Terceiro espetáculo da Cia Cortejo, “Alice Mandou um Beijo” volta aos palcos da cidade em 17 de janeiro para curta temporada no Glauce Rocha, com apresentações as quartas e quintas, às 19h, até 8 de fevereiro. Indicado ao prêmio Cesgranrio e Botequim Cultural de Melhor Texto Inédito, a peça, escrita e dirigida por Rodrigo Portella, que também assina a direção de Tom na Fazenda (em cartaz no Teatro Dulcina de 12 a 28 de janeiro), é um resgate das memórias de infância do autor, nascido e criado no município de Três Rios, no Centro-Sul Fluminense. No palco, Luan Vieira, Marcos Ácher, Ricardo Gonçalves, Suzana Nascimento e Vivian Sobrino vivem uma família que, após a morte da filha caçula, se vê diante de uma inesperada instabilidade em seu convívio. Uma série de acontecimentos revela a fragilidade das relações que se estabeleceram durante toda uma vida dentro de uma casa.
“Quando eu era criança, minha mãe era só a minha mãe. Toda aquela família encharcada de tios e primos de variados graus parecia, aos meus olhos, tipos bem definidos: o tio bonachão, o primo esperto, a avó afetuosa, o pai que me roubava a mãe às madrugadas, o irmão que era o meu avesso, o padrinho e seus extraordinários presentes de aniversário, a prima a quem todos os primos fingiam namorar… Tudo parecia estável, eterno e definitivo. Só mais tarde, bem mais tarde mesmo, fui perceber que aquelas pessoas eram muito mais complexas. Me dei conta que o que eu enxergava antes era só uma pontinha de um volumoso e assustador iceberg. Alice Mandou um Beijo é um resgate ficcional das minhas memórias de infância. Acredito, que só agora, aos 40 anos, é que começo a entender que o sentido de humanidade está potencialmente relacionado à palavra contradição”, reflete Rodrigo Portella.
Quando a peça começa, Alice já está morta. O público não a conhece pelo que ela é, mas pelo que descrevem dela. Paradoxalmente, Alice está viva dentro da casa. Todos falam dela todo o tempo, vestem suas roupas, executam suas tarefas, tentam assumir o seu lugar. O eixo dramático está nas delicadas decisões dos personagens diante da ‘ausência’ de Alice, uma espécie de representação da coerência familiar. Alice é quem dava sentido àquela convivência. Diante de sua morte, as relações se refazem, se transformam instáveis e até mesmo impossíveis.
