Cariocas criam ‘redes de proteção’ para evitar assaltos

Sinal de perigo. Cartaz em poste da Rua Maxwell, em Vila Isabel: descrição de suspeito é divulgada em vários locais Foto: reprodução

Sem contar com sistemas sofisticados de localização de manchas criminais, moradores do Rio decidiram dividir com vizinhos suas experiências com assaltos no estado. Para fazer frente à segurança deficitária, eles estão espalhando cartazes e faixas pelas ruas e criando grupos de Whatsapp para alertar sobre o risco de roubos em várias regiões e divulgar características físicas de suspeitos. A rede de proteção e solidariedade vai mais longe, e até adesivos para identificar os carros da vizinhança são usados, com o objetivo de detectar a presença de estranhos.

Em Vila Isabel, a Rua Maxwell está cheia de cartazes que descrevem um suspeito. “Cuidado, risco de assalto! Motoqueiro acima do peso, rosto com acne, mulato claro , 28 a 32 anos”, diz o aviso. A iniciativa partiu de um casal assaltado no início da semana passada.

— Aqui está terrível. Eles roubam de tudo; motos, bicicletas, joias… Eu fui assaltada quando caminhava com meu cachorro. Fiquei sem o celular, a carteira e meus documentos — conta a autônoma Patrícia Queli, de 47 anos.

Um porteiro que acompanha o vaivém diário testemunhou vários casos de violência:

— Esse pedaço aqui é delicado para quem anda de celular. Já vi mais de dez pessoas sendo assaltadas.

Após ser roubado, Cláudio Leite, de 54 anos, morador de Vila Valqueire, criou comunidades de proteção nas redes sociais. Além de um grupo no Whatsapp com cerca de 40 integrantes, uma página no Facebook dá informações para moradores do bairro e de áreas vizinhas (Bento Ribeiro, Marechal Hermes, Oswaldo Cruz e Campinho).

— A gente vai comunicando, identificando pessoas e carros suspeitos. Traçamos os perfis dos assaltantes e os informamos ao batalhão da PM da nossa região— disse Leite.

Em São Gonçalo, surgiu uma iniciativa ainda mais radical: os moradores do bairro Mangueira resolveram colocar um adesivo padronizado em seus veículos com adesivos. A empresária Aline Sant’Anna, de 44 anos, afirma que qualquer carro estranho já levanta suspeitas:

— As faixas que chamavam a atenção para os locais mais perigosos foram deterioradas pelo tempo, e nós mudamos a ação. Hoje, temos adesivos em todos os carros de moradores, com um logotipo da nossa associação, para identificar os veículos de quem vive na Mangueira. Quando não tem o adesivo, fica todo mundo de olho— contou Aline, acrescentando que a participação coletiva já provocou uma queda no número de assaltos.

O antropólogo Lenin dos Santos Pires, professor do Departamento de Segurança Pública da UFF, questiona a eficácia dessas medidas. Ele alerta que avisos sobre características de suspeitos podem gerar mais violência:

— Esse tipo de informação deveria estar somente nas mãos dos órgãos de segurança pública para investigação.

 

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