Décima terceira caminhada relembra chacina da Baixada

Na manhã desta sexta, dia 31 de março, familiares de vítimas e diversos movimentos sociais promoverão a décima terceira caminhada em memória à chacina da Baixada. A concentração foi na Rodovia Presidente Dutra, na altura do bairro Explanada, e sairá no trajeto por onde as pessoas foram assassinadas em Nova Iguaçu, pelos bairros da Posse até a Cerâmica. Em cada local das mortes, será feita uma parada e prestado homenagens às vítimas.

Jovem Fica Vivo no dia 31 de março

Na apresentação do grupo Cólera, no Subúrbio Alternativo no dia 31 de março, a ComCausa lançara mais uma edição imprensa do fanzine e iniciará a campanha 2018 de adesão ao ‘Jovem Fica Vivo’ através de registros fotográficos. “Hoje, com as redes de internet, podemos juntar muita gente para promover uma cultura de direitos”, afirma Adriano Dias, idealizador da campanha.
Em 2014, a ComCausa lançou a campanha Jovem Fica Vivo que tem como finalidade promover uma cultura de direitos entre a juventude, discutindo as conjunturas que a levam a ser as principais vítimas e perpetradoras da violência, mas principalmente, destacando as virtudes dos movimentos positivos promovidos por estes. Foram. Para isso foram realizadas campanhas eletrônicas e impressas, produção e exibição de vídeos, palestras, debates, saraus de poesia, apresentações musicais, construção e mostras de fanzines, entre outros. Saiba nais emcomcausa.net/jovemficavivo

 

Relembre a maior chacina do Rio de Janeiro

No dia 30 de março de 2005, noite de quarta-feira, policiais decapitaram duas pessoas e atiraram a cabeça de uma delas para dentro do 15º Batalhão da Polícia Militar, em Duque de Caxias. As cenas foram registradas pelo sistema de segurança de uma escola ao lado do Batalhão.
A ação seria uma resposta ao comando da polícia pela “operação Navalha na Carne”, que colocou sob detenção mais de uma centena de policiais e levou vários outros a prisão por desvio de conduta.
Na noite seguinte, 31 de março, policiais iniciaram uma sequência de mortes em Nova Iguaçu e terminaram em Queimados. O resultado foi 29 mortos, sendo, oito crianças.
Foi a maior chacina do Rio, chocou o Brasil e ganhou o noticiário internacional
Na tarde de 31 de março de 2005, segundo investigações, por volta das 16 horas, os policiais: Marcos Siqueira Costa, José Augusto Moreira Felipe, Carlos Jorge Carvalho e Júlio César Amaral de Paula, passaram quatro horas bebendo no bar Aza Branca, na Rua Dom Valmor, no centro de Nova Iguaçu. Na frente do bar, um gol prata estava parado com as portas abertas.
Junto com eles estava Fabiano Gonçalves Lopes, que teria saído do local pouco depois das 20 horas, quando o grupo entrou no carro e seguiu até o acesso da Via Dutra, sentido São Paulo, no bairro Esplanada. No acesso para o bairro da Posse, às 20h35, assassinaram Rafael da Silva Couto, de 17 anos, e seu amigo, William Pereira dos Santos, que voltavam do trabalho para a casa, de bicicleta.
Os policiais seguiram pela Rua Gonçalves Dias e pela Avenida São Paulo, onde fizeram mais duas vítimas: a travesti Luiz Carlos da Silva, de 23 anos e José Carlos de Oliveira, de 39 anos, que passavam pelo local no momento em que os tiros foram disparados.
Retornaram à via Dutra, passaram por baixo do viaduto da Posse e, pouco antes das 20h50, assassinaram outra travesti: Alessandro Moura Vieira, de 15 anos.
Entraram em uma rua transversal que dá acesso à Rua Gama (na altura da Escola de Samba Flor do Iguaçu), no bar Caíque, onde, por volta das 21h, balearam dez pessoas, matando nove. No local foram alvejados: a comerciante Elizabeth Soares Oliveira, de 43 anos, o deficiente auditivo Felipe Carlos Soares de Oliveira, de 13 anos, Bruno da Silva Souza, de 15 anos (esses dois últimos jogavam fliperama no bar), o biscateiro Jonas de Lima Silva, de 15 anos, o funcionário público Robson Albino, de 25 anos, Manoel Domingos Lima Pereira, de 53 anos, Jaílton Vieira, de 27anos (era vizinho do bar e tinha ido pagar uma dívida de R$ 2,00), o segurança José Augusto Pereira da Silva, de 38 anos, Maurício (cunhado de Caíque, dono do bar), Douglas Brasil de Paula, de 14 anos, estudante, que trabalhava em uma padaria da localidade e Kênia Modesto Dias, de 27 anos, esposa de Caíque. Douglas e Kênia chegaram a ser socorridos, mas morreram no hospital.
Perto das 21h15, os assassinos passaram pelo centro comercial do bairro Cerâmica e na Rua Geni Saraiva, mataram mais duas pessoas: Leonardo da Silva Moreira, de 18 anos, que havia ido encontrar-se com a namorada no portão de casa, e o padeiro César de Souza Penha, de 30 anos.

