Polícia faz operação em favelas da Praça Seca para acabar com guerra entre traficantes e milicianos

Policiais fazem operação na Praça Seca

Policiais militares do Batalhão de Ação com Cães (BAC) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) fazem uma operação, desde as primeiras horas desta quinta-feira, com o objetivo de pôr fim aos intensos tiroteios nas comunidades Bateau Mouche e Chacrinha, ambas na Praça Seca, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Ainda não há informações de presos ou apreensões.

O ano mal começou, e os moradores da comunidade da Chacrinha ainda não tiveram sossego para celebrar a chegada de 2019. Traficantes de drogas que dominam a favela Bateau Mouche, que é separada da Chacrinha pela Avenida Cândido Benício, teriam retomado o controle da comunidade e estariam atormentando a vida dos moradores locais promovendo bailes funks em bares até altas horas da madrugada. Milicianos que controlavam a Chacrinha formaram um “bonde” para a retomada da favela, dando início a uma guerra que ainda não acabou.

 

 

Familiares acusam PMs por morte de adolescente

 

Na terça-feira, por volta de 12h, Tamires Queiroz, de 27 anos, foi atingida numa das nádegas por uma bala perdida quando fazia compras num sacolão na Avenida Cândido Benício, bem em frente à Favela da Chacrinha. Dois dias antes, no domingo, o adolescente Allan dos Santos Gomes, de 15 anos, que, segundo a família, era autista, morreu atingido por um tiro disparado por um policial militar durante uma operação. A família acusa a PM de ter matado um inocente e de ter tentado forjar a cena do crime colocando uma arma nas mãos de Allan e arrastando o seu corpo para junto de outros dois corpos de traficantes mortos pela polícia.

Parentes dos jovens mortos estão em estado de choque. Um dos tios de Allan, o barbeiro Rafael Silva Alves, de 26 anos, que a casa onde ele morava está fechada e que ninguém da família suporta entrar lá e lembrar do garoto. Segundo ele, a mãe do jovem morto, Janaína Olegário dos Reis Santos, de 38 anos, não pensa em processar o estado mas exige que a justiça seja feita.

— Ela não pensa nessas coisas de pedir indenização, de processar quem quer que seja. O que ela quer é justiça. Não quer que seu filho seja eternizado como um bandido. Não quero que pessoas que não o conheciam continuem achando que ele era um criminoso. O que fizeram com ele foi um crime. Minha mulher (irmã de Allan) está em choque e não quer falar com ninguém. Volta e meia ela sofre um desmaio — contou Rafael Alves.

Ele explicou que a família não tem como provar a doença do menino. Isso porque, segundo ele, um incêndio provocado por um problema no aparelho de ar-condicionado da casa da mãe de Allan destruiu os documentos de todos os moradores, incluindo os exames pedidos por uma médica do antigo Hospital Municipal Raphael de Paula Souza, em Curicica, que teve o seu setor de pediatria fechado em 2015, depois da suspensão dos serviços de ginecologia, dermatologia, clínica médica, cirurgia geral e torácica.

Na manhã desta quinta-feira, agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) fizeram mais uma operação na região. eles entraram nas favelas da Chacrinha e Bateau Mouche, mas não houve confrontos. Os policiais deixaram o local por volta das 10h30m.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que “o Comando do 18º BPM (Jacarepaguá) reitera que, por volta das 20h30 do último domingo (6/1), policiais da unidade foram acionados para checar denunciais sobre a presença de criminosos armados na comunidade da Chacrinha, na Praça Seca. Durante o patrulhamento, os militares foram recebidos a tiros por criminosos e houve confronto. Após cessarem os disparos, a equipe realizou buscas pela região e localizou três adolescentes feridos com três pistolas. Eles foram socorridos para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiram aos ferimentos.

A Delegacia de Homicídios da Capital (DH/Capital) investiga o caso. Como é de praxe em casos de feridos ou mortos em decorrência da ação policial, o Comando do 18º BPM instaurou Inquérito Policial Militar para apurar o fato paralelamente à investigação da DH.

Comerciante diz que blindado da PM ajudou milicianos

Um comerciante da região acusou policiais militares de ajudarem milicianos a retomar a favela da Chacrinha. Ele disse que tanto na terça-feira como na quarta-feira, blindado da Polícia Militar levou milicianos até um determinado ponto da Favela da Chacrinha para o enfrentamento com traficantes.

– Meu filho mora lá e sabe quem é quem. Um homem portando fuzil com roupas camufladas entrou em várias casas à procura de traficantes. ele tinha um colete com a inscrição da Polícia Militar mas meu filho sabe que ele é miliciano – disse o comerciante.

Uma moradora da favela da Chacrinha, que não quis ser identificada, aplaudiu a chegada de autoridades. Segundo ela está havendo uma aliança entre milicianos e traficantes. Ela disse que já não suportava mais ter que ficar a noite inteira acordada por causa dos bailes funk que terminavam às 4h ou às 5h da manhã.

– Eles estão todos juntos. o que eu sei é que foi bom a polícia ter chegado para acabar com esses pancadões, que não deixava ninguém dormir. Os bares ficavam cheios enquanto estivesse alguém bebendo a música não terminava. Cansei de ter que levantar cedo e ir trabalhar sem dormir – denunciou a mulher.

A Secretaria de Polícia Militar ainda não se manifestou em relação a estas acusações.

 

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