completou 30 anos de vida pública, com oito mandados, sendo dois de vereador, três de prefeito e três de deputado estadual. Sua vida foi marcada por muito trabalho, muitas vitórias e muito sucesso, prestígio político.
Tanto que em 2000 se reelegeu prefeito com mais de 90% dos votos da cidade e ainda influenciou, com sua imagem de bom administrador, as eleições de sua então mulher (Narriman) a prefeita de Magé, e do seu irmão (Waldir) a prefeito de Belford Roxo. E ainda sobrou prestígio para eleger sua filha (Andréia Zito) a deputada estadual e depois a federal. Destacado como a maior liderança política da região, chegou a ser chamado de “Rei da Baixada” e “Rei do Voto” pela mídia carioca. Entretanto, essa caminhada de sucesso e vitórias, alegrias, teve também muita tristeza e uma implacável perseguição política. “Alegria, quando a gente entrava em um restaurante e as pessoas aplaudiam”, lembra. Também tristeza e lágrimas. “Foi triste ver minha cidade cheia de lixo. Chorei. Chorei muitas vezes, aqui em casa, ao descobri que aquilo era um golpe político para não me deixar crescer”, comenta.
Naquela ocasião, o nome de Zito havia se tornado o mais forte para disputar as eleições para governador do estado. Ele era ligado ao grupo político de Marcelo Alencar e tinha sérias divergências com o ‘pelotão’ de Sérgio Cabral. De bermuda e chinelos, entre cafezinho e água, ele recebeu a equipe do Jornal de Hoje em sua gigantesca casa, sem requintes de luxo, mas bastante confortável. E nesta entrevista, Zito conta detalhes de sua carreira política, das perseguições e calúnias, e do sonho de voltar a governar a cidade.

>> JORNAL DE HOJE – Com tantos mandatos, o senhor se considera um homem rico ou pobre?

>> Zito – Melhorei de vida. Fui carroceiro, andava de bicicleta, comprei uma mobilete, depois uma motocicleta CB 900. Hoje não posso ter o carro que quiser. Tenho um Prada (Toyota) ano 2009. Nasci em 15 de outubro de 1952, mas meu pai me registrou em 14 de dezembro. Naquela época, quem era registrado nesta data, ganhava um dinheiro bom. Eu nasci ganhando dinheiro… Fui eleito vereador em 1988, reeleito em 1992, sendo presidente da Câmara. Em 1994 foi eleito deputado estadual. Em 1996, prefeito de Duque de Caxias. Reeleito prefeito em 2000. Em 2006, deputado estadual com mais de 200 mil votos. Eleito prefeito, pela terceira vez em 2008 (com 53.34% dos votos). Retornei à Assembleia Legislativa, pela terceira vez, em 2014, com 24 mil votos.

>> Em 2012, quando disputou a prefeitura de Duque de Caxias, mais uma vez, o senhor foi derrotado pelo lixo acumulado na cidade ou pelo então governador Sérgio Cabral (PMDB)?

Eles (referindo-se ao grupo de Cabral) buscaram vencer o eleitor do Zito, para não me deixar crescer politicamente. Eu queria ser governador e tinha divergência com Cabral (Sérgio), pois eu era do time de Marcelo Alencar (ex-governador). Washington Reis era meu vice, mas passou para o lado de Cabral e eu não fui junto. Antes do golpe do lixo, fui acusado de comprar a ilha do piloto Airton Sena, de não morar em Duque de Caxias, que eu sofria de câncer na próstata. Mas nada disso deu certo…

>> …E ai?

Na edição da Rio + 20 veio a história do lixo. O fechamento do lixão de Gramacho estava acertado para o dia 31 de dezembro de 2012. Eles romperam o acordo e anteciparam para julho (faltando dois meses para as eleições). Combinamos para fazer um transbordo, colocando o lixo em outra área, de onde sairia para Seropédica. Mas romperam novamente o trato. Com isso, colocaram a população contra meu governo. Ao ver minha cidade cheia de lixo, e sem poder fazer nada, chorei. E chorei muitas vezes, aqui em casa, ao descobrir que era um golpe político para não me deixar crescer. Mas o tiro saiu pela culatra. Eles queriam eleger Washington Reis (PMDB) e deu Alexandre Cardoso (PSB). Entretanto, os dois eram deles.

