Siciliano tem ‘estreita ligação’ com milicianos, cita inquérito


Siciliano: “Investigações da Draco nada provaram” Foto: CARL DE SOUZA/AFP

O relatório de um inquérito da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil, que investigou, de 2013 a 2016, a milícia da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, vincula o vereador Marcelo Siciliano (PHS) ao grupo paramilitar que domina a favela. Segundo o documento, elaborado pelo delegado Alexandre Herdy, Siciliano, “possui estreita ligação com milicianos” da comunidade. Essa foi a primeira vez que a Polícia Civil citou o vereador numa investigação sobre milícia. Atualmente, a Divisão de Homicídios apura as denúncias feitas por uma testemunha que envolvem Siciliano no assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.

O inquérito foi concluído no primeiro semestre de 2016, quando Siciliano ainda era pré-candidato a vereador. No fim das investigações, apesar de descobrir que foram feitos contatos telefônicos entre Siciliano e acusados de integrarem a milícia, a Draco não indiciou o político. Ele, tampouco, foi denunciado pelo Ministério Público. Procurado para comentar o relatório, ele divulgou uma nota por meio de sua assessoria de imprensa. “As investigações realizadas pela Draco nada provaram sobre a suposta ligação do vereador Marcello Siciliano com milicianos da Gardênia Azul. Esta acusação não tem o menor fundamento”, diz o texto.

No documento da Polícia Civil, o delegado menciona uma série de ligações telefônicas, interceptadas com autorização da Justiça, entre Siciliano e André Cavalcante dos Santos, um dos acusados de integrar a milícia. Nesses contatos, os dois falaram sobre o aluguel de um camarote na casa de shows Barra Music para um estrangeiro. O espaço é o mesmo onde o vereador promovia reuniões de campanha, mesmo interditado à época.

Segundo o relatório, Santos também foi flagrado em ligações com outros interlocutores afirmando “que capturou duas pessoas que estariam furtando residência, na Gardênia Azul, e que as golpeou com um pedaço de madeira (que chamou de pau), até quebrar o braço da pessoa em três lugares, e a perna em dois lugares”.

A investigação sobre a milícia começou em 2013 com o objetivo de apurar denúncias de extorsão feitas por moradores e comerciantes da Gardênia Azul. O delegado concluiu que “não restam dúvidas de que a organização criminosa investigada é bem estruturada, exercendo, com o emprego de um braço armado e regular, coativamente, e tendo o lucro como motivação, o controle do território e da população que nele habita, sob o falso argumento de fornecerem proteção e instauração da ordem”.

Santos, que conversou por telefone com Siciliano, está foragido atualmente. No último dia 17 de abril, ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal. Ele foi denunciado pelo MP por participação no homicídio do sargento da PM Renato Alves da Conceição, fuzilado dentro de uma BMW na Gardênia Azul em 25 de janeiro do ano passado.

Na denúncia, o MP sustenta que o assassinato foi “motivado por vingança de um grupo de milicianos que atua na comunidade da Gardênia Azul, já que a vítima teria se recusado a pagar taxas cobradas pelos milicianos com relação ao serviço de distribuição de cestas básicas no interior do referido bairro”. De acordo com a decisão judicial que decretou a prisão de Santos, após o crime, ele teria “passado a proferir graves ameaças de morte a moradores da região”.

Além de Santos, também foram indiciados pela Draco outras sete pessoas pelo crime de organização criminosa. Entre elas, está Leandro Siqueira de Assis, o Gargalhone, apontado como chefe da milícia da Gardênia Azul. Gargalhone foi preso por agentes da 32ª DP (Taquara) no dia 28 de março deste ano enquanto extorquia dinheiro de comerciantes da região. Na ocasião, foram apreendidos R$ 40 mil com o acusado. Ele foi solto horas depois, por decisão da Central de Custódia da capital. Na ocasião, afirmou que era dono de uma peixaria e que tinha renda mensal de R$ 20 mil. Atualmente, ele está foragido: Gargalhone também teve a prisão decretada, em abril por participação na morte do sargento.

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