Abel transforma grupo desacreditado em time competitivo

Jogadores do Fluminense celebram título da Taça Rio conquistado com goleada sobre o Botafogo
André Durão/GloboEsporte.com

O Fluminense começou o ano sob muita desconfiança por ter perdido quase todo o time titular com as saídas de Diego Cavalieri, Lucas, Henrique, Wendel, Gustavo Scarpa, Wellington Silva e Henrique Dourado.
E se ainda é cedo para fazer prognósticos para a temporada a partir do título da Taça Rio, 2º turno do Campeonato Carioca, é possível analisar como Abel Braga conseguiu transformar em pouco tempo um grupo desacreditado em um time competitivo, que se por um lado caiu precocemente na Copa do Brasil, por outro não perdeu nenhum dos cinco clássicos que disputou até aqui.
Entrega e superação
“Não nos achamos superiores a ninguém. Mas para ganhar da gente tem que correr, pelo menos, igual”, disse Abel após a partida. Este é o espírito do Fluminense em 2018. Ciente de suas limitações, o elenco tricolor as têm compensado com disposição e seriedade. O maior exemplo foram os confrontos contra o Flamengo, equipe de elenco mais robusto e com mais talentos individuais.
– Ano passado o time chegou a empolgar com futebol muito lindo, rápido, vistoso. Mas não era tão competitivo. Quando você vê as perdas… Foram onze jogadores! Temos que confiar muito naquilo que fazemos e o jogador confiar em nós – lembrou o treinador.
Formação com três zagueiros
Ainda em 2017, Abel teve a ideia de passar a usar três zagueiros este ano para diminuir a quantidade de gols sofridos. Tem dado certo. Dos 17 jogos oficiais, não levou gols em dez. O esquema deixa também os laterais Gilberto e Ayrton Lucas mais livres para atacar. Não por acaso, as jogadas pelo lado são uma das principais armas do time.
– Esse ano conseguimos uma coisa diferente de uma forma muito rápida. Não é mérito meu, é dos jogadores. Entenderam a forma de jogar – destacou Abel.

Entrosamento e poucas lesões
Por ter um elenco limitado, Abel não tem muito o que inventar nas escalações. Além disso, o Flu não vem sofrendo com lesões neste início de ano. Com isso, o time titular (Júlio César, Renato Chaves, Gum e Ibañez, Gilberto, Richard, Jadson e Ayrton Lucas; Sornoza, Marcos Jr. e Pedro) tem jogado junto com frequência e rapidamente adquiriu entrosamento. Essa repetição no entanto, inevitavelmente não ocorrerá ao longo da desgastante temporada. Por isso, o clube precisará qualificar mais o elenco se quiser ter maiores ambições no Brasileirão.

Coletivo x individual
“Quando o coletivo vai bem, o individual se sobressai”, diz uma das máximas do futebol. E é o que tem acontecido no Fluminense. Diversos jogadores vivem ou alternam boas fases. Júlio César vem de dois grandes jogos consecutivos; Gilberto e Sornoza já tiveram atuações de gala; Ayrton Lucas e Ibañez são algumas das revelações do campeonato; Renato Chaves e Gum têm mostrado segurança, e Richard e Jadson, muita regularidade; na frente, Marcos Jr. e Pedro têm alternado boas fases.

Aprendendo com erros
Nem só de acertos vive o Fluminense nesses primeiros meses. O próprio Abel Braga cometeu dois erros que custaram a eliminação para o Avaí na Copa do Brasil – substituições que se mostraram equivocadas na ida (Marlon Freitas no lugar de Sornoza) e na volta (Dudu no lugar de Richard). Nos clássicos contra o Flamengo e o Botafogo, por sua vez, tem feito alterações mais efetivas, como as entradas de Pablo Dyego, dando novo gás ao ataque no 2º tempo, e de Douglas, mantendo o nível do meio de campo titular.

Salários em dia
Outro ponto que vale destacar. O cumprimento da promessa de pagamento dos salários em dia tem tido efeito, mesmo que inconsciente, no grupo de jogadores. Com os vencimentos regularizados, os atletas tem ido para os jogos sem carregar problemas extra-campo, o que influi positivamente nas atuações. Ano passado, atrasos e promessas não cumpridas atrapalharam muito a reta final de temporada. Por isso, será de grande importância o Flu conseguir não atrasar os pagamentos ao longo do ano.

“O Pedro vai te pegar”?

Após um começo de ano sob desconfiança da torcida, Pedro teve sua maior atuação com a camisa do Fluminense neste domingo, contra o Botafogo. O atacante abriu o placar aos 12 minutos do 1º tempo e deu um passe açucarado de peito para Marcos Jr. fazer o segundo encaminhando a vitória por 3 a 0, que deu ao Tricolor o título da Taça Rio. De quebra, ainda se tornou um dos artilheiros do Campeonato Carioca e o líder de assistências do time na temporada.
Após o apito final, ouviu das arquibancadas o grito “O Pedro vai te pegar!”, em alusão à música que os torcedores cantavam para o ídoloFred, hoje no Cruzeiro – e que sofreu grave lesão no joelho neste domingo. Uma responsabilidade grande, que o próprio centroavante tricolor fez questão de ressaltar.
– Responsabilidade grande. Sei do peso que é ser titular do Fluminense. Sempre sonhei com esse momento, a torcida gritar meu nome no Maracanã em uma final. O Fred é um ídolo para mim. Sempre o acompanhei quando subi para o profissional, seus treinos de finalização. Um cara que entende muito da área. É dar sequência no trabalho e fazer muito mais gols pelo clube para voltar a ouvir a torcida gritar meu nome – disse.
A responsabilidade de Pedro é grande mesmo. Com apenas 20 anos, tornou-se titular este ano. E com a incubência de substituir Henrique Dourado, artilheiro do Brasileirão 2017, que despontava como ídolo da torcida. Este que, por sua vez, sucedeu Fred, um dos grandes nomes da história do Fluminense.
O começo da trajetória de Pedro no Tricolor, aliás, contou com a contribuição de Fred. Quando começou a fazer a transição para o profissional, em 2016, o jovem jogador tinha o veterano atacante como grande referência. Sempre que trabalhava nas Laranjeiras com o grupo, procurava observar os treinos de finalização dele.
– Além de ídolo, o Fred é também um amigo fora de campo. Ele me dava muitas instruções dentro de campo, de movimentação, de finalização. E sou um cara que sempre escuto os mais experientes. Só tenho a agradecer a Deus pelo companheirismo que ele tem comigo.
Fred, inclusive, chegou a falar uma vez que Pedro era “diferenciado”, quando o garoto ainda atuava pelos juniores. O agora titular do ataque tricolor preferiu o tom humilde:
– Tem que ter muita calma. É meu primeiro ano de fato como profissional, titular. Mas fico feliz com o elogio dele, um cara que é ídolo da torcida. Mas tenho que trabalhar e manter os os pés no chão para me tornar um grande jogador no meio do futebol.
“Espero que se recupere logo”
Tal relação de amizade fez Pedro sentir ainda mais a grave lesão que Fred sofreu também no domingo. O atacante do Cruzeiro rompeu os ligamentos do joelho direito na partida contra o Tupi e não deve mais atuar na temporada.
– Eu fico triste por ele. Vou mandar uma mensagem. É um cara que merece demais coisas boas, trabalhador. Infelizmente aconteceu isso, que pode acontecer com qualquer jogador. Espero que ele se recupere logo e volte a dar alegrias para o futebol.

error: Conteúdo protegido !!