Prefeitura não faz jus a taxa de iluminação cobrada em Nova Iguaçu

A iluminação da fachada de uma loja de departamentos na Rua Bernardino de Melo, no Centro, é um dos poucos pontos de luz naquele trecho
Davi de Castro/Jornal de Hoje

A oitava cidade mais rica do estado do Rio de Janeiro, com quase 800 mil habitantes e uma renda per capita próximo dos R$ 700 mensais, sendo ainda o 9º polo consumidor do Brasil, Nova Iguaçu oferece um serviço público da pior qualidade à população. Apenas para citar um de muitos exemplos, enquanto outras cidades buscam uma iluminação pública de qualidade, com luminárias de LED, a segunda maior cidade da Baixada vive na escuridão, com luminárias precárias de mercúrio e vapor de sódio.
A principal avenida da cidade, a Amaral Peixoto, situada no coração financeiro de Nova Iguaçu, onde a iluminação deveria ser melhor, a luminosidade é fraca na maior parte de sua extensão e escura no trecho final. A situação é ainda pior nas demais ruas do centro, como a antiga Treze de Maio, Nelson Ramos, Venina Correa Torres, Nilo Peçanha, Otário Tarquino, Bernardino de Melo e travessa Mariano de Moura. Nelas, a iluminação, de cor amarelada, tem potência fraquíssima, deixando a via na penumbra. Para piorar ainda mais a qualidade do serviço oferecido à população, na travessa Renato Pedrosa (em frente à antiga Câmara de Vereadores) e a Professor Augusto Rodrigues (em frente à Galeria Veplan), a escuridão é total.
Nova Iguaçu é uma cidade rica, onde a renda per capta alcança a média mensal de R$ 675,00. Ou seja, ao dividir o dinheiro produzido na cidade por cada um de seus habitantes (798.986, segundo o IBGE, em 2017) se encontra esse valor. Vale lembrar que, além de rica, a cidade ocupa o 9º lugar do País como polo de consumo, sendo superior a grandes centros comerciais como Campinas, na Grande São Paulo.
“Ao tomar conhecimento desses valores, vemos que a cidade tem tudo para oferecer um serviço público de qualidade ao seu povo, em todos os sentidos. Mas não é isso que acontece”, avalia o empresário Osman Ribeiro dos Santos, 40 anos.
E se não acontece, não é por falta de recursos. “A prefeitura de Nova Iguaçu arrecada entre R$ 55 e R$ 60 milhões por ano com a taxa de iluminação. Paga a metade à Light e fica com o resto. Do que sobra, ela divide com uma empresa, que tem por trás um político, que faz a manutenção da iluminação”, revela uma fonte da prefeitura.

Taxa cara e ruas na escuridão

A Rua Luiz Guimarães (antiga Treze de Maio) fica às escuras no trecho entre o Calçadão e a Via Light
Davi de Castro/Jornal de Hoje

Apesar de toda importância financeira, as políticas públicas implantadas em Nova Iguaçu deixam a desejar. Moradores do centro e de bairros periféricos, por exemplo, também reclamam do aspecto físico da cidade, esburacada e cheia de mato, principalmente da escuridão.
“Não deveria ser assim, porque a prefeitura cobra, e caro, a taxa de iluminação pública. Eu pago R$ 26,61 de taxa (Contribuição para Custeio de Iluminação Pública-Cosip) e a minha porta é escura. Não deveria ser assim, pois isso traz insegurança e facilita a ação de ladrões”, reclama Roseli de Garrido, 57 anos.
“Eu também vivo no escuro e pago todo mês R$ 21,10 de taxa de iluminação aqui na Rua Alfredo dos Anjos, no Jardim Alvorada”, reclama Judith Farias, 43. “Não sei o que a prefeitura faz com o dinheiro que recebe dos moradores”, questiona.
>>Luminárias fracas – Muitos contribuintes não entendem a situação e acreditam que a luminosidade da cidade depende da Light, concessionária responsável pela energia elétrica em Nova Iguaçu. Porém, um funcionário da empresa, que pediu para não ser identificado, disse que as luminárias utilizadas no município são de vapor de sódio ou vapor metálico de 200 ou 400 watts, dependendo do lugar. “Nos bairros, são as de mercúrio de 70 watts, que são mais fracas, bem fracas. Mas isso aí depende da prefeitura”, comentou.

Iluminação LED em muitas cidades
Ao contrário do que acontece nas políticas de Nova Iguaçu, cidades do Rio de Janeiro e de outros estados brasileiros, como na Região dos Lagos (RJ) e Feira de Santana (BA), respectivamente, os governos estão implantando na vida urbana a iluminação de LED. O sistema gera mais economia, ilumina mais, não aquece, tem mais durabilidade, evita desperdícios e elimina o risco de choque elétrico.
A iluminação pública, iniciada pela primeira vez em Londres, no ano de 1417, com lanternas penduradas nos postes, chegou a Paris (França) 200 anos depois, com luzes nas janelas das casas, para iluminar a rua, acabou reduzindo o índice de crimes.
>>Qualidade de vida – No Brasil, a iluminação pública, a óleo de peixe, chegou no século XIX, em São Paulo. Em 1830 passou a ser de responsabilidade das prefeituras. E, desde o início, em Londres, passou a ser um item que compõe a qualidade de vida da população. Mas, pelo visto, nunca entrou para a lista de itens que ajudam a melhorar a segurança e a qualidade de vida do povo. A rica Nova Iguaçu, por exemplo, que vive na escuridão e, consequentemente, tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) 0,713, um dos mais baixos do Estado e o sexto pior índice da Baixada.

A Light explica aos contribuintes
A equipe do Jornal de Hoje entrou em contato com a Light-Serviços de Eletricidade S/A, para saber o motivo da precariedade da iluminação pública de Nova Iguaçu. A empresa, através de sua assessoria de imprensa, respondeu o seguinte:
“Em Nova Iguaçu, a Light possui cerca de 400 mil clientes. As ligações clandestinas na Baixada Fluminense correspondem a 38,92% do que é distribuído para região (a cada 100 kwh distribuídos, 38,92% kwh são desviados). A maior parte dos registros de furtos de energia se concentram nas zonas Oeste e Norte do Rio e na Baixada. De janeiro a setembro de 2017 a Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) fez 433 mil inspeções e detectou 340 mil irregularidades (todas normalizadas). Efetuou 409 registros de ocorrência na Polícia Civil, que por sua vez, fez 40 prisões em flagrante”. E finalizou informando que, em Nova Iguaçu, “o serviço de iluminação pública é de responsabilidade da prefeitura municipal”.

por Davi de Castro – davi.castro@jornalhoje.inf.br

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