Justiça decide manter prisão preventiva de 159 detidos em ação contra milícia no Rio

Madrugada: parentes na frente do tribunal durante audiência

O Tribunal de Justiça do Rio manteve a prisão preventiva das 159 pessoas presas em uma festa em um sítio, organizada, segundo a polícia, por milicianos em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. A audiência de custódia terminou por pouco depois de 3h30m desta quarta-feira, após 15 horas de duração. O grupo foi capturado durante uma operação da Polícia Civil de combate aos paramilitares na madrugada do último sábado. Os custodiados estavam representados por advogados particulares ou pela Defensoria Pública.

Parentes dos presos se posicionaram na frente do tribunal desde a manhã desta terça-feira. Durante esta madrugada, eles fizeram orações, cantaram o hino nacional e gritaram por “justiça”. Ao contrário do que alega a polícia — de que as pessoas detidas durante a operação possuem alguma ligação com a milícia que atua na Zona Oeste —, os familiares dizem que muitos dos que estão ali não têm nenhuma ligação com criminosos e que haviam ido até o sítio, alvo da operação, para aproveitar a festa e as apresentações de dois grupos de pagode. Ressaltaram, inclusive, que ingressos foram comercializados e que houve divulgação do evento na região.

O clima foi de desespero quando a decisão da Justiça foi anunciada para os familiares que aguardavam no local. Advogados também disseram não concordar com o Tribunal de Justiça. Entre os 159 custodiados, 25 casos são cuidados pela Defensoria Pública.

— Todos os assistidos pela Defensoria Pública são primários e com bons antecedentes. Não tem passagem criminal alguma. Dentre eles, têm cidadãos motoristas de ônibus, chapeiros, cozinheiros… Pessoas com a atividade lícita comprovada, que foram a uma festa e se encontram presas. Muitos deles vão perder o emprego e outros vão ter uma anotação criminal como milicianos — afirmou o coordenador de defesa criminal da Defensoria Pública Emanoel Queiroz Rangel, antes da prisão preventiva ser mantida pela Justiça, nesta madrugada.

— No documento oficial que inaugura a investigação, a autoridade policial profere uma decisão dizendo que as pessoas estão presas. Nesse documento, não há um número de procedimento investigatório anterior. Se existiu uma investigação prévia, essa não chegou ao conhecimento do procedimento que está sendo posto a decisão. Não há individualização de ninguém, não se identifica o nome de ninguém. São 11 pessoas mencionadas em um flagrante que tem 159 presos. Ir a uma festa ainda não é crime neste país.

A operadora de caixa Michele Regina Barbosa era uma das que aguardavam em frente ao tribunal e contou que o marido, Alex Sandro Silva Souza, de 26 anos, foi para a festa, mas que não tinha ligação nenhuma com milicianos. Michele relatou que Barbosa é operador de entregas de um estabelecimento comercial em Santa Cruz. Ela, que tem uma filha de 4 anos junto com Alex, segurava o crachá do emprego do marido.

— Onde um bandido vai ter um crachá de empresa? Ter folha de ponto e tudo registrado. Por que não investigaram isso antes de jogar todas essas pessoas dentro do presídio com outros marginais. Deixei uma filha de 4 anos em casa, perguntando se o pai não voltaria mais. O pai dela não é bandido, é honesto. Nós não merecemos isso, é uma humilhação, uma vergonha — desabafou.

O advogado Diego Silva afirmou que entre os detidos, há pessoas de várias profissões e até um homem diagnosticado com esquizofrenia desde 2014. Ele disse que também cuida do caso de outros dois parentes do rapaz que sofre da doença. Ainda segundo relatos, no grupo também haveria um homem com bolsa de colostomia.

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