>> E as consequências disso?

Caí para 24 mil votos (votação que lhe deu o atual mandado de deputado estadual) e a Andréia (Andréia Zito, sua filha) perdeu a eleição (ela era deputada federal). Hoje, 85% das pessoas de Duque de Caxias tem consciência do ‘golpe do lixo’ que eles deram pra me derrubar.

>> Em seus mandatos, o que você fez pelos ricos?

Quando você trabalha pela igualdade, ajuda a todos. Se você melhora a educação, a saúde, os serviços essenciais, o atendimento e as coisas das quais dependem a população, com isso você ajuda a todos. Tanto os ricos quanto os pobres. E se eu for prefeito de novo, vou trabalhar muito para oferecer o primeiro emprego. Hoje os jovens não têm opção. Ver um garoto com uma arma na mão, não é porque ele quer. Foi falta de opção. Eu sempre investi em educação. Construí boas escolas e paguei bem aos professores. Esse país só tem jeito quando a educação de qualidade chegar a todos. A saúde é o suporte de manutenção da vida. Mas o crescimento do ser humano vem com a educação.

>> O senhor já foi acusado de matador, cara peitudo, justiceiro do bairro doutor Laureano. Verdade ou mito?

Isso é mito, que veio para nos favorecer. As pessoas de bem me viam como protetor das famílias, um fazedor do bem. Duvido que se eu fosse prefeito, muitas coisas iriam mudar aqui. Iria juntar as forças para dar segurança a população. Bati muitas vezes na mesa para alertar a bandidagem. Roubo de carga na cidade tem de acabar. E faria tudo de novo para trazer a paz para as famílias. Não há medo, nem convívio com quem está fora das regras. As pessoas de bem têm de estar em primeiro lugar.

>> Depois de ter passado por tantas perseguições políticas e, ainda assim, obter tantos mandatos, o senhor se considera um sobrevivente político?

Me considero um político diferenciado. Não fiz curso para isso. Aprendi com as dificuldades do próximo. Sempre tive fé de que Deus me abriria uma porta para eu sair da dificuldade, ajudar minha família, meus amigos, minha cidade. Caxias mudou muito. Sou feliz e me sinto realizado. A política precisa trazer pessoas diferenciadas – cita Andréia Zito como exemplo, por levar um campus do Colégio Pedro II para Caxias. Veja a votação dos deputados Picciani (Jorge), Wagner (Montes) e Eduardo Cunha na região. Juntando toda a classe política aqui, não fizeram 20% do que eu fiz nos meus três governos.

>> Há quem considere que políticos da sua geração estão ultrapassados. O que o senhor diria sobre isso e o que é político moderno, defender casamento gay, liberar uso de maconha, por exemplo?

Não aceito certas modernidades. Respeito, mas não me sinto ultrapassado. Acredito que Deus fez tudo correto. Por mais que a ciência mude, homem é homem e mulher e mulher. Respeito a todos. Nunca bebi bebida alcoólica e nunca fumei. Meu pai bebia e nos aconselhava a não fazer isso.

>> Se o prefeito Washington Reis for cassado em função dos processos contra ele na justiça e o senhor fosse eleito prefeito agora, teria coragem de fazer mudanças necessárias? O que mudaria?

Tem que ter ‘pegada’ para fazer isso. Reduziria o número de secretarias (atualmente tem cerca de 26), enxugaria o quadro funcional (são cerca de 20 mil servidores), e centralizaria a administração e um só local. A cidade precisa ser bem cuidada. Há seis anos, olho daqui (da varanda de sua casa) e vejo aquele poste com a lâmpada queimada e aqueles dois pares de tênis pendurados na fiação.

por Davi de Castro
davi.castro@jornalhoje.inf.br

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