*Michel Alcoforado
Não faz muito tempo que a Cultura se tornou tema de debate em toda parte. Seja numa mesa de bar de um happy hour na sexta-feira pós trabalho ou em uma rodada de decisões de um conselho de líderes de uma grande empresa chega o momento em que alguém justifica o sucesso ou fracasso do mundo pelas razões culturais. O céu e o inferno de nossas vidas é sempre culpa da cultura.
Mas, afinal, o que é cultura? Até mesmo dentro da Antropologia, não chegamos a um acordo. Vez por outra, surge um novo teórico com um nova definição para o velho conceito. De todo modo, tendo a acreditar que cultura nada mais é do que uma teia de significados tecidas pelos atores sociais e no qual todos estamos presos. Não há escolha.
Peter Drucker, grande teórico e estrategista, soube valorizar o conceito e introduzi-lo no mundo das grandes corporações. Certa vez, aconselhou os seus leitores que a cultura interna de cada corporação e dos países nos qual atuam precisam sempre ser levadas em consideração na tomada de qualquer decisão. Caso contrário, “Culture eats strategy for breakfast”, a frágil teia que prende as empresas aos seus consumidores rompe e a vida de todo mundo fica mais complicada.
Com isso, não é difícil afirmar que empresas que olham mais para dentro do que fora estão com os dias contatos. Ok… E aquelas que dão certo? Por que tão certo? A resposta é clara: Empresas de sucesso são aquelas que ajudam o seu público alvo a resolver as tensões culturais inerentes ao seu mundo e criam modelos de negócio apoiados nisso.
Um bom exemplo é a rede de academias Smart Fit. Com a inauguração da primeira unidade em 2009, rapidamente a empresa viveu um intenso processo de expansão. Em 2015, já tinha mais de 200 unidades em operação, 650 mil alunos e com um plano de expansão de mais 50 novas academias no Brasil e no exterior. O sucesso do negócio obedecia uma regra básica: serviço com qualidade, preços baixos, margens de lucro pequenas e um enorme contingente de alunos. Mas, como trazer uma enorme quantidade de frequentadores – elemento fundamental para esse modelo de negócio?
A Smart Fit foi pioneira na resolução de uma tensão cultural. Os gestores identificaram um dilema: cada vez mais, ganhava força a necessidade de todos contratarem os serviços de uma boa academia, mas poucos iam. Por consequência, eram comum os relatos de pessoas que pagavam caro pelo serviço, mas não o utilizavam. Resultado, sentiam-se culpados. A Smart Fit resolveu esse problema. Com equipamentos de última geração e custo baixo, a empresa agrada aos que pagam e vão, já que encontram um serviço de qualidade, e aos que pagam e não vão – grande maioria. Afinal, “é tão baratinho, não precisa cancelar”.
Com isso, fica claro que empresas com propósito são aquelas preocupadas em solucionar as tensões culturais vividas por seus consumidores. Enfim, onde aperta o calo do seu consumidor?
*Michel Alcoforado é antropólogo e sócio fundador da Consumoteca, uma boutique de conhecimento especializada no consumo e nas tendências de comportamento do brasileiro.