Após 13 anos de time, Marcelo Grohe se despede do Grêmio

Após 13 anos de Grêmio, único clube que defendeu, Marcelo Grohe tornou-se o maior emblema do “gremismo” neste século.
(Wesley Santos/Agência Press Digital)

No exato momento em que se preparavam para cortar a linguiça que faria a diferença na redentora lentilha de Ano Novo, os gremistas receberam uma estocada no rim. Na última quinta-feira do ano, o arqueiro Marcelo Grohe foi negociado por 3 milhões de dólares para o Al-Ittihad, da Arábia Saudita. E a dor mais pungente não está vinculada a aspectos técnicos: não se despede apenas um excelente goleiro, cujas atuações foram cruciais para os títulos recentes, mas o maior emblema do gremismo no século XXI.
Com treze anos de carreira profissional vestindo a camisa tricolor, a única que usou até hoje, Grohe soube suportar, muitas vezes de forma injusta, o banco de reservas, da mesma forma que os próprios gremistas precisaram aguentar com disciplina os anos de aridez, naqueles tempos aparentemente intermináveis em que o trajeto rumo ao Olímpico ou à Arena parecia uma diáspora condenada a encontrar a desgraça, que se manifestava das mais diferentes formas. Grohe caminhava junto, mas dentro do campo.
Quando o Grêmio enfim driblou a lei seca e as miragens para se reencontrar com as copas, Grohe era ao mesmo tempo arqueiro e embaixador da arquibancada – um representante íntimo do torcedor, que não precisava transformar a cancha em picadeiro para que sua identidade fosse percebida. Grohe era o gremista em campo, e talvez por isso mesmo muitas vezes os próprios torcedores tenham desconfiado dele. Uma espécie de corneta solidária.
Ao mesmo tempo discreto e protagonista, o cidadão nascido em Campo Bom, em 1987, fez desabar sobre si próprio holofotes e promessas justamente em momentos cabalísticos, como aquela intervenção absurda contra o Barcelona, em Guayaquil, partida que encarnou A Noite dos Sinais, das pegadas que antecipavam a retomada tricolor da América. O perfil tranquilo de Grohe sempre fez com que suas qualidades sobressaíssem desprovidas de adornos e afetações: transformou-se em um mito na penumbra. Sucessor de monstros como Lara, Mazaropi e Danrlei, esculpiu seu próprio tamanho.
Nos meses recentes, com frequência os gremistas acordavam de sobressalto com alguma especulação sobre um incerto interesse em Geromel ou Kannemann. Foram surpreendidos em seu mais sensível ponto fraco quando perceberam a meteórica saída de Grohe, sustentáculo central do tridente defensivo que fez o Grêmio novamente assumir contornos continentais. Talvez seja o desfecho de uma era, ou apenas uma transição para outro período igualmente vitorioso. Mas certamente é um marco: Grohe deixa o time do Grêmio para pregar seu nome na história do Grêmio. E, principalmente, tornar-se personagem da trajetória pessoal dos gremistas deste século, sofrido e redentor.

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