Um homem de Minas

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*José Maria Couto Moreira

Empreendeu sua última e definitiva viagem, na antevéspera de Natal, o eminente governador Francelino Pereira. Deixa como legado o ilustre homem público uma fortuna de honradez e lealdade para com Minas, com os elevados cargos que exerceu e para com seus companheiros de caminhada.
Francelino chegou em Minas como um simples retirante, porém, com uma vontade intensa de ser mineiro, aliado de primeira hora da doutrina daquele que nos falou do “senso grave da ordem”, o grande João Pinheiro. E foi sob esta máxima que o ilustre homem público exerceu as comissões que o destino lhe reservou. Em todas as suas missões na política tinha como ação e retórica os verdadeiros interesses de Minas. Os compromissos, ele os cumpriu todos. Que poderia mais um homem desejar de sua existência, se à família e aos amigos, nos embates pessoais e políticos que interveio como candidato, como vereador, como deputado, como governador e como senador jamais faltaram sua mão amiga, seu oportuno aconselhamento, seu civismo e sua convicção serena de prudência e austeridade ? Estas são as reconhecidas virtudes do homem de Minas, presentes em todos os foros.
A integração de Francelino a Belo Horizonte e às relações que contraiu na cidade o fez logo optar pela política partidária, elegeu-se vereador, seu primeiro teste nas urnas, a seguir deputado estadual e federal por cinco mandatos consecutivos. Na Câmara Federal, no período da exceção, conquistou o então presidente Geisel por sua dedicação à causa pública, aos valores republicanos e à ética intransigente, de que foi um dos príncipes na galeria dos homens de Minas. Sua vida pública foi coroada pelo mandato de senador da República, conferido por milhões de mineiros.
Junto ao exercício de vida pública, Francelino cultivava a literatura. Conhecia bem os meandros da (boa) poesia, sendo leitor constante de Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles, aquela musa que Drummond, enfeitiçado por seus versos, chegou a dizer que seu grau de encantamento era tal que “via em Cecília uma certa ausência do mundo”. A sensibilidade cultural de Francelino Pereira é demonstrada pelos seus escritos que enfeixam um volume alentado, e disso foi testemunha a Academia Mineira de Letras, que o convocou para seu membro, ao preencher a vaga do também singular homem público Aureliano Chaves, cuja cadeira está agora designada como a cadeira dos governadores. Peça valiosa de seu acervo de escritor e de sua convivência elegante também com adversários é o ensaio que produziu sobre Juscelino Kubitschek, detentor de iguais virtudes.
Outra vertente humanística a que o pranteado político filiou-se foi a da democracia. Em seu mandato majoritário deu provas sucessivas de governar com pluralidade, sem distinguir vencidos, e renovou a prédica do insuperável Milton ao proclamar sua operosa administração de marchar como “mais da lei do que dos homens”.
Este foi um mineiro do agreste Piauiense, nascido em Angical, uma pequena estrela que brilha em nossa constelação geográfica, agora iluminando o corpo de seu filho que deixa uma esteira dos melhores exemplos para mineiros e brasileiros.

*José Maria Couto Moreira é advogado.

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