Mãe de Marielle diz que seu coração pede que Siciliano não esteja envolvido na morte da filha

A mãe de Marielle, Marinete da Silva, cobra a conclusão das investigações sobre o assassinato da filha Foto: reprodução

“Quem matou Marielle?”. Dois meses após o crime, a principal pergunta sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes permanece sem resposta. Emocionados, os pais de Marielle, Marinete da Silva, de 66 anos, Antônio Francisco da Silva, também de 66, participaram de um ato organizado pela Anistia Internacional, na manhã desta segunda-feira, próximo ao prédio da Secretaria estadual de Segurança Pública, na Central do Brasil, e cobraram uma solução para o crime. Marinete diz que seu coração de mãe pede para que o vereador Marcello Siciliano (PHS) não tenha envolvimento no crime.

O GLOBO revelou no último dia 8 que um homem que trabalhou para um dos mais violentos grupos paramilitares do Rio procurou a polícia para contar, em troca de proteção, que o vereador Siciliano e Orlando Oliveira de Araújo — ex-PM preso sob acusação de chefiar uma milícia em Curicica — queriam a morte de Marielle.

— O meu coração de mãe pede para que não seja (não tenha envolvimento do vereador). Acho que é mais doloroso. Eu conheci aquele rapaz lá na Câmara, em algumas vezes em que eu fui. Espero que não seja. É mais doloroso. É uma traição. Sinceramente, espero que não — diz Marinete.

Em entrevista na semana passada, Siciliano negou qualquer envolvimento com o crime e disse que era amigo de Marielle. Ele disse que “está indignado como ser humano” com o relato de uma testemunha de que ele quisesse a morte de Marielle Franco. Siciliano já tinha sido ouvido pela especializada como testemunha, assim como outros vereadores da Câmara Municipal do Rio.

— Gostaria de esclarecer, antes de mais nada, a minha surpresa com relação ao que aconteceu ontem, a minha indignação como ser humano. Minha relação era muito boa (com Marielle Franco), tinha um carinho muito grande. Agora mais do que nunca faço questão de que esse crime seja esclarecido mais rápido que nunca. Estou sendo massacrado nas redes sociais por algo que foi supostamente dito por uma pessoa que a gente nem sabe a credibilidade que tem. Marielle participou da festa do meu aniversário. A região da Cidade de Deus nunca foi meu reduto. Em Curicica, também não tive votos. Coisas totalmente sem pé nem cabeça. Já prestei meu depoimento. Vim me colocar à disposição. Mais do que nunca, quero que esse caso seja resolvido e tenha oportunidade de acabar isso aí porque foi horrível. Estou muito chateado — afirmou, no último dia 9, o vereador.

Segundo Marinete, a família desconhece qualquer problema concreto da filha com milicianos. Marielle, acrescenta a mãe, fez uma “campanha sadia” na Zona Oeste.

— Diretamente eu não sabia (de problemas com milícia) — acrescenta a mãe. O Dia das Mães, neste domingo, foi em família, com um almoço, conta a advogada de 66 anos. À noite, foram homenageados na Feira das Yabás, em Madureira.

O pai de Marielle, Antônio Francisco da Silva, diz que se for confirmado a participação do vereador será “uma indignação muito grande”, de uma “traição inadmissível”, segundo o aposentado. Ele lamenta a falta de respostas sobre o caso:

— Sessenta dias de angústia, sessenta dias sem respostas das perguntas que fazemos: quem matou a minha filha? Por que matou a minha filha? Até hoje não consigo entender porque foi feito isso com ela. Até hoje não temos, mesmo depois de 60 dias, respostas para essas perguntas.

Marinete reconheceu que houve avanço nas investigações, mas avalia que precisaria haver “uma coisa mais concreta”:

— Está na hora (de uma conclusão das investigações) porque, apesar de ter um avanço nas investigações, a gente precisa de uma coisa mais concreta. Eu vejo com bons olhos a investigação, mas eles têm o tempo deles. É uma investigação complexa — afirma Marinete, mãe de Marielle. Ela contou que passou o Dia das Mães, neste domingo, em um almoço em família. À noite, foram homenageados na Feira das Yabás, em Madureira.

Um outro ato, também nesta segunda-feira, vai exigir respostas para o crime. O Psol, partido de Marielle, promete estender uma faixa nas escadarias da Câmara de Vereadores, na Cinelândia, às 16h, para que as pessoas escrevam mensagens em memória e por justiça para Anderson e Marielle.

— Mais uma vez, a Anistia vem a público exigir que autoridades de posicionamento por uma precisa investigação do caso Marielle. O Brasil tem um histórico de não investigação e não responsabilização por homicídios de defensores de Direitos Humanos — afirma Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional.

A vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, na Região Central do Rio, no dia 14 de março. Uma outra passageira, assessora de Marielle, foi atingida por estilhaços.

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