Centro de Valorização da Vida já ajudou mais de 125 mil pessoas

Dona Dagma, de 81 anos, é voluntária do CVV há 14 e já ajudou milhares de pessoas através do diálogo
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

Mais de 125 mil pessoas já foram atendidas pelos voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV), durante os 15 anos de funcionamento da entidade em Nova Iguaçu. Apesar do alto índice de suicídio no Brasil, 80% dos atendimentos são de pessoas que se queixam de solidão.
O Ponto de Atendimento 24 Horas, conta com 2 mil voluntários de todo Brasil, e está instalado no Patronato São Vicente, situado na Rua Governador Portela, 382, centro, em frente à Praça Santos Dumont. Quem precisa, liga de graça para o telefone 188 ou vai pessoalmente ao local.
Discreto, sem chamar a atenção de ninguém, através de conversas e assuntos confidenciais, o Centro de Valorização da Vida em Nova Iguaçu (CVV-NI) – entidade que surgiu na Inglaterra e há 56 anos está no Brasil – já ajudou a salvar a vida de milhares de pessoas. Instalado no Patronato desde 27 de janeiro de 2003, o Ponto de Atendimento atende, em média, 700 pessoas por mês, alcançando 8.400 por ano e totalizando 126 mil atendimentos nestes 15 anos de serviço.
O trabalho é feito por voluntários, que se revezam em plantões de 4 horas, como a dona Dagma (não se declara sobrenome de voluntários), 81 anos, dos quais 14 prestando esse serviço. Em função do volume de atendimento diário, o CVV está com inscrições abertas para cursos de novos voluntários e o contato pode ser feito pelos telefones (21) 99141-1815 e (21) 3076-3177 ou novaiguaçu@cvv.org.br.

A solidão alcança 80% dos casos

Paulo Renato Pinto Teixeira é coordenador do Ponto de Atendimento situado no Patronato
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

De acordo com o coordenador do serviço em Nova Iguaçu, Paulo Renato Pinto Teixeira, 48 anos, os assuntos que levam a pessoa a procurar o CVV são os mais diversos, pois ela sente necessidade de aliviar as pressões externas como cobranças sociais, culpas, remorso, depressão, ansiedade, medo, fracasso, humilhação, enfim, os mais variados motivos. Ele não sabe responder o índice de cada caso e explica as razões: “Não fazemos estatística dos motivos das ligações, mas 80% é solidão. Nossos telefones não registram ligações, nome, endereço, nada. Ou seja, não identificamos a pessoa sobre nenhum aspecto. O foco do voluntário é acolher o sentimento, ouvindo a pessoa sobre aquilo que ela não consegue falar com a família ou amigos”, garante.
Mas sabe-se que, por falta de contatos como esse do CVV, a cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase um milhão por ano.

Como esvaziar o copo d’água

Perguntado como age o voluntário, Paulo Renato responde com a seguinte comparação. “É como um copo de água que vai enchendo e há uma gota que transborda. O papel do voluntário do CVV é esvaziar esse copo“, define. Ele diz que o voluntário é preparado, durante nove meses de curso, para suportar tudo. Mas não opina sobre nada. Se ele ouve um pedófilo, por exemplo, dizendo que tem um sobrinho, um parente, uma pessoa menor de idade, o voluntário foca no sentimento e não no ato praticado. Ele não pode interferir ou dar sugestões na vida da pessoa ou suas escolhas. “O voluntário deixa a pessoa tomar consciência de que a solução está nela”, explica o coordenador, que perdeu um irmão, vítima se suicídio. “Talvez se ele tivesse ligado para o CVV, poderia ter esvaziado o copo”, imagina.
>>Suicídio no Brasil – Estudos feitos pela Universidade de Campinas (Unicamp) apontam que 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram em dar fim a própria vida. Destes, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso. Porém, segundo a mesma fonte, na maioria das vezes, é possível evitar que esses pensamentos suicidas virem realidade. A primeira medida, no entanto, é a educação: deixar de ter medo de falar do assunto, derrubar tabus e compartilhar informações ligadas ao tema. Saber quais as principais causas e as formas de ajudar pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio no Brasil, onde hoje, 32 pessoas por dia tiram a própria vida.

por Davi de Castro – davi.castro@jornalhoje.inf.br

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