Moradores da Vila Kennedy dizem que nada mudou com intervenção federal


‘Laboratório’ da intervenção federal no Rio, Vila Kennedy vira ‘hotel’ de facção criminosa Foto: Reprodução

Considerada o “laboratório” da intervenção federal no Rio — que completa seis meses nesta quinta-feira —, a Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio, ganhou um apelido de moradores do local: “hotel do Comando Vermelho”. Isso porque a comunidade tem sido abrigo de bandidos de que fogem de áreas dominadas pela facção alvos de quadrilhas inimigas ou de ações policiais.

Na semana passada, chegaram ao local cerca de 70 bandidos da Favela do Rola, em Santa Cruz, também na Zona Oeste. Eles foram expulsos de sua comunidade por milicianos. Na semana seguinte, a Vila Kennedy recebeu as armas da quadrilha de traficantes do Rola. O armamento, assim como os criminosos, está escondido nas localidades Metral, Manilha e Vila Progresso.

“Isso aqui virou hotel do Comando Vermelho. Toda hora chega mais bandido de outras favelas do Rio. E a nossa situação só piora”, contou um morador.

Antes disso, já haviam se escondido na Vila Kennedy traficantes da Cidade de Deus, também na Zona Oeste. Os bandidos foram para a Vila Kennedy após sua comunidade se tornar alvo de uma série de operações da Polícia Militar. Os agentes buscavam os envolvidos na morte do capitão Estefan Cruz Contreiras, de 36 anos, ocorrida no dia 3 de maio deste ano.

Na época, a Vila Kennedy ainda estava sendo ocupada pelas Forças Armadas. Procurado para comentar o assunto na ocasião, o Comando Militar do Leste (CML) não quis se pronunciar.

Antes de bandidos do Rola e da Cidade de Deus, a Vila Kennedy já recebeu criminosos do Complexo do Alemão, da Favela do Jacarezinho e da Cidade Alta, todos na Zona Norte.

“Para facilitar essa “hospedagem”, a Vila Kennedy foi dividida em quatro pelo Comando Vermelho”,contou o morador.

Cada subdivisão da comunidade tem sua própria liderança. Eles oferecem abrigos a cúmplices de outras favelas. Desentendimentos entre os bandos e ataques contra policiais do 14º BPM (Bangu), atualmente responsáveis pelo patrulhamento na Vila Kennedy, fazem com que número de confrontos armados aumente.

De acordo com um levantamento do aplicativo “Onde Tem Tiroteio”, entre 23 de fevereiro e 15 de maio —período de 81 dias em que as Forças Armadas atuou na comunidade — foram registrados 29 trocas de tiros. Já entre 16 de maio 31 de julho — um total de 76 dias —, foram 67 confrontos.

Nada mudou para moradores

De acordo com o Gabinete de Intervenção Federal no Rio, a ação realizada na Vila Kennedy resultou em 21 prisões em flagrante, recuperação de 844 motos e 791 carros, apreensão de 892 quilos de maconha, além de cocaína e crack. Quem vive no local batizou a atuação das forças de segurança de “operação enxuga gelo”.

“A violência não só voltou, como aumentou. Outros bandidos vieram para cá. Os bailes funk aos domingos continuam acontecendo a todo o vapor. As barricadas dos traficantes arrancadas pelos militares voltaram a ser instaladas. Então eu pergunto: o que de fato essa operação trouxe de bom? Para mim, nada. Vieram, enxugaram gelo, e foram embora”, disse um comerciante.

 

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