Vila Kennedyé esconderijo de traficantes de outras comunidades

Os militares na Vila Kennedy, nesta quinta-feira Foto: facebook

Quem mora na Vila Kennedy, comunidade na Zona Oeste do Rio que nesta quinta-feira tem a quinta operação das forças de segurança, já sabe: quando há ações policiais de grande porte em outros pontos da cidade, bandidos procuram abrigo no local. Criminosos do Complexo do Alemão, da Favela do Jacarezinho e da Cidade Alta, todos na Zona Norte, por exemplo, se instalaram na região para fugir de cercos feitos pela polícia.

“Sempre vieram traficantes se esconder aqui quando tem grandes operações em outras comunidades. Foi quando esses bandidos começaram a chegar que algumas das barricadas nas ruas foram instaladas”, disse um morador.

Segundo ele, as barricadas retiradas nesta quarta-feira pelas Forças Armadas não foram recolocadas pelos traficantes. O morador atribui isso ao fato de a operação ter terminado por volta das 20h:

“Acho que nem se quisessem (os bandidos) teriam como fazer isso. Não houve tempo. Os militares aíram à noite de voltaram no amanhecer.

Uma das barreiras retiradas nesta quarta era próxima a um dos contêineres da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a Avenida Etiópia. O acesso naquele local foi permitido novamente após mais de um ano de bloqueio.

Um outro morador contou que ouviu dos militares que a ocupação na Vila Kennedy continuará nos próximos dias.

“Já avisaram que todos os dias haverá forças de segurança patrulhando por aqui. Acho que será muito positivo. As entregas poderão volta a ser feitas. As encomendas, que hoje são entregues por algumas empresas Praça Dolomitas, chegarão às casas”, disse ele.

 

Moradores pedem delegacia e ações sociais

 

Além do reforço no patrulhamento, moradores da Vila Kennedy pedem a constução de uma delegacia da Polícia Civil no local — a exemplo do que aconteceu com a Rocinha, na Zona Sul, e no Complexo do Alemão.

“Precisamos também de professores nas escolas da prefeitura. O Rio das Sardinhas está sujo e cheio de construções irregulares. As unidades de saúde estão sem médicos. A Vila Olímpica está precisando de reforma”, disse um morador.

O general Walter Braga Netto, nomeado interventor federal, quer, com as incursões, preparar um modelo de atuação militar em áreas urbanas.

— O objetivo é levar não só a parte policial, mas o restante dos serviços que o estado e o município têm que prestar na Vila Kennedy. Vamos continuar fazendo essas ações até que seja restabelecida a capacidade da Polícia Militar de realizar o patrulhamento ostensivo no local. É importante mostrar para os moradores que o Estado manda ali — explicou Braga Netto durante uma entrevista concedida ontem à Rede Globo.

O desafio da intervenção federal é grande. Em redes sociais, traficantes da Vila Kennedy vêm publicando fotos de pistolas e fuzis, sinalizando que não pretendem abandonar tão cedo a comunidade. E, depois de cada operação, barricadas destruídas por militares são reerguidas. Apesar disso, Vinícius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança, disse que, mesmo sem apreensões de armas ou prisões, ações constantes do Exército numa mesma comunidade tem “um forte efeito psicológico”:

“Se o Estado retira barricadas e o tráfico as recoloca, a mensagem é clara: o crime quer mostrar que quem manda ali é ele. Por isso, é importante continuar destruindo os obstáculos. Na verdade, isso sempre deveria ter sido feito pela polícia. Além de recolher informações de inteligência, esse tipo de operação proporciona uma boa sensação para os moradores e preocupa os bandidos, pois indica que a tropa não vai desistir da comunidade.

error: Conteúdo protegido !!