Sem salários, Diego Hypolito deixa clube e faz desabafo: “É um descaso”

Atual vice-campeão olímpico, ginasta se vê sem apoio e fica sem lugar para treinar a caminho de Tóquio 2020: “Parece que o atleta brasileiro não tem valor”
(Alex Livesey, Getty Images)

Atual vice-campeão olímpico do solo, Diego Hypolito teme por seu futuro na ginástica artística. Mesmo depois de sua conquista na Rio 2016, o atleta se viu em um cenário que considera um descaso. Sem patrocínios, com sete meses de salários atrasados, Diego Hypolito encerrou seu vínculo com a equipe de São Bernardo do Campo e fez um desabafo.
– Parece que o atleta brasileiro não tem valor. Estou muito triste. É desculpa em cima de desculpa. Eu queria continuar na região de São Paulo, é onde eu nasci, onde voltei a me consagrar. Mas é um descaso. Não tirei férias, quero voltar ao cenário internacional e ir para os Jogos Olímpicos. Sei que tenho potencial, mas parece que no nosso país é praticamente impossível. Jogam a responsabilidade de um para o outro. Duvido que se fosse em qualquer outro país eu teria sido tão destratado. Sou valorizado apenas pela grade massa. Me tratam mega bem. Mas não existe um plano de esporte no Brasil. Nós atletas somos peças de tabuleiro. Somos usados na Olimpíada, mas depois que tem o resultado pouco importa. É difícil construir um sonho dessa maneira – disse o ginasta, em contato com o GloboEsporte.com.

Bicampeão

Bicampeão mundial e prata na Olimpíada do Rio, Diego Hypolito afirmou que não recebeu por 7 dos 24 meses que trabalhou para a equipe de São Bernardo do Campo. Segundo o atleta, a Secretaria de Esportes e Lazer (SESP) da cidade do ABC Paulista não repassou aos atletas os recursos que vinham do patrocínio da Caixa ao clube. A SESP foi procurada pela reportagem do GloboEsporte.com, mas ainda não deu uma posição sobre a situação do vice-campeão olímpico.
– O que mais me entristece é que a sempre a desculpa era que a Caixa atrasava. Com bom senso, mesmo sempre precisando de dinheiro, abdiquei de quatro salários. Fizeram uma proposta no meio do ano passado falando que não conseguiriam pagar, mas agora não tem dinheiro. Nunca tinha acontecido isso. É muito decepcionante, porque não foi um lugar que não valorizei. Pelo contrário. Nunca estamos amparados em lugar algum.

Pressão pra ficar calado

Diego afirmou que se manteve calado sobre a situação por muito tempo por causa do que chamou de “terror psicológico”. Ele conta que sofreu pressão para manter tudo por trás das cortinas.
– Eles queriam fechar minha boca: “O certo é ficar calado”. Cheguei no meu limite. É um bando de extintor. Querem apagar o fogo e não te dão solução. Tento me manter íntegro no meio de tanta confusão do país, mas é difícil manter a cabeça no lugar. Para entrar na Olimpíada tem que bater de frente com um batalhão de dirigentes. Tive o resultado. Tem que provar mais o quê? Desse jeito não sei se vou aguentar muito tempo. Nunca tem apoio, só críticos. A própria ginástica não se ajuda. Não vi ninguém apoiando os ginastas que foram abusados. Depois de todo o absurdo do escândalo de abuso sexual, o mínimo que deveria é temos sido abraçados. É como se o atleta fosse punido – disse Diego, lembrando que São Bernardo foi o palco dos abusos do técnico Fernando de Carvalho Lopes, denunciado por molestar pelo menos quarenta atletas.

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