Duas versões para a morte da costureira

Carlos Alberto, marido de Wânia, chora na porta do Hospital Moacir do Carmo

Uma testemunha que presenciou a abordagem da Polícia Militar que provocou com a morte da costureira Vânia Silva Tibúrcio, de 36 anos, deu uma versão diferente da que foi contada por PMs que prestaram depoimento sobre o caso, na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
Ela disse que dezenas de pessoas estavam em um largo do bairro Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, quando homens que ocupavam duas patrulhas da PM abordaram o veículo onde viajava a costureira e o marido dela, Carlos Alberto Lopes, pouco depois do automóvel parar em um sinal de trânsito.
Enquanto a nota da PM fala apenas em um disparo, a testemunha afirma que dois tiros de fuzil foram disparados por um dos policiais. “Na hora havia muita gente aqui e a maioria correu ao ouvir os tiros. O pessoal que desce da estação ferroviária de Gramacho, que é quase em frente onde tudo aconteceu, costuma parar no largo para comprar lanches. Tinha um monte de barraca de lanche funcionando. Eu ouvi dois disparos”, disse a testemunha que pediu para não ser identificada.
Vânia Silva Tibúrcio teve morte cerebral no Hospital Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias, após ser baleada por policiais militares na noite desta segunda-feira, em Gramacho. O Volkswagen Up em que ela e o marido viajavam constava como roubado. Nesta terça-feira (21), eles iriam a um posto do Detran para regularizar o carro, que foi recuperado após um roubo ocorrido há alguns meses.

Testemunha dá versão diferente da que foi apresentada por PMs sobre morte de costureira

Segundo a testemunha, uma patrulha da PM estava com a sirene ligada e se aproximou por trás do carro onde estavam Vânia e Carlos Alberto, quando o veículo parou no sinal de trânsito da Avenida Presidente Kennedy. Neste instante, um dos PMs disparou um tiro. Policiais que estavam em outra patrulha, estacionada no largo próximo a uma loja que vende cachorro-quente, saíram do carro e interceptaram a pé, o Volkswagen UP onde estava o casal.
Assustado, o motorista acabou dando um “tranco no carro”, que estava engrenado . Foi então que o segundo disparou aconteceu.
“Quando o carro deu o tranco, o PM que estava na traseira do veículo do casal se abrigou numa lixeira e disparou. Acho que ele achou que o motorista iria tentar fugir. Em seguida, vi o motorista sendo retirado do carro e deitado no chão. Só depois, ele viu que a mulher havia sido baleada”, disse a testemunha.
A versão apresentada pela testemunha coincide com o que Carlos Alberto contou aos jornalistas. Ele alegou que se assustou com a abordagem e que seu pé escorregou da embreagem, provocando um tranco no veículo. O local onde a abordagem aconteceu fica a menos de 500 metros de distância de três comunidades controladas pelo tráfico, as Favelas Jerusalém, Dique 1 e Dique 2. Além disto, o trecho tem duas agências bancárias, barracas de fast food, e muito trânsito.
Apesar da proximidade com áreas controladas por traficantes, o bairro também sofre influência de milicianos e também de assaltantes. “Tem assalto aqui sim. Há três meses roubaram uma loja lotérica e uma loja de departamentos”, disse um aposentado que pediu para não ser identificado.
A morte encefálica da costureira foi confirmada por médicos, na tarde de terça-feira A família da costureira decidiu não doar os órgãos da vítima.
“O que eles passaram para gente é que os aparelhos têm de ser desligados. Não vai acontecer doação de órgãos. A família não autorizou por conta da fé dela. É muita coisa que passa neste momento. A gente ia fazer 12 anos de casados. Com mais 3 de namoro, são quase 16 anos juntos. Era excelente mãe, muito trabalhadora. Construímos uma família, nosso lar. Infelizmente acabou tudo sendo destruído pelo nosso protetor, pela polícia. Por quem devia proteger a gente. Deus vai me dar forças para contar para meus filhos o que aconteceu”, disse o marido de Vânia, Carlos Alberto Lopes.

Segundo o delegado Daniel Rosa, da DHBF, o policial militar responsável pelo disparo que tirou a vida de Wânia vai responder em liberdade por crime de homicídio doloso. O fuzil que ele usava foi apreendido pela polícia.

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