Prefeito Rogerio Lisboa sabia do risco do viaduto Padre João Musch

Máquinas estão sendo utilizadas na remoção de 24 centímetros de camada de asfalto que sobrecarregou o viaduto
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

O prefeito de Nova Iguaçu, Rogerio Lisboa (PR) demorou 25 anos para ter certeza de que o viaduto Padre João Musch, no centro da cidade, corria risco de desabamento. O primeiro contado dele com essa situação foi em 1993, quando era secretário de obras do ex-prefeito Altamir Gomes.
Na ocasião, diante das reclamações de motoristas e pedestres e de várias reportagens publicadas pelo Jornal de Hoje, o então vereador Rogerio (PDT), aos 25 anos, pediu um laudo técnico do viaduto. Agora prefeito, perto de completar 51 anos no dia 22 de agosto, ele confessa saber do risco.
Ao ingressar da política, o jovem Rogerio Lisboa foi eleito vereador pelo PDT, em 1993. Aliado do prefeito eleito Atamir Gomes (PDT), também fez parte do secretariado. “Nomeei ele como secretário de Indústria e Comercio. Mas, poucos meses depois, o tirei e nomeei para o cargo de secretário de Obras”, lembra Altamir.
Naquela época, o Jornal de Hoje publicou várias reportagens sobre as reclamações de motoristas e pedestres, denunciando que o viaduto Padre João Musch estava balançando demais. Procurado pela equipe do JH, Rogerio concedeu várias entrevistas se comprometendo a apurar as denúncias e tomar providências. Chegou a pedir um laudo técnico, que fora feito. Porém, não falou a respeito do documento.

Não se moveu uma palha

Pontes foram improvisadas sobre as alças para a passagem de pedestres
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

Reeleito duas vezes vereador (1996 a 2000) pelo PFL, em 2005 Lisboa foi novamente secretário de Obras do então prefeito (e amigo pessoal), Lindbergh Farias (PT). Apesar de o seu governo gozar de grande prestígio junto ao presidente da República, Luiz Inácio Lula, Lisboa, que era um secretário de peso, não moveu uma palha para fazer as obras de reestruturação do viaduto João Musch.
Em 2006 teve os direitos políticos cassados pela justiça, por improbidade administrativa. Com os direitos restabelecidos logo depois, foi eleito deputado federal pelo PFL. Deixou Brasília e, em 2015, foi eleito deputado estadual. Apesar da sua proximidade com o governo do estado, mais uma vez, não deu importância à reestruturação do viaduto de Nova Iguaçu. No ano seguinte, 2016, ganhou as eleições para prefeito de sua cidade.

Quase três décadas de espera

Uma das cabeceiras do viaduto vendo sendo utilizada como estacionamento
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

Passados 26 anos do primeiro cargo de secretário de Obras ocupado por Rogerio Lisboa, quando ele tomou conhecimento da situação de risco do desabamento do viaduto João Musch, mais uma vez, o JH iniciou uma série de reportagens sobre o assunto. Ou seja, as mesmas reclamações de 1993, mostrado a ferragem exposta e enferrujada, a estrutura de concreto cedendo e o reboco de cimento despencando sobre veículos estacionados embaixo.
Diante da gravidade do caso e da opinião do engenheiro Eliçon Canuto, em uma das mais recentes reportagens do JH, Lisboa interditou o viaduto para obras de restauração – o que tornou um trânsito da cidade em um caos ainda maior. As obras de reforma e restauração deverão durar, pelo menos, seis meses. Enquanto isso, uma das cabeceiras já virou estacionamento.
Máquinas pesadas estão fazendo a fresagem da pista, ou seja, arrancando os 24 centímetros de camadas de asfalto velho. Na obra serão utilizados parafusos de 3 metros e quase 100 quilos para conter a estrutura. O acesso só está permitido a pedestres, para os quais duas pontes foram improvisadas sobre as alças, que já estavam com desnível de 10 centímetros.

A confissão do prefeito

No dia 8 de março, finalmente, o prefeito Rogerio Lisboa publicou na sua página, no Facebook,  um ‘mea culpa’ com a seguinte confissão:
“Ao invés da remoção do asfalto velho e colocação do novo, o viaduto padre João Mursch (sic) foi recebendo ao longo dos anos novas camadas superpostas, o que resultou em um asfalto de 24 cm de altura e uma sobrecarga na estrutura de 576 kg/m². Esta manutenção inadequada foi, sem dúvida, um dos fatores que colocou o viaduto em risco. Sabemos o impacto no trânsito causado por sua interdição e estamos trabalhando para entrega-lo de volta à população o mais rápido possível, desta vez, dentro dos padrões indispensáveis de segurança”.
>>Memória – O viaduto Padre João Musch, com cerca de 120 metros de extensão, foi construído há 50 anos, na gestão do governador do Estado do Rio, Geremias Fontes, ligando os dois lados de Nova Iguaçu, sobre a linha férrea, da Rua Roberto Silveira à Rua Dr. Mário Guimarães. Na ocasião, não mais do que 5 mil veículos circulavam pelo centro da cidade todos os dias, segundo informam moradores antigos. “Naquela época, comprar carro era coisa de gente rica. Agora todo mundo pode ter um”, lembra dona Geíza Gomes Vieira, 72 anos.
Atualmente, uma média de 300 mil veículos estão emplacados na cidade, segundo fontes da Secretaria Municipal de Transportes.  Destes, mais de 40 mil cruzam o viaduto todos os dias. De acordo com recomendações técnicas de engenharia, a altura de uma camada de asfalto deve ser de 5 a 10 centímetros, para veículos leves e pesados respectivamente. E a base para o assentamento do asfalto deve ser de 30 centímetros de altura. No entanto, ao longo dos anos, várias camadas de asfalto foram colocadas sobre as outras, somando-se uma altura 24 centímetros. Isso, conforme confessou o prefeito, aumentou em quase 600 vezes (por metro quadrado) o peso sobre o viaduto.
Como a obra, segundo engenheiros, não fora projetada para suportar tanto peso, a estrutura foi se comprometendo, as juntas foram se deteriorando, a ferragem ficou exposta e as infiltrações colocaram o viaduto em situação de colapso (desabamento), como observou o engenheiro Canuto.

por Davi de Castro – davi.castro@jornalhoje.inf.br

error: Conteúdo protegido !!