Collor bate boca com Janot e esquenta sabatina no Senado Federal

Rodrigo Janot (esqueda) chegou a ficar irritado e levantar a voz na segunda vez em que foi interrompido por Fernando Collor Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado

Rodrigo Janot (esqueda) chegou a ficar irritado e levantar a voz na segunda vez em que foi interrompido por Fernando Collor
Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado

Um confronto verbal inusitado se deu ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal. Denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro, o senador Fernando Collor de Mello fez várias acusações contra aquele que o denunciou no STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sabatinado para ser reconduzido ao cargo máximo do MPF (Ministério Público Federal).
Collor passou em mais de três minutos o tempo que tinha para inquirir Janot e trouxe um calhamaço de documentos que comprovariam as suas acusações. Entre elas, estava um suposto vazamento de informações por parte da Procuradoria.
“Estamos diante de um catedrático em vazar informações que correm em segredo de justiça”, disse Collor, acusando Janot de selecionar meios de comunicação e pinçar informações para produzir manchetes de jornal.
Em sua resposta, Janot citou documento produzido por membros da Secretaria da Comunicação (Secom) e lembrou que a carta “não foi feita por jornalistas, mas por servidores públicos”. Em março, o ministro Thomas Traumann pediu demissão após carta com críticas à comunicação do governo ter saído na imprensa.

Presidente do PSDB, Aécio Neves foi light nas perguntas ao chefe do MPF Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado

Presidente do PSDB, Aécio Neves foi light nas perguntas ao chefe do MPF
Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado

O procurador também citou as especulações sobre a chamada “lista de Janot” de políticos investigados na Operação Lava Jato, divulgada em março. Ele negou que as informações publicadas pela imprensa antes da divulgação oficial tenham sido fruto de vazamento. “O que houve não foi vazamento, mas uma especulação enorme”, afirmou. “Alguns acertaram nomes, outros erraram (…). Não se vazam nomes errados”, ponderou.
“Eu nego que eu seja um vazador contumaz”, enfatizou o procurador. “Eu sou discreto, não tenho atuação midiática”.
Collor também acusou o procurador de “falsear” informações sobre contratos com empresa de comunicação, ao que Janot negou. O senador denunciado citou ainda uma “dupla de contraventores”. Em sua réplica, Janot assumiu que um desses era seu irmão, Rogério Janot, já falecido há cinco anos. “Não participarei dessa exumação pública sobre um homem que sequer pode se defender”, respondeu o procurador.
Por fim, Janot rebateu aqueles que dizem que seu trabalho na Lava Jato se dá com “espetacularização” na verdade é a aplicação de um princípio republicano: “Todos são iguais perante a lei”, disse Janot. “Pau que dá em Chico dá em Francisco”, reforçou.
No dia 20, quando foi denunciado, Collor escreveu em sua página no Facebbok que a denúncia foi “construída sob sucessivos lances espetaculosos”.

 

Collor sussurrou “filho da p…”
e “calhorda”, segundo relatos

No momento mais tenso da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado de Rodrigo Janot, o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL) sussurrou xingamentos ao chefe do Ministério Público Federal. Segundo relatos de dois senadores e integrantes da equipe de Janot, o ex-presidente chamou o procurador-geral de “filho da p…” e “calhorda”.
O áudio dos xingamentos de Collor – denunciado por Janot na Operação Lava Jato – não chegaram a ser captados pelo sistema de som, uma vez que foram feitos fora do microfone. Também não foram presenciados pela imprensa, pois o ex-presidente estava na primeira fila da comissão, de frente para a cadeira do procurador-geral na bancada.
Mesmo diante das provocações, nas respostas a Collor, o chefe do Ministério Público se manteve firme e deu respostas técnicas à bateria de questionamentos sobre a sua gestão e comportamentos. Ele, entretanto, aproveitou para dar uma indireta ao ex-presidente, que saiu do cargo após processo de impeachment: “Não há futuro viável se condescendermos com a corrupção”.
Não é primeira vez que o ex-presidente xinga o procurador-geral. No início do mês, em discurso da tribuna, Collor chamou-o de “filho da p…”. Na ocasião, a fala chegou a ser captada pela TV Senado.
Após o embate com Janot, o senador do PTB deixou a sala da CCJ e, sorrindo, não falou com a imprensa.
>> Lista – O procurador-geral da República negou que haja “seletividade” nas investigações da Lava Jato. Janot afirmou que todos os nomes citados nas investigações chegaram ao Ministério Público após menção feita pelos delatores do esquema de corrupção na Petrobras.
“Falam em ‘lista do Janot’. O Janot não fez lista nenhuma. Esses fatos e essas pessoas vieram pelos colaboradores. Nós tivemos a preocupação, nas duas primeiras colaborações e estamos fazendo isso em todas, assim é possível fazer levantamento do sigilo. Abrimos todo o complexo da delação premiada para que não sejamos acusados de seletividade”, afirmou ele.

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