Delegado da PF diz que ‘o Rio tem muito bandido pra pouco mocinho’,

Felício Laterça defende a implementação de quatro novas delegacias e convocação de concursos públicos
(Davi Boechat/Jornal de Hoje)

Ironizando a defasagem no número de agentes de segurança no Estado, o delegado de Policia federal Felício Laterça, disse: “O Rio (de Janeiro) tem muito bandido pra pouco mocinho”. A declaração foi dada em palestra para alunos da Universidade Iguaçu (UNIG), realizada na noite da última terça-feira (14).

No evento, que marcou o início das atividades do curso de Direito neste semestre, Laterça apontou a discrepância entre a necessidade e realidade atual no quadro de pessoal da PF como fator que colabora para impunidade em casos de corrupção e tráfico de drogas.

A afirmação do delegado encontra respaldo em dado divulgado pela Federação Nacional dos Policiais Federais em 2016, onde foi apontada a necessidade de preenchimento de mais de 13 mil vagas no país, número que está ainda maior considerando as baixas por aposentadoria, licenças médicas e jejum na convocação de concursos. As medidas a serem tomadas, para Laterça, começam pela abertura de processos seletivos e estabelecimento de novas unidades.

“Além da superintendência, em todo o estado, há apenas seis delegacias descentralizadas: Angra dos Reis, Campos dos Goytacazes, Niterói, Volta Redonda, Nova Iguaçu e Macaé. É nelas que acontecem as investigações, nossa atividade mais importante. Há um desequilíbrio evidente, considerando que temos 92 municípios. Para que isso mude, precisamos de pelo menos mais quatro”, afirmou.

“É preciso considerar que quando foram instaladas, essas delegacias corresponderam aos números da época, que eram muito menores que os de hoje. Nossa realidade atual inspira investimentos urgentes em estrutura e pessoal”, explicou aos mais de 500 alunos que lotaram o auditório para acompanhar o palestrante.

Ainda segundo Laterça, a busca por um país mais ético e honesto passa, também, pela atividade da PF: “Mesmo com orçamento arrochado e longe das condições ideias, a Polícia Federal tem mostrado comprometimento e vem apresentando resultados. O desempenho em grandes investigações, como a Operação Lava Jato prova isso. Considerando que casos de desvio de verba pública e tráfico de entorpecentes passam por nós, o investimento na PF resultaria em uma atuação cada vez melhor nessas duas áreas, tão sensíveis para o Brasil. Imagine quantos grandes traficantes e corruptos encobertos por investigações insuficientes poderiam ser, enfim, punidos. Além disso, se a PF estiver mais próxima dos municípios, muitos crimes poderão ter novos desfechos”, disse.

Laterça falou ainda do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). Anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em meados de julho como “um passo importantíssimo para garantir tranquilidade ao povo”, a medida visa oferecer e gerir fundos para as forças policiais do país, além de prometer um sistema compartilhado de informações, o que o delegado considera uma medida fundamental para melhora em investigações.

“Um pecado capital que atinge muita gente na nossa área é a vaidade. Todo mundo quer aparecer e quando não há visibilidade, há quem negue colaboração, prejudicando o trabalho de investigações. Isso dificulta muito a integração entre as polícias. Com o SUSP, isso pode mudar bastante. Ele já está em vigor, mas ainda falta efetividade. Uma base de dados comum, onde informações circulem com mais facilidade é fundamental. Espero aconteça o quanto antes”, opinou.

Membro da Associação de Ensino Superior de Nova Iguaçu (SESNI), mantenedora da universidade, o advogado Vinicius Raunheitti acredita que palestras como a de Laterça são importantes para o alinhamento dos alunos com áreas do Direito onde, no futuro, poderão atuar: “A UNIG tem buscado repercutir os temas atuais do país nas aulas inaugurais do Direito. A universidade não se restringe aos seus muros, por isso, trazer para ela personagens relevantes em suas áreas de atuação colabora fortemente para o desenvolvimento de nossos alunos”, disse Raunheitti.

por Davi Boechat

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