Jovem abusada pelo padrasto por 8 anos procurou a polícia após receber apoio de amigos

A jovem Eva Luana da Silva relatou no Instagram os oito anos de violência que sofreu nas mãos do padrasto, denunciando abusos sexuais e agressões. Ela disse que chegou a abortar “diversas vezes”. A história chamou atenção de internautas e repercutiu nas redes sociais nesta quarta-feira por meio da hashtag #SomosTodasEva.

Segundo a delegada Florisbela da Rocha, da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Camaçari (BA), o padrasto da vítima teve a prisão preventiva decretada e as investigações foram encerradas. O processo corre em segredo de justiça.

Eva Luana procurou a polícia no dia 30 de janeiro, quando prestou depoimento e pediu medidas protetivas para ela e sua mãe, que também sofria violência doméstica. Os agentes da Deam realizaram diligências e prenderam o agressor no último dia 13. Rocha afirmou que elas estão recebendo atendimentos médico e psicológico.

Após ter a adolescência marcada por abusos e ameaças, a vítima ouviu conselhos de amigos para dar um basta a tudo aquilo.

— Colegas da vítima desconfiavam do que acontecia e a encorajaram a procurar ajuda. Ela tomou coragem — contou Rocha.

Eva Luana relatou que aos 12 anos começou a ser abusada sexualmente pelo padrasto, descrito como “obsessivo e ciumento” com a mãe dela, a quem também agredia. Ela disse que sua vida era “uma prisão sem grade, literalmente”.

“Ele me agredia nos estupros mas depois de um tempo, só utilizou das ameaças contra a minha família. Eu era usada como um lixo. Já abortei diversas vezes. Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. Todas as vezes sangrava e passava mal a noite inteira. Já vi os bebês inteiros no vaso sanitário”, afirmou. E ainda: “Minha mãe apanhou tanto que teve um parto prematuro, meu irmão morreu depois de 6 dias de nascido. Quando ela estava grávida dele levou diversos chutes e joelhadas na barriga. Ele não queria mais um filho”.

Rocha ressaltou que a violência doméstica por si só “é muito constrangedora”, porque as vítimas ficam muito próximas do agressor.

— O dano psicológico agride muito mais o ser humano do que o do corpo — disse a delegada.

Isso pode explicar porque Eva Luana, com 13 anos, após registrar ocorrência contra o padrasto pela primeira vez, acabou retirando a queixa pouco depois. Na rede social, a jovem contou que foi ameaçada e sentiu muito medo.

“Nessa denúncia eu tinha certeza que seria salva por todos. Mas não foi isso que aconteceu. O Estado falhou a tal ponto que o meu caso não chegou nem ao Ministério Público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. Porque ali eu perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos”, escreveu.

Para Rocha, tais ameaças são uma característica do homem que pratica violência doméstica.

— Ele tem em mente que vai vencer pelo medo — afirmou. — Eu aconselho que esse seja o exemplo: procure a polícia, não deixe de procurar ajuda, porque a gente pode evitar muito sofrimento.

“Medo me define por completo, no entanto, tenho forças pra dizer: Lutei como uma garota e vou continuar lutando por outras garotas. Se algo me acontecer, eu não terei dúvidas que tentei sair dessa e lutei essa guerra com todas as minhas forças”, disse Eva Luana no Instagram. “Ele não pode sair impune, a justiça tem que ser feita o quanto antes”.

De acordo com o Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), foi oferecida denúncia contra o padrasto da jovem no último dia 11, por todos os crimes narrados pela vítima.

“A Instituiçao recebeu o inquérito da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) no dia 07 e realizou a oitiva da vítima no dia 08. Foram também requeridas pelo Ministério Público a medida de busca e apreensão de provas e a prisão preventiva do acusado, que foi cumprida no último dia 13. Além da promotora de Justiça Anna Karina Senna, substituta na 10 Promotoria de Justiça de Camaçari, mais cinco promotoras de Justiça foram designadas para atuarem na análise do referido inquérito. O processo penal encontra-se em segredo de justiça

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