População prefere ficar em casa para fugir da violência do carnaval

Mário Somma prefere o Espaço Botânico do que a folia de carnaval e Edilene abandonou a festa por causa da violência
Fotos: Davi de Castro

Já se foi o tempo em que a festa mais popular do Brasil, o carnaval, empolgava a população e levava famílias inteiras a sair de casa para assistir a folia nas ruas e praças das cidades. Eram muitos os que se caracterizavam, com fantasia ou máscaras, a desfilar pelos blocos e pelas ruas. Nos últimos anos ou a cada ano que passa, o que era considerado alegre, saudável ou divertido, se tornou triste, arriscado, vazio e perigoso. O Jornal de Hoje foi às ruas de Nova Iguaçu ontem (9), para saber da população os motivos que levaram ao esfriamento da folia de carnaval.
Ao contrário do que já foi no passado, as lojas dos grandes centros comerciais não ficam mais abarrotadas de produtos carnavalescos, como roupas, chapéus, enfeites, máscaras e outros apetrechos. Em Nova Iguaçu, por exemplo, pouco se vê nas lojas sobre motivos de carnaval. Pessoas fantasiadas ou crianças com roupas carnavalescas estão se tornando coisas muito raras de se ver. Alguns locutores, na intenção de atrair clientes para lojas onde trabalham, até se caracterizam de forma carnavalesca, muito embora seu local de trabalho não tenha nada a ver com o tema. Não se observa mais aquela animação dos tempos de outrora. Tudo mudou de mais e está muito diferente do que já foi um dia.

Violência afasta famílias do carnaval

O locutor Calos Antônio Ferreira Gomes ganha a vida anunciando produtos na porta de lojas no centro de Nova Iguaçu
Fotos: Davi de Castro

Funcionária pública, Ana Maria Toledo, 68 anos, é parte do passado e do presente. Ela trabalhava o ano inteiro pensando na fantasia de carnaval, no bloco que iria desfilar, no modelo da fantasia, no clube onde brincaria as quatro noites de carnaval. Mas, nos últimos 40 anos, os carnavais de Maria são completamente diferentes daqueles que se passaram. “Meus pais vestiam fantasias em mim e meus irmãos e íamos às ruas assistir ao carnaval. A gente adorava. Mas tarde, aos 22 anos, eu e minhas amigas e amigos formávamos nosso bloco e ia desfilar nas ruas. Depois fizemos isso nos clubes. Agora, prefiro o sossego em casa. A alegria deu lugar ao roubo, assaltos, estupros, assassinatos. Hoje, pra mim, a festa acabou”, reflete.
O empresário Mario Somma, 54 anos, também mudou a rotina da folia de carnaval na sua vida. “Ainda jovem, usava fantasia no carnaval. Gostava, pois era alegre. Mais tarde, preferia ir à praia e brincar carnaval nos clubes de Muriqui, Teresópolis. Era tudo muito tranquilíssimo. Confusão havia. Mas era tudo facilmente contornável. Era sempre por causa de paquera. Depois comecei desfilar em escolas de samba. Em seguida, só gostava de assistir aos desfiles na avenida. Hoje, fico em casa, na piscina com família e amigos. De casa vejo os desfiles”, comenta o empresário. Mas o que ele prefere mesmo é ficar no Espaço Bio Botânico Tinguá, um local que embeleza Nova Iguaçu, com mais de 800 espécies de plantas e flores, situado no centro, na rua coronel Francisco Soares com a Via Light. “Aqui tem verde, tem vida”, resume Mário.

O que o carnaval tem de bom?

Edilene Andrade, 39 anos, diz que o carnaval para ela também é coisa do passado. “Já brinquei muito carnaval. Tanto na rua quanto em clubes. Minha mãe levava a gente. De sete aos 13 anos, curtia na rua. Era sossegado. Nos clubes havia brigas e muita gente saia machucada, sem ter nada com a confusão. Hoje, prefiro trabalhar aqui no Espaço Bio Botânico Tinguá ou em casa, do que ir para as ruas nos dias de carnaval”, confessa. A professora Simone Rocha, 46 anos, não quer saber de carnaval. “Não gosto e nunca gostei”, encurta o assunto. O JH perguntou o que ela “acha de ruim no carnaval”, e ela respondeu de pronto. “Então me diga o que há de bom?”, reagiu. “Antes era uma tradição católica. Hoje o carnaval é um culto ao corpo”, avalia.

O locutor que adora carnaval
Ao contrário de muita gente, o locutor de loja e departamentos Carlos Antônio Ferreira Gomes, 49 anos, ganha a vida anunciando produtos na porta de lojas no centro de Nova Iguaçu. Ele é um dos que aproveita a ocasião para se caracterizar de folião, usando peruca estampada e vestido de mulher sobre a calça jeans. “Adoro carnaval, saio para desfilar nos blocos e levo minha família. Não tenho medo”, garante. “Mas escolho locais apropriados para ir com minha família”, completa ele, mostrando o que faz para fugir de locais propensos a violência.

por Davi de Castro
davi.castro@jornalhoje.inf.br

error: Conteúdo protegido !!