Preso por engano, cozinheiro fica um mês atrás das grades

Ação dos bandidos foi filmada por moradores Foto: Reprodução

Um cozinheiro de 26 anos ficou preso por engano durante um mês acusado de participar da guerra do tráfico na Rocinha. O jovem, segundo documentos anexados ao processo judicial sobre a invasão da favela, trabalha há três anos num restaurante na Barra da Tijuca, no turno das 17h à 0h, e, na madrugada de 17 de setembro, horas antes dos confrontos, havia acabado de sair do trabalho. Naquele dia, ele chegou em casa por volta das 2h — quatro horas antes do início da invasão.

O jovem foi preso no dia 22 de outubro. Na ocasião, ele voltava para casa do trabalho, com uniforme de cozinheiro na mochila, quando foi abordado por PMs, que constataram que havia um mandado de prisão temporária contra ele. A ordem foi expedida pela Justiça com base na investigação da 11ª DP (Rocinha) sobre a invasão da favela, que identificou mais de 60 traficantes. No inquérito, três testemunhas o apontam como integrante do tráfico.

O cozinheiro só foi posto em liberdade no último dia 21, após 31 dias no Complexo de Gericinó. Semanas antes, seu advogado entregou na 11ª DP e no Ministério Público sua carteira de trabalho, uma série de folhas de ponto — incluindo a da véspera da invasão —, contracheques e cópias de postagens do jovem em redes sociais com seu uniforme de trabalho. Numa delas, em maio de 2016, o cozinheiro postou a legenda: “Primeiro as responsabilidades e depois a curtição”.

Após saber da profissão do jovem, o delegado Antônio Ricardo, da 11ª DP, mandou agentes ao restaurante. Lá, foram informados que ele trabalha como “saladeiro” e não costuma faltar.

“Na cadeia, só pensava que iria perder meu emprego e que não ia conseguir mais trabalhar. Ainda bem que consegui esclarecer tudo”, contou o cozinheiro, que já voltou a trabalhar no restaurante.

Com base nos documentos e nos relatos, o delegado não pediu a prisão preventiva e o cozinheiro não foi denunciado pelo MP. Atualmente, o jovem não é sequer investigado: a delegacia encerrou o inquérito contra ele após Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, chefe do tráfico na favela, e Alberto Ribeiro Sant’anna, o Cachorrão, número dois da quadrilha afirmarem aos agentes — o primeiro, informalmente, e o segundo, em depoimento — que o cozinheiro não integra o tráfico.

error: Conteúdo protegido !!