Peru, alvo chave dos governos do PT

*Pedro Luiz Rodrigues

O Peru foi uma festa para a política externa do Partido dos Trabalhadores nos anos em que esteve no poder no Brasil (2003-2016), período durante o qual o país andino foi governado pelos presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), Alan Garcia (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016).
É sobre essa festa que se debruça hoje o Ministério Público Federal, em estreita articulação com a Procuradoria peruana.
Todos os três presidentes acima mencionados, cultivados pelos governos do PT, respondem a processos por corrupção, devido a propinas que alegadamente receberam de empresas brasileiras. Não escapou nem mesmo o atual presidente Pedro Pablo Kuczynski, acusado de ter recebido indevidamente da Odebrecht quando era alto funcionário do governo.
Durante os anos de gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) o principal articulador e executor da política externa com o Peru foi o então assessor internacional da Presidência da República (e ex-diretor de assuntos internacionais do PT), Marco Aurélio Garcia. A cronologia de sua atuação nas relações brasileiro-peruanas tem sido devidamente levada em conta nas investigações conduzidas nos dois países.
Com Toledo, pontes- política e concretas – foram estabelecidas na visita que fez o presidente peruano ao Brasil, em abril 2003. A conversa entre os dois foi de natureza prática: além das declarações habituais de amizade e cooperação bilateral: “o melhor símbolo (de nossa aproximação) é o acordo que acabamos de assinar para a construção de uma ponte internacional sobre o rio Acre”, disse na ocasião o presidente Lula. A ponte em tela foi inaugurada em janeiro de 2006, pouco antes do fim da presidência de Toledo.
Pouco depois da inauguração da ponte, em fevereiro de 2016 Marco Aurélio Garcia visitou Lima, onde manteve encontros com os candidatos da eleição presidencial que se aproximava (abril): Lurdes Flores, Ollanta Humala, Alan García e Valentin Paniágua. Alan García sairia vencedor do pleito, mas as apostas do PT foram colocadas no candidato da esquerda Ollanta Humala (derrotado em 2006 só se elegeria em 2011) que foi o único candidato a manifestar sua aceitação de visitar o Brasil e avistar-se com o Presidente Lula.
Em discurso feito na mencionada visita de Alan García a Brasília (abril), Lula salientou ainda que “ O momento, agora, é de construção e de ação. O Brasil entende, assim como o Peru, que a implantação da infra-estrutura energética, de transportes e comunicações entre os países do continente é necessária ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar do conjunto da região”.
Em termos regionais, o principal derrotado com a vitória de Alan García em 2006, foi o presidente venezuelano Hugo Chávez, que havia colocado todas as fichas do bolivarianismo em Humala.
Nem Toledo, nem Alan Garcia foram simpatizantes do movimento bolivarianista que irradiando da Venezuela de Hugo Chávez, viria encontrar adeptos entusiasmados na Bolívia (Evo Morales, no poder desde 2006) e no Equador (Rafael Correa, 2007-2017).
Dessa maneira, em relação ao Peru, Marco Aurélio García optou por adotar uma política pendular, para evitar que o país se inclinasse excessivamente para a Venezuela, o que poderia trazer uma indesejada diminuição do prestígio e da influência do PT e do presidente Lula na região.
A estratégia era traçada no Palácio do Planalto e algumas vezes executada sem que o Itamaraty fosse devidamente informado das articulações feitas pelo assessor presidencial. Mantinha-se, assim, formalmente, o reforço da solidariedade regional e a proposta da articulação sul-americana, mas sem dar de bandeja a condução do processo a Hugo Cháves ou a seu Partido Socialista Unido Venezuelano (PSUV).
Aos poucos foram Lula e Marco Aurélio García deixando a parte estridente do espetáculo bolivarianista para Hugo Chávez, e fazendo com que o Brasil ficasse de mãos livres para cuidar do concreto, em particular o da infra-estrutura física. Sob essa bandeira, o governo do PT começou a buscar atuar concertadamente com as empreiteiras brasileiras, assegurando-lhes para os projetos que viessem a vencer no Peru (e em outros países) a necessária cobertura financeira do BNDES. Continuaremos a examinar o tema nos próximos artigos.

*Pedro Luiz Rodrigues é jornalista, com atuação nos mais importantes veículos do País, e diplomata.

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