Fla divulga nota de repúdio sobre baderna: “selvageria”

Dirigentes do clube da Gávea lamentam a confusão e destruição ocorridas após a perda do título no Maraca
Agência O Globo

No início da noite de ontem, a diretoria rubro-negra se manifestou e publicou no site oficial do clube uma nota oficial sobre os episódios de violência na final da Copa Sul-Americana, perdida para o Independiente da Argentina.
Confira. “O Clube de Regatas do Flamengo vem a público expressar sua indignação com os fatos ocorridos na noite desta quarta-feira, no Maracanã, durante a final da Copa Sul-Americana. E também se solidarizar com todos os torcedores que, de alguma maneira, foram afetados pela selvageria, violência e falta de cidadania daqueles que provocaram tumulto antes e depois da partida.
A confusão antes do jogo foi provocada primordialmente por um grande número de pessoas tentando entrar no estádio sem ingressos, o que, infelizmente, é um hábito comum e histórico em todas as partidas de grande apelo do clube no Maracanã.
O problema ocorrido após o apito final foi fruto da frustração de torcedores com o resultado, mas de forma alguma se justifica. Torcedores que amam o clube, suas famílias, além de profissionais atuando no jogo não podem ficar reféns, retidos no estádio, em função da ação de selvagens.
Cabe reflexão mais ampla e profunda sobre os fatos por parte da sociedade. Diferentemente de outros eventos no Rio de Janeiro, como o Rock In Rio ou o Carnaval que mobilizam enorme interesse e têm escassez de ingressos, o futebol padece de problemas mais graves. Existe a “tradição” nefasta do torcedor que não possui ingresso em forçar a entrada no estádio; a infiltração de desordeiros em torcidas organizadas e o espírito de agressividade muito maior do que em outras atividades culturais. Tudo isso faz com que o controle de público em jogos de futebol seja muito mais complexo.
Se considerarmos a praça em que o espetáculo é realizado, cabe ressaltar que o Maracanã é um estádio grande, urbano, dentro de um bairro populoso, o que faz com o que o acesso a ele seja fácil e, paradoxalmente, facilite a invasão de torcedor, o que aconteceu até mesmo na Copa do Mundo…”

Equívoco do comandante do GEPE

Do lado de fora do Maracanã, a batalha campal em vermelho e preto causou terror
Sportv

Segue a nota: “…Portanto, consideramos equivocada a justificativa dada pelo comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios de que apenas um fator – o uso de cartões-ingressos descarregados por sócio-torcedores mal-intencionados – seja a razão predominante para os acontecimentos de ontem. É importante citar que cartões-ingresso são amplamente utilizados em eventos esportivos no mundo todo, inclusive no Brasil, e são uma forma de oferecer conforto e comodidade aos torcedores que fazem uma contribuição fundamental ao Flamengo, além de representarem um fator inibidor do cambismo e de confusões na venda de ingressos, como as grandes filas e quebra-quebras em bilheterias.
Um jogo decisivo do Flamengo, com lotação máxima apresenta muito maior risco e complexidade no que diz respeito ao acesso de torcedores do que uma partida de Copa do Mundo, em função das diferenças de perfil dos públicos envolvidos. Em compensação, a mobilização e o planejamento dos órgãos públicos para uma partida como a de ontem é incomparavelmente menor do que o realizado nos jogos do Mundial de 2014.
Outro ponto que torna o planejamento para partidas de grande apelo é o fenômeno das torcidas organizadas, movimento criado há cerca de 50 anos, que surgiu com o propósito de incentivo ao time, mas que hoje é associado a episódios de invasão, vandalismo e violência.
Some-se a isso o hábito dos torcedores em geral em postergarem sua entrada no estádio, a compra de ingressos, muitas vezes falsos, em cambistas e a já citada utilização indevida dos cartões de sócio-torcedor.
A título de informação, em reuniões operacionais antes da partida, o Flamengo notificou o Comando Maior da Polícia, assim como o GEPE, o 6º Batalhão (Tijuca) e a Guarda Municipal, solicitando o maior efetivo possível, dado o grande apelo da partida. Por sua vez, contratou quase mil seguranças privados para atuar a partir do momento da revista e acesso a catracas e em vários setores dentro do estádio.
Mesmo assim, tal mobilização pública e privada não foi suficiente para impedir os problemas, que aconteceram não só no Maracanã, como também em diversas ruas dos bairros próximos ao estádio, estações de trem e estações de metrô.
Dada tal escalada de violência, o Flamengo se propõe a, junto com os órgãos públicos, encontrar soluções para que seus jogos decisivos no Maracanã tenham o efetivo de segurança adequado, planejamento e bloqueios de ruas compatíveis com sua complexidade, uma vez que a Polícia Militar do Rio de Janeiro tem encontrado muitas dificuldades do ponto de vista de estrutura e contingente para realizar seu trabalho nas praças esportivas e outros pontos do Estado.

