Dicas de Português – 26/08

”A partir de” e prefixo ”não”

“Os linfomas se originam a partir de mutações genéticas nos linfócitos e se dividem em linfoma de Hodgkin e não-Hodgkin.”

O fragmento em questão apresenta dois problemas recorrentes, um de regência verbal e um de ortografia.
No que diz respeito à regência, convém observar que a expressão “a partir de”, equivalente à locução “a começar de”, indica ponto de partida, origem. Por esse motivo, constitui redundância o seu emprego com o verbo “originar-se”.
Alguma coisa tem origem em outra ou origina-se de outra. “Originar-se a partir de” constitui, portanto, construção redundante. Basta dizer que uma coisa se origina de outra (“O português origina-se do latim”) ou que uma coisa tem origem em outra (“O português tem origem no latim”).
Com o Novo Acordo Ortográfico, o prefixo “não” deixou de ligar-se por meio de hífen a qualquer palavra. Isso resolveu muitas das dúvidas que os usuários tinham quanto ao seu emprego, mas gerou também “novos erros” de grafia, pois há clara insistência no uso de hífen quando o “não” prefixa um substantivo. É o que se vê acima na expressão “não-Hodgkin”, que, segundo a ortografia vigente, deve ser grafada sem o hífen.
Veja abaixo as correções:
Os linfomas se originam de mutações genéticas nos linfócitos e se dividem em linfoma de Hodgkin e não Hodgkin.

 

“Por hora” é diferente de “por ora”

“A Ford não irá renovar o EcoSport à toa. Em alta, o mercado de jipinhos urbanos ganhou novos concorrentes em pouco tempo.

Por hora, os principais rivais que a próxima geração do Ford encontrará pela frente são Citroën Aircross e Renault Duster, que marcaram a estreia das montadoras francesas nessa briga.”

“Por hora” é diferente de “por ora”. “Hora”, com h, é um intervalo de 60 minutos, enquanto “ora” equivale a “agora” ou “neste momento”. É a forma “ora” que integra a expressão “por ora”, equivalente a “por enquanto”.

Pode-se dizer, por exemplo, que um empregado recebe certa quantia por hora de trabalho. Nesse caso, estamos fazendo referência ao intervalo de 60 minutos. Isso é muito diferente de dizer, por exemplo, que, por ora, nada foi definido.

Veja alguns usos da palavra “ora”:

1.      Os alunos que ora estão aqui devem preencher o formulário.

Nessa construção, “ora” é advérbio e significa “agora, neste momento”.

2.      Ora é gentil, ora é rude. Seu comportamento varia muito.

No período acima, “ora” tem valor de conjunção. Trata-se do par correlativo ora… ora, que indica alternância.

Como interjeição, pode aparecer em frases do tipo

3.      Ora, não me venha com essa!

Abaixo, a correção do fragmento que encabeça este texto:

A Ford não irá renovar o EcoSport à toa. Em alta, o mercado de jipinhos urbanos ganhou novos concorrentes em pouco tempo.

Por ora, os principais rivais que a próxima geração do Ford encontrará pela frente são Citroën Aircross e Renault Duster, que marcaram a estreia das montadoras francesas nessa briga.
Acento ou assento?

Veja só a confusão que ocorreu outro dia num texto sobre automóveis: “De acordo com o médico, veículos modernos são projetados para evitar dores no corpo do condutor. Os modelos mais sofisticados trazem acentos com abas laterais (sustentam o corpo e protegem a região lombar), volante com ajuste de altura e profundidade e fácil acesso aos pedais.”

Já percebeu qual foi o problema? “Acento” no lugar de “assento”! Pois é, “acento” é bem diferente de “assento”. Essas palavras são chamadas, na gramática tradicional, de homônimos. Isso porque elas têm exatamente a mesma pronúncia. A semelhança, no entanto, para por aí. Cada uma tem uma grafia e cada uma tem seu significado. Não há corretor ortográfico que nos ajude a corrigir esse tipo de erro. O único jeito mesmo é saber a hora de usar cada um dos homônimos.
Assento serve para sentar-se (veja a semelhança gráfica entre as palavras, que são da mesma família). O verbo “assentar” também pertence ao grupo de cognatos. Aliás, esse verbo tem dois particípios (assentado e assente). Foi a segunda forma que a angolana vencedora do concurso Miss Universo 2012 usou em sua declaração: “”De certa forma, a minha vida acaba de mudar. “Vou precisar de Deus e de ter os pés bem assentes na Terra”.
Assento, com “ss”, é o banco do carro, é a poltrona do cinema, é a cadeira do brinquedo no Hopi Hari, é um lugar (o Brasil pleiteia um assento na ONU) e até mesmo… as nádegas!
Acento, com “c”, é a sílaba forte de uma palavra, o sinal gráfico que a demarca ou mesmo o sotaque.
Como vemos, “acento” e “assento” são coisas bem diferentes!… Vamos corrigir a frase? Veja abaixo:
“De acordo com o médico, veículos modernos são projetados para evitar dores no corpo do condutor. Os modelos mais sofisticados trazem assentos com abas laterais (sustentam o corpo e protegem a região lombar), volante com ajuste de altura e profundidade e fácil acesso aos pedais.”

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