Violência derruba valor de imóveis na Praça Seca

Imóveis estão à venda na Rua Cândido Benício, principal rua da Praça Seca Foto: reprodução

No fim do ano passado, a guerra entre traficantes e milicianos pelo controle de favelas da Praça Seca, na Zona Oeste, se acirrou, tornando ainda mais frequentes as trocas de tiros na região. A violência no bairro tem levado medo à população e, também, atrapalhado o mercado imobiliário. O movimento numa das imobiliárias mais tradicionais da região, a MR Imóveis, caiu drasticamente de um ano para cá. O número de 60 vendas por mês despencou para apenas três.

Mustafá Rezende, diretor da imobiliária, relata que no início de 2017, possuía duas equipes de vendas, uma com 12 funcionários e outra, com 13. Hoje, são dois corretores. A procura de pessoas interessadas nos imóveis também despencou. Há um ano, eram 450 chamadas por mês. Atualmente, são entre 20 e 25. Para Mustafá, a violência, aliada à crise econômica, tem sido determinante para a queda expressiva no interesse de clientes por imóveis na Praça Seca.

— Todo mundo quer vender seu imóvel na Praça Seca, mas ninguém quer comprar. Por semana, recebo de seis a sete novos imóveis para colocar à venda aqui, mas não há procura. Estou há 12 anos na Praça Seca, e a situação da violência nunca esteve tão ruim. Como se não bastasse isso, a crise econômica fez com que a população quebrasse — opina Mustafá.

A situação narrada pelo dono da MR Imóveis é justamente a vivida por X., moradora da Praça Seca que tenta vender um imóvel no bairro há seis meses. Assustada com a violência, ela quer se mudar, mas não consegue fechar negócio:

— Já estive perto de vender duas vezes, mas, por causa dos tiroteios, as pessoas desistem. Quero ir embora daqui mas, para isso, preciso vender meu apartamento. Eu me sinto refém.

Vice-presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio), Leonardo Schneider afirma que a violência é um fator que historicamente contribui para a desvalorização imobiliária. Nos últimos três anos, o preço do metro quadrado para venda de imóveis na Praça Seca caiu 9%. O valor estava em R$ 4.190, em março de 2015, e caiu para R$ 3.807, este ano.

— No caso da Praça Seca e da região de Jacarepaguá, os índices de criminalidade vêm aumentando desde 2015, e geram uma fuga de moradores, que acarreta no aumento da quantidade de imóveis disponíveis — diz.

Na noite de sábado, houve troca de tiros na região. Policiais do 18º BPM (Jacarepaguá) entraram em confronto com suspeitos num Corolla branco, na Rua Capitão Meneses, próximo ao morro do Barão. Um homem morreu e outro ficou ferido. Foram apreendidos o carro, que era roubado, e revólver.

Entenda a guerra

Os tiroteios na Praça Seca se acirraram no fim de 2017, quando o miliciano Hélio Albino Filho, o Lica, foi expulso do Morro da Chacrinha. Ele era responsável pela cobrança de taxas na comunidade. Lica então se aliou à maior facção criminosa do Rio para tomar Chacrinha e Bateau Mouche, favelas que eram dominadas por Horácio Souza Carvalho, preso em fevereiro deste ano. As comunidades ficam separadas pela Rua Cândido Benício.

Hoje, o tráfico domina a parte alta da Bateau Mouche, e milicianos, baseados na Chacrinha, continuam exigindo taxas de moradores da parte baixa da comunidade e tentam retomar a Bateau Mouche ,

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