Jacira, as crianças e o genro Roberto na fila de atendimento no interior do CIEP 390
Erick Bello

A ausência da administração pública está provocando a maior proliferação de ações sociais da história de Nova Iguaçu. Os serviços que deveriam ser prestados pelo poder público à população, se tornaram mais distantes, abrindo espaço para organizações sociais (OS), associações de moradores e igrejas.
Exemplo disso aconteceu sábado (7), no Ciep 390 (Chão de Estrelas), no bairro Carmari, onde mais de 10 mil pessoas participaram da 9ª edição da Acão Social “Alô, Alô Comunidade Chega Mais”. O evento, que já se tornou tradicional na região, é promovido pela igreja Vivendo Em Graça, sob a direção do pastor Marinaldo Muniz.
As filas se formaram logo nas primeiras horas da manhã, desde a porta do Ciep 390, situado na rua Sete de Setembro, s/n, ocupando mais de 200 metros de extensão até contornar o quarteirão da Estrada Luiz de Lemos. A área estava tomada por placas e faixas e banners informando o local da Ação e os serviços a serem prestados a pessoas de todas as idades, desde crianças, adultos e idosos, nas áreas de cidadania, educação, saúde, beleza, higiene, assistência social e jurídica, além de atividades complementares.
Uma grande estrutura fora montada para atender a população, desde barracas, tendas e postos de serviços. Para comandar toda estrutura, inclusive na distribuição de senhas, segundo o pastor Marinaldo, foi necessária a utilização do trabalho de aproximadamente 500 pessoas. Os trabalhos se encerraram no final da tarde, sem nenhum incidente e com todas as pessoas atendidas. “No ano passado, atendemos 9 mil pessoas. Este ano foi um pouco mais, umas 10 mil ou mais, por aí”, avalia uma organizadora.

Serviços para todas as idades

O atendimento durou o dia inteiro, principalmente nos setores de carteira de trabalho, isenção de taxas para carteira de identidade e certidões de casamento e nascimento. Na área da saúde, centenas de pessoas lotaram as tendas de cardiologia, clinica geral, dentista, ginecologia, nutrição e pediatria, além de saúde bucal. Também foram realizados atendimentos para exames de vista, teste de glicose, eletrocardiograma e verificação de pressão arterial. A área jurídica teve grande movimentação sobre orientações em causas cíveis e trabalhistas. As crianças, além de aplicação de flúor, participaram de atividades como artesanato e oficinas de trabalhos manuais, além de um dia de beleza para a mulherada, com pedicure, manicure e cabelo. “Tudo que a gente vem buscar aqui, é porque o município não oferece. E se tiver, somos obrigados a chegar de madrugada para não perder a vez”, comenta Ana Maria Luiza, 30 anos.
Uma fila que ninguém reclama
Muitos dos que estavam nas gigantescas filas não reclamavam do sol e nem do calor escaldante, pois havia muita gente na distribuição de senhas de serviços, a fila andava rápida e havia distribuição de água para refrescar a garganta. A deputada Rosângela Gomes, convidada do pastor Marinaldo, que posou para muitas fotos e selfies com moradores, aproveitou o caldo de cana para aliviar o calor. Mas, apesar do calor, ninguém reclamou do tempo na fila. “Vale à pena ficar nessa fila, moço”, disse a dona Jacira Alves, 44 anos, à equipe do Jornal de Hoje. “Estive na ação do ano passado e voltei este ano novamente. É a oportunidade que a gente tem de, em um só dia e em um mesmo lugar, fazer tudo aquilo que não conseguimos fazer durante o ano”, comemora ao lado do genro, Roberto Rafael, 23 anos.
>>Desprezo do poder público – Eles trouxeram três crianças para atendimento médico, pediátrico e aplicação de flúor e ainda preencheram a inscrição para uma vaga de emprego. ”Se agente prestar a atenção, tem muitas entidades, como associações e igrejas, que, sem nenhum envolvimento político, estão realizando ações sociais como esta, para suprir o desprezo que o poder público (evitando falar da prefeitura de Nova Iguaçu) tem dado à população”, avalia Orácio Ferreira, 61 anos, morador do bairro.

por Davi de Castro – davi.castro@jornalhje.inf.br