Invasão ao Maraca teria sido marcada há dias na internet

O tumulto entre torcedores dos dois clubes teve início na noite de terça (12), quando centenas de flamenguistas promoveram foguetório em frente ao hotel da delegação argentina. A polícia interveio e prendeu uma parte dos agitadores
Guarda Municipal / Divulgação

Ação anunciada. A invasão ao Maracanã pelos torcedores do Flamengo foi proposta há uma semana pelas redes sociais.
Em troca de mensagens, torcedores postaram que integrantes de uma organizada banida pela Justiça dos estádios entrariam na arena sem ingressos e convidavam amigos para participar do ato.
Na noite de quarta-feira (13), centenas de torcedores derrubaram portões e grades de segurança e conseguiram invadir o estádio para assistir a final da Copa Sul-Americana.
Com o empate em um gol diante dos cariocas, o Independiente conquistou o título no Maracanã lotado. Todos os ingressos para a final foram vendidos uma semana antes.
>> Quebra-pau não faltou na Arena: A confusão tomou conta do Maracanã desde o início da noite de quarta. Dezenas de confrontos foram registrados nos arredores do estádio.
Antes e depois da final, bombas de efeito moral e spray de pimenta foram disparadas pelos policiais para conter ânimos dos torcedores.
O ônibus da delegação argentina teve os vidros quebrados na chegada ao Maracanã pelos torcedores do time carioca.
O comandante do Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios), major Silvio Luis, informou que o esquema de venda dos ingressos feito pelo Flamengo ajudou na confusão. O cartão de sócio torcedor é usado para carregar o ingresso e atrapalhou a triagem.
Segundo o militar, centenas de pessoas conseguiram ultrapassar as barreiras de conferência de ingresso e chegar nas catracas sem ter o bilhete porque mostravam o cartão de sócio torcedor.
De acordo com a PM, 650 militares foram mobilizados no policiamento dentro e fora do estádio. Além dos policiais, 700 seguranças particulares também trabalharam no Maracanã.
Bares dentro do estádio foram quebrados e saqueados na noite de quarta. A concessionária que administra o Maraca prevê prejuízo altíssimo pelo tumulto da final. Na confusão, 14 torcedores foram detidos. A maioria tinha sido liberada até a tarde de ontem.
>> Trens quebrados – Seis trens foram depredados depois da final da Sul-Americana. Segundo a Supervia, 54 janelas foram destruídas e apenas um trem conseguiu ser recuperado para operar ontem. A empresa também informou estrago em quatro estações.
>> Argentinos tiraram sarro – Depois da conquista do título, a diretoria do Independiente ironizou o adversário. No twitter, o clube postou: “Lamentamos que estejam com sono. Talvez devessem ter ido dormir mais cedo ontem. Os jogos se ganham em campo. Sabemos demais disso. Mais respeito ao Rei (como o clube é chamado pelos seus torcedores)”.
Na manhã de ontem (14), a delegação argentina embarcou com tranquilidade para Buenos Aires num voo fretado.

por Jota Carvalho

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