Viaduto do centro de Nova Iguaçu corre risco de desabamento

Quem atravessa a pé o viaduto deve estar atendo ao deslocamento das grades de proteção
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

O viaduto Padre João Musch, situado no centro de Nova Iguaçu, está colocando em risco a vida de pessoas que, a pé ou de carro, passam todos os dias de um lado para outro da cidade. As alças destinadas a pedestres já cederam o suficiente para provocar uma grande rachadura no piso.
Um engenheiro civil, com mais de 30 anos de experiência, visitou o local, a pedido do Jornal de Hoje, e comentou os riscos que a população está correndo. Na tentativa de evitar acidentes, a prefeitura colocou alguns andaimes embaixo das alças, para conter o peso da estrutura do viaduto.
Além das grades de proteção quebradas em vários trechos, crateras na pista, fiação de iluminação pública exposta em alguns postes e muito mato, as duas alças do viaduto, destinadas à passagem de pedestres, apresentam rachaduras de ponta a ponta. A brecha está em toda a largura do piso, de forma que é possível ver a pista da Avenida Amaral Peixoto, que passa sob o viaduto.
As duas alças já cederam aproximadamente 10 centímetros do nível da pista. Isso tornou ainda mais visível o desalinhamento do corrimão de proteção, que acompanha o desnível das alças, na mesma proporção, assim como a inclinação dos postes de iluminação mais próximos. Como a estrutura balança forte quando passa veículo, pedregulhos da estrutura do viaduto costumam cair sobre pessoas que trafegam por baixo.
Para evitar maiores danos, a prefeitura colocou quatro andaimes de cada lado para escorar as alças, na tentativa de conter o peso da estrutura de concreto do viaduto, que mede cerca de 150 metros de extensão.

Estrutura está comprometida

Um trecho do calçamento destinado aos pedestres cedeu e o piso já tem diferença de altura suficiente para chamar atenção dos pedestres
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

Com mais de 30 anos de atividade no ramo e 40 cursos na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e no Instituto Brasileiro de Administração (IBAM), o engenheiro civil Eliçon Canuto foi ao viaduto, a pedido do Jornal de Hoje, e constatou o perigo.
“As juntas de dilatação do viaduto estão comprometidas, acabaram. Elas servem para equilibrar a estrutura e por isso balança. Nesse caso aqui, a junta acabou e a passagem de pedestres coloca em risco a vida de quem passa por ela. Se não for feita uma intervenção de recuperação estrutural, o que nunca foi feito desde a construção do viaduto, ele corre o risco de sofrer um colapso total, ou seja, desabar”, afirma o engenheiro. “E se a prefeitura colocou estas escoras, é porque, teoricamente, as secretarias de Obra e de Trânsito têm conhecimento da gravidade do problema”, completa Canuto.

>>Restauração – O engenheiro tem conhecimento de que, na década de 1990, as reclamações da população já eram muitas e, em função disso, fora feito um laudo técnico que exigia restauração imediata. “Não sei onde esse documento foi parar”, recorda. Ainda na opinião dele, as crateras na pista e na passagem de pedestres ajudam a infiltração que, com a ferragem já exposta, ajudam a acelerar ainda mais a deterioração da estrutura do viaduto.

Pedestres demonstram preocupação

Damião Vaz Pinto e Adeilson de Oliveira Conceição temem por um acidente grave
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

Olhando para as escoras de andaimes, de baixo para cima do viaduto, Damião Vaz Pinto, 69 anos, disse o seguinte: “isso está perigoso, pois se passar uma carreta ai em cima, esses andaimes não vão suportar tanto peso. É preciso fazer alguma coisa agora. Depois que acontecer uma tragédia, não adianta mais”, avalia. Já Adeilson de Oliveira Conceição, 66 anos, é testemunha de outros fatos ocorridos no local. “Aqui já despencou pedaços do reboco sobre carros, quebrando para-brisas e faróis, além de amassar a lataria. Mas isso faz tempo. Agora, há mais ou menos um mês, colocaram esses andaimes, que não suportam o peso, em caso do viaduto balançar muito”, supõe.
Mas nem todo mundo teme os riscos como Damião e Adeilson. Tanto que embaixo do viaduto, sem mostrar qualquer preocupação, existem vários pontos de ônibus e taxis, além de dezenas de pessoas circulando, ou em pé no ponto ou dentro dos ônibus aguardando a partida. “Se isso ai vai cair, que caia depois que o ônibus sair daqui”, brinca Terêncio José Alves, 35 anos.

Meio século sem reformas

Construído há 50 anos pelo então governador do Estado, Geremias Matos Fontes (PDC), o viaduto Padre João Musch nunca passou por reformas em sua estrutura. Na ocasião, poucos veículos passavam sobre ele diariamente. Passadas algumas décadas, o então prefeito Nelson Bornier fez apenas recapeamento asfáltico, pinturas nas grandes de proteção e nova iluminação pública. Nessa época, mais de 40 mil veículos, entre carros de passeio, caminhões e ônibus, cruzam de um lado a outro da cidade, segundo uma fonte da Secretaria de Transporte, Trânsito e Mobilidade Urbana. Entretanto, apesar do desgaste, nada fora feito na parte estrutural.
>>Balançando sempre mais – As reclamações de que o viaduto balança muito já se arrastam desde a década de 1990, ganhando mais repercussão na gestão do então prefeito Altamir Gomes, quando Rogerio Lisboa integrava o governo como secretário de obras. Na ocasião, cobrado pela imprensa, ele disse ter pedindo uma vistoria técnica no viaduto, cujo resultado do laudo nunca se tomou conhecimento. Coincidência ou ironia do destino, ou nenhuma das alternativas, o viaduto volta a ser um problema na gestão de Rogerio Lisboa, agora como prefeito da cidade.
Em nota, a Prefeitura de Nova Iguaçu, por meio da Secretaria de Infraestrutura informou que está desenvolvendo um projeto de revitalização do viaduto Padre João Musch e que as obras serão iniciadas ainda este ano, mas sem mencionar a data. “Como medida emergencial, a secretaria realizará obras nos pontos mais críticos do local nos próximos dias”, garante.

por Davi de Castro – davi.castro@jornalhoje.inf.br

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