Preso o chefe do tráfico de drogas na Baixada

A ação da Polícia pretende cumprir 36 mandados de prisão e 75 de busca e apreensão.

Uma operação da delegacia de Magé (65ª DP) e do Ministério Público estadual (MPRJ), batizada de Arca de Noé, prendeu, na manhã de ontem, terça-feira (04), o traficante Leonardo Pinto Salvador. Leo Tite, como é conhecido, é apontado como o chefe do tráfico da comunidade Pinguela, no bairro Lagoa, no município na Baixada Fluminense.
O criminoso foi encontrado em uma residência de Senador Camará, na Zona Oeste do Rio. Ao todo, a operação pretende cumprir 36 mandados de prisão e 75 de busca e apreensão. Até a tardinha de ontem, 16 pessoas já haviam sido presas. Dentre os procurados, também são alvo Alcemar Vargas da Costa, o Cemar, Cimar ou Camelo; Uellington de Araújo Ramos, o Bico Fino ou Pintado; Fernando dos Santos, o Fê ou Pureza; Lucas Coelho da Silva Luquinhas ou Ic; e Marlon da Silva Souza.
De acordo com as investigações, para manter e expandir seus domínios na região, a quadrilha comandada por Leo Tite aterroriza a população local com uma série de outros crimes: extorsão, receptação, tentativa de homicídio, corrupção de menores, artefato explosivo ou incendiário, porte ilegal de arma de fogo e lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.
A quadrilha atua em três braços: o operacional, liderado por Leo Tite e formado por indivíduos que exercem a função de gerentes, vapores, radinho e segurança da quadrilha; o logístico, que dá condições materiais e apoio para que a organização consiga manter, movimentar e ser abastecida; e o financeiro, responsável pelas contas bancárias para lavagem de dinheiro e ocultação de valores arrecadados com o tráfico de drogas.
“Nós percebemos que essa quadrilha tinha as funções bem detalhadas. Ali você tinha um braço operacional, um braço financeiro e um braço gerencial. Então eles dividiam muito bem a tarefa. Eles tinham os gerentes, os vapores que efetuavam as vendas. Eles tinham o pessoal da logística que forneciam armas, munições e até comida — conseguimos identificar até as pessoas que faziam as comidas para eles. Além do braço financeiro, que são as pessoas indiciadas por lavagem de dinheiro”, informou o delegado Angelo Lage, da delegacia de Magé.
O coordenador do GAECO do Rio, o promotor Daniel Faria Braz, disse que as duas operações são parte de uma ação nacional de combate à facções criminosas em 14 estados mais o Distrito Federal. Dez grupos do GAECO participam das ações. No Rio, o objetivo é combater o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro em mais de cinco municípios, entre eles em Magé e Macaé.

Baixada
“Na operação da Baixada foram cumpridos 36 mandados de prisão e dois de busca e apreensão contra menores. Essa ação foi feita em parceria com a delegacia de Magé. A comunidade da Pinguela é dominada pelo tráfico. A investigação começou a partir do uma apreensão grande de drogas nesta localidade, que chamou a atenção da Polícia Civil, dando início a uma apuração”, esclareceu o promotor.
“Durante as investigações, conseguimos escutas telefônicas que possibilitaram a identificação de todos os envolvidos na quadrilha. Isso foi possibilitado por outras operações, onde conseguimos apreender celulares de pessoas ligadas ao tráfico de drogas daquela região. Isso viabilizou o pedido de prisão preventiva de 36 traficantes”, lembrou Daniel Brás.

Guerra de facções
Segundo o delegado Angelo Lage, da delegacia de Magé, as investigações também foram motivadas por uma tentativa de homicídio. Segundo ele, criminosos do Terceiro Comando Puro (TCP), facção do Leo Tite, tentaram matar um criminoso pertencente ao Comando Vermelho (CV), em 2017. Na época, as duas facções estavam disputando o comando do tráfico na comunidade Pinguela.
Em meados de 2017, o Comando Vermelho conseguiu dominar o comando do tráfico. Léo Tite acabou saindo da comunidade com medo de ser morto pela facção e foi buscar refúgio em Senador Camará, apontado pelo delegado como reduto do Terceiro Comando Puro, onde foi preso nesta terça-feira.
Segundo o delegado Angelo Lage, Leo Tite comandava a comunidade com mãos de ferro. Em uma escuta telefônica, uma mulher, casada com um de seus funcionários, fez uma ligação denunciando o marido por agressões físicas. O homem teria sido ameaçado de morte por Leo caso continuasse com as agressões.

Lavagem de dinheiro
Segundo o Ministério Público, na quadrilha existia um núcleo especializado em lavar dinheiro obtido pela venda de drogas. A responsável era Gleisi Rangel Neto, esposa de Leonardo Pinto Salvador, chefe do tráfico de drogas daquela localidade. Ambos foram presos nesta terça-feira.
“O dinheiro ilícito era quase sempre colocado nas contas bancárias da Gleisi e na conta de terceiros. Ela movimentava o dinheiro tanto para pagar traficantes como para lavar o dinheiro em outras atividades. Por isso o motivo de sua prisão”, lembrou o coordenador do GAECO. Para Braz, a função da mulher de Leonardo era cuidar da função fumaceira dos traficantes.
“Eles usavam as contas dessas pessoas para o lavar o dinheiro do tráfico. Acreditamos que demos um baque no tráfico de drogas daquela localidade. Até porque, hoje conseguimos prender a liderança do tráfico. Concentramos essa investigação nos cabeças”, declarou o delegado Angelo Lage. Gleisi, que foi indiciada por lavagem de dinheiro, chegou a confessar, dentro da viatura, que ela emprestava a sua conta bancária para o tráfico. Ela foi presa por associação ao tráfico e lavagem de dinheiro.
“Foram expedidos 38 mandados de prisão e hoje cumprimos 18. O restante será cumprido durante a semana. Vamos analisar o material apreendido para novas ações”, informou o delegado Angelo Lage. Segundo o delegado, a organização movimenta cerca de R$ 50 mil por semana, mas a polícia acredita que a quantia envolvida no esquema seja maior.

Participação de Gleisi
No inicio da ação, segundo Angelo Lage, quando os agentes chegaram na casa do casal, Gleisi de declarou inocente durante todo o tempo. Entretanto, no seu celular, foram encontradas mensagens trocadas com uma amiga, que ainda não foi identificada, onde estava escrito: “A polícia está aqui na porta de casa. O que faço?” . A amiga respondeu: “Tira tudo daí”. Gleisi, então, enviou “Como?”, finalizando a conversa. Para o delegado, esse diálogo prova a sua ligação com o tráfico.
Um detalhe que chama a atenção nesta organização é o fato de todos os seus membros terem algum tipo de parentes. Além de Gleisi, a polícia identificou a participação deAlcimar Vargas da Costa, gerente do tráfico. Sua relação com Leo Tite ainda não foi informada. Atualmente, Alcimar está preso, mas, nesta terça-feira, foi cumprido novo mandado de prisão contra ele.

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