Ex-secretário de Obras: propina era tratada no gabinete de Paes

Ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto é preso preventivamente, em agosto de 2017, pela Polícia Federal na Operação Rio 40 Graus
(Tânia Rêgo/AgênciaBrasil)

O ex-secretário municipal de Obras do Rio de Janeiro, Alexandre Pinto, afirmou que houve tratativas de propinas dentro do gabinete do ex-prefeito Eduardo Paes. Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, nesta quinta-feira (4), Pinto disse que houve acerto de 1,75% de propina, por parte da Odebrecht, na obra da Transoeste, que teria custado R$ 600 milhões em sua construção.
“Só para deixar muito claro, essas coisas não eram só da Secretaria de Obras. O centro disso tudo não era a Secretaria de Obras. A gente tinha casos, principalmente das grandes obras, que as determinações não vinham da Secretaria de Obras. Vinham do gabinete do ex-prefeito Eduardo Paes. No qual ele determinava que determinada obra, principalmente as grandes, existiria isso. A Transcarioca foi uma obra de mais de R$ 1,5 bilhão, que veio uma determinação do prefeito. Posso falar na obra da Transoeste, da Odebrecht, ele foi muito claro em dizer que a Transoeste vai ser da Odebrecht”, contou Pinto.
Perguntado por Bretas se ele tinha presenciado essas tratativas ou se apenas tinha ouvido falar, o ex-secretário disse que testemunhou os fatos. “Eu ouvi da boca [de Eduardo Paes], dentro do gabinete dele, numa reunião com o [Benedicto] Júnior, com o Leandro [Azevedo], onde fechou a planilha da Transoeste, onde foi acordado que a Odebrecht ia vencer a Transoeste. Ele pessoalmente. Foi fechado na sala dele, com o senhor Júnior da Odebrecht, com o senhor Leandro Azevedo. E eu presente com ele. Me dito pela Odebrecht, pelo Leandro Azevedo, que haveria um pagamento ao prefeito, 1,75% do valor do contrato, que foi acertado com o ex-prefeito Eduardo Paes. O contrato da Transoeste chegou a R$ 600 milhões”, relatou Pinto.
Pinto disse a Bretas que estaria com medo, por estar revelando esses esquemas. “Eu tenho medo. A gente mexe com certas coisas”, disse ele a Bretas, frisando que o pagamento de propinas não era exclusividade da Secretaria de Obras, mas era coordenado por um grupo de governo, incluindo Paes e outras pessoas com foro privilegiado, o que inclui deputados.
Pinto também disse que o Tribunal de Contas do Município (TCM) ficava com 1% das propinas das obras. Segundo ele, licitações eram direcionadas para privilegiar determinadas empresas. “O procedimento começava na determinação desse grupo, dessas três pessoas, do prefeito e duas autoridades [com foro], de montar um grupo de empresas que fizessem essas grandes obras. Eu fui alçado a secretário para que isso fosse viabilizado. Para isso, as empresas trabalhavam em conjunto com técnicos da Secretaria de Obras na montagem dos editais de licitação. Para que outras empresas não participassem, principalmente as de fora do Rio de Janeiro, de fora desse grupo. A gente dava toda legalidade nisso”, confessou.
Representante do ministério público presente ao depoimento disse que o MPF vai avaliar se há indícios suficientes para a abertura de investigação contra Eduardo Paes.
O ex-secretário depôs no âmbito da Operação Mãos à Obra, um desdobramento da Lava Jato.

Paes se defende

A assessoria de Paes, que é candidato ao governo do estado, foi procurada para se manifestar sobre as acusações, e se posicionou por nota, negando os fatos relatados por Pinto. “As acusações do senhor Alexandre Pinto são totalmente mentirosas e confrontam seus próprios depoimentos anteriores, quando nunca mencionou envolvimento meu com quaisquer irregularidades. Os próprios dirigentes da Odebrecht, que depuseram na Lava Jato, sempre negaram que eu tivesse recebido propina ou vantagem pessoal.
O mesmo fizeram os dirigentes de todas as outras empreiteiras investigadas na Lava Jato. Basta ouvir os depoimentos, que desmentem, enfaticamente, qualquer tipo de benefício a mim.
A nota questiona, ainda, as acusações de Pinto a poucos dias das eleições. “É no mínimo curioso, para não dizer suspeito, que a declaração do senhor Alexandre Pinto tenha ocorrido a três dias do primeiro turno eleitoral, sem oferecer nenhuma prova”.
Paes afirma que vem sendo atacado “sistematicamente” há mais de um ano, sem “nenhum indício concreto” contra o ex-prefeito. “Sigo minha campanha confiante na Justiça e na capacidade de discernimento da população”, conclui a nota.

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