 

Voltaram para a Via Dutra e seguiram até Queimados

Às 21h15, na Rua Vereador Marinho Hermetério Oliveira, em frente à Mania Lava Jato, foram mortos o dono do estabelecimento, Luís Jorge Barbosa Rodrigues, de 27 anos, Wagner Oliveira da Silva, de 25 anos, Márcio Joaquim Martins, de 26 anos, e o estudante e ladrilheiro, Fábio Vasconcelos, de 29 anos.
Eram quase 21h30m, quando os criminosos seguiram para o bairro Campo da Banha, onde atacaram cinco pessoas que estavam num bar: os estudantes Marcelo Júlio Gomes do Nascimento, de 16 anos, e Marcus Vinícius Cipriano Andrade, de 15 anos, o segurança Francisco José da Silva Neto, de 34 anos, o padeiro Marco Aurélio Alves, de 37 anos, e João da Costa Magalhães, que estava sentado na porta de casa.
Tudo indica que a maioria das vítimas foi escolhida aleatoriamente. Em alguns pontos, os assassinos simplesmente passaram atirando. As vítimas receberam 96 tiros – algumas foram baleadas 13 vezes. Muitas receberam tiros na nuca e no rosto para que se certificasse de que morreriam.

 

Julgamentos

Em maio de 2005, o Ministério Público denunciou onze envolvidos. Entretanto, em fevereiro de 2006, a juíza da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu – Elizabeth Louro – admitiu parcialmente a denúncia e pronunciou apenas cinco. Segundo a justiça, somente contra estes foram encontrados indícios suficientes para levá-los ao Tribunal de Júri. Outros quatro foram inocentados e dois foram acusados apenas pelo crime de formação de quadrilha.
Foram pronunciados por formação de quadrilha: o cabo Ivonei de Souza, que entrou com recurso contra a decisão e o cabo Gilmar Simão, que foi assassinado em outubro de 2006, quando ia prestar depoimento na 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar.
Em agosto de 2005 o soldado PM Carlos Jorge, foi condenado a 543 anos de prisão.
No final de novembro de 2006, o cabo Siqueira, outro acusado, levou oito facadas na barriga e no peito, em sua cela no Batalhão Especial Prisional. Marcos ia depor no dia seguinte e assim como Gilmar, estava negociando a “delação premiada”. José Felipe e Carlos Carvalho são suspeitos de serem os autores da tentativa de assassinato.
Em dezembro de 2007 José Augusto Moreira Felipe foi condenado a 542 anos de prisão em regime fechado. Já no dia 12 de março de 2008, Fabiano Gonçalves Lopes foi absolvido das acusações de homicídio e condenado a sete anos de prisão por formação de quadrilha. O júri acatou a tese da defesa de falta de provas. O próprio Ministério Público retirou a acusação de homicídio e manteve apenas a de formação de quadrilha.
Os últimos três ex-policiais – dos sete ex-agentes acusados de envolvimento na “chacina da Baixada” – foram julgados em setembro de 2009. Júlio Cásar do Amaral de Paula e Marcos Siqueira Costa foram condenados a 480 e 543 anos de prisão, respectivamente, por sentenciados por homicídio qualificado e formação de quadrilha. Ivonei de Souza, que respondia por formação de quadrilha, foi absolvido por falta de provas.
Todos os julgados foram expulsos da Polícia Militar.

 

A sociedade reage

01.04.2005 – Guilherme Pinto – EXT PO – Chacina na Baixada Fluminense – Enterro de Renato Azevedo dos Santos

O episódio provocou uma grande comoção pública, a partir deste foi criado o Fórum de Entidades Reage Baixada, para manifestar a solidariedade, a cobrança por justiça e a proposta de valorização da vida.
Da tragédia surgiram movimentos de reação à violência. Somente esses mantêm a viva a memória dos que foram mortos. Segundo pesquisa do NASP/UFRJ, chegou a envolver 202 entidades, a maioria delas de Nova Iguaçu, seguindo-se Queimados e Mesquita participaram das diversas atividades. Houve também representantes dos municípios de Duque de Caxias, Belford Roxo, Nilópolis, São João de Meriti, Seropédica, Itaguaí, Petrópolis e Rio de Janeiro.
Este episódio influenciou fortemente para que instituições, como a ComCausa, assumisse definitivamente a bandeira da promoção e defesa de uma cultura de direitos humanos na Baixada Fluminense e que sistematizássemos formas de acolher e apoiar amigos e familiares de vítimas da violência.
Assim, todos os anos nós nos juntamos a amigos e familiares para realizar uma caminha em memória às vítimas desta e outras violências.
Para lembrar as vítimas, a ComCausa criou o memorial e fez um documentário sobre os movimento de protestos dos familiares das vítimas (comcausa.met/chacinadabaixada)

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