Dom Luciano Bergamin deixa a Diocese de Nova Iguaçu

Para dom Luciano, o grito da Baixada não é partidário, mas é um grito de Deus, um misto daquilo que a região precisa

Uma grande festa marcará a saída do bispo dom Luciano Bergamain da Diocese de Nova Iguaçu, no dia 1º de setembro (sábado), a partir das 9 horas, na catedral de Santo Antônio da Jacutinga, situada na avenida Marechal Floriano Peixoto, no centro.
O arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta estará presente e trará ainda a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Amazonas. Além dele, autoridades religiosas, civis e públicas de toda Região Metropolitana do Rio.

50 anos de Brasil

Dom Luciano deixa a Diocese, após quase 17 anos de trabalho missionário, por estar completando 75 anos de idade. No seu lugar ficará o bispo dom Gilson de Andrade Silva, carioca, que está em Salvador e retorna ao Rio. A partir daí, ele se torna bispo Emérito, ou seja, não terá a responsabilidade de comandar a missão pastoral, o que significa uma espécie de aposentadoria.
Nascido no dia 4 de maio de 1944, na cidade de Loria, na Itália, ele tem cidadania brasileira e, apesar de gostar do seu país, não pretende deixar o Brasil. “Quando vou visitar alguém da minha família na Itália, sou estrangeiro lá”, brinca. Ordenado padre em 1969, veio para o Brasil como bispo em Osasco e Santo Amaro (SP), Caxias do Sul e Curitiba (RS), chegando a Nova Iguaçu no ano de 2002. Ele recebeu o JORNAL DE HOJE no Centro de Formação de Líderes, no bairro Moquetá, na semana passada, onde falou um pouco do que viu, viveu e tentou mudar nos lugares por onde passou em trabalho missionário, e o legado que deixou por este caminho, em quase 50 anos de Brasil.
Grito de Deus

A advogada Valéria Leone e Patrícia Gomes, da Pastoral de Comunicação da Diocese (Pascon), com dom Luciano

Perguntado sobre o que viu neste Brasil por onde passou, ele responde: “Por onde passei, vi desigualdade social. Isso me chamou sempre a atenção. Sempre um grupo tem mais e nunca fica satisfeito, enquanto a outra parte passa necessidades”. Na tentativa de mudar esse quadro, dom Luciano disse que “fez muitos encontros com o poder público – referindo à região fluminense – para dar o grito da Baixada. Afinal, qual é o Brasil que você sonha?”, indaga. “Mas esse grito não é de um partido. E não deixa de ser um grito de Deus”, frisa dom Luciano, sempre com a voz serena e pausada. “Esse grito é um misto de educação, segurança, trabalho, emprego, solidariedade e fraternidade, amor, justiça e paz”, completa.

Consciência de valor

Durante o tempo de missão pastoral em Nova Iguaçu, ele lembra que é preciso valorizar todas as expressões de qualquer religião, seja católica, evangélica ou outra, “mas que tenha a sensibilidade para compreender e mudar a situação”, sinaliza. Para dom Luciano, também é preciso estimular as comunidades no seu papel paroquial, “visando à prática de Jesus, na celebração, evangelização e caridade solidária e na missão, ajudando as pessoas a tomarem consciência do valor que tem”, orienta.

Legado

Nos 16 anos em que teve a responsabilidade pastoral com a Diocese de Nova Iguaçu, dom Luciano pausa a voz ainda mais e pensa para responder o legado que deixou na região por onde andou na Baixada. Depois cita quatro pontos principais: “Legado ter muito ensinamento de Jesus. Primeiro, eu queria ter feito mais pela união das religiões cristãs e outras. Também queria trabalhar mais pelo respeito, pois ainda há muita violência e muito assassinato. Queria também que tivesse mais padres na Diocese e mais leigos engajados na missão religiosa. E o sonho de que as coisas possam ser melhores para o próximo bispo, e que Deus esteja sempre presente na vida da Baixada”, concluiu.

Dom Luciano

Antes de chegar ao Brasil, Dom Luciano Bergamin, filhos de família católica na Itália, foi coroinha e desde cedo sentia vontade de ser missionário. Com 11 anos ingressou no seminário. “Foi quando descobria que era da vontade de Deus ajudar aos outros”, lembra. Fez cursos preparatórios no seminário São Pio X e outros em Roma, como filosofia e teologia, sendo licenciado nos dois cursos. Em 1961 fez profissão religiosa e em 1969 foi ordenado sacerdote (padre), em Castelfranco Veneto.
No ano 2000 o Papa João Paulo II o nomeou bispo auxiliar em Santo Amaro (SP), e também em Osasco, por duas vezes, passando ainda por Curitiba (RS) . Em 24 de julho de 2002, o mesmo pontífice o enviou para Nova Iguaçu como bispo, cuja posse ocorreu no dia 22 de setembro do mesmo ano. Em maio de 2011, por ocasião da 49ª Assembleia do Episcopado Brasileiro, em Aparecida (SP), dom Luciano foi eleito vice-presidente do Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Os bispos da Diocese

Desde a criação da Diocese de Nova Iguaçu, em 26 de março de 1960, pelo Papa João XXIII, cinco bispos exerceram a função na cidade. O primeiro foi dom Walmor Battu Wichrowski (1960-1961), dom Honorato Piazzera (1961-1966), dom Adriano Mandarino Hypólito (1966-1995), dom Werner Siebenbrock (1995-2002) e o dom Luciano Bergamin (de 2002 até o dia 1º de setembro de 2018).

*por Davi de Castro – Editor do Jornal de Hoje

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