Dia 7 de janeiro, domingo, Cidade de Deus. Uma moradora procura policiais da UPP da comunidade, na Zona Oeste do Rio, e informa que um homem acaba de sofrer um mal súbito. A resposta dos agentes é inesperada: a despeito de se tratar de uma região supostamente pacificada, a PM não atenderá a ocorrência “por se tratar de área de risco”, como consta no registro feito na 32ª DP (Taquara).
“Informada sobre a impossibilidade da ida da Polícia Militar ao local” — na Rua da Violeta, na localidade conhecida como Jardim da Manhã —, a mulher precisou se dirigir à base Karatê, uma das três na Cidade de Deus. De lá, um agente a acompanhou até a delegacia, onde o óbito foi, enfim, registrado. Procurada pelo EXTRA no início da noite, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) não havia se manifestado até o fechamento desta edição.
Segundo o aplicativo Fogo Cruzado, da Anistia Internacional, a Cidade de Deus foi palco de sete tiroteios em 2018 — um a cada dois dias, em média. Apenas três confrontos, porém, foram registrados na Polícia Civil, todos entre os dias 8 e 11 de janeiro.
Em um único enfrentamento, no dia 8, na localidade Caminho do Outeiro, cinco PMs se depararam com dez homens armados. Em 35 minutos de tiroteio, os policiais dispararam 85 vezes. Não houve presos ou feridos.
No último dia 11, policiais do Complexo da Penha, onde há quatro UPPs, também não atendem ocorrências em “áreas de risco”. Relatos de PMs das unidades e registros na Polícia Civil revelam que, quando os agentes são chamados por moradores para atender casos em pontos dominados pelo tráfico — como mortes naturais, incêndios e brigas —, eles se recusam a ir.
No dia 2 de janeiro, tal qual o relatado na 22ª DP (Penha), após contato de uma moradora que havia encontrado a irmã morta dentro de casa, os policiais responderam “que não seria possível ir ao local devido à área ser de risco”. Na ocasião, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora também não respondeu aos questionamentos sobre o ocorrido.