De clube sensação do momento à imagem arranhada: danos e cicatrizes da tragédia

Presidente Rodolfo Landim com as mãos na cabeça no dia do incêndio no CT
André Durão/GloboEsporte.com

Em menos de dois meses, Rubro-Negro vê o cenário mudar fora de campo e tenta administrar o desgaste de sua marca em meio a críticas públicas, questionamentos internos e reflexos externos

O ano de 2019 ainda não tem dois meses completos, mas o Flamengo já foi do céu ao inferno fora de campo neste início de temporada. De clube sensação com os investimentos que o colocaram em outro patamar no cenário brasileiro ao desgaste sofrido pela tragédia do Ninho do Urubu. O processo envolvendo indenizações para as famílias das vítimas mal começou, mas a imagem do clube já está arranhada.
O Rubro-Negro iniciou o ano como onipresente no noticiário esportivo. Afinal, o time, atual vice-campeão brasileiro, recebeu reforços de peso como Arrascaeta e Gabigol para ser candidato a todos os títulos da temporada. Além disso, o clube inaugurou o novo módulo do CT profissional, um “padrão Europa” dentro do Brasil. Mas, na mesma semana em que começou a usar as novas instalações, aconteceu a tragédia justamente no local.
O incêndio em um alojamento da parte antiga do Ninho do Urubu deixou 10 jogadores da base mortos e três feridos. A diretoria, recém-eleita e empossada, não tinha conhecimento da falta de licença e alvará no CT e assumiu a responsabilidade pelas vítimas. Abriu as portas para colaborar com as investigações e concentrou seu foco no amparo às famílias atingidas. Postura que de certa forma preservava a imagem do Flamengo até a última quinta-feira, quando familiares começaram a atacar o clube.
O motivo: a grande diferença entre os R$ 2 milhões pedidos de indenização por família, mais R$ 10 mil por mês durante 30 anos, para a proposta rubro-negra de R$ 700 mil e até três salários mínimos durante 10 anos. A revolta das vítimas contrasta com a avaliação do Flamengo, de que o valor é acima do padrão na Justiça brasileira e seria pago de imediato, sem depender da fila do judiciário. A diretoria buscou informações de cifras envolvendo outras tragédias, como da Boate Kiss e das barragens de Mariana e Brumadinho.
Nos bastidores, o Flamengo diz entender a indignação das vítimas de luto, mas acredita que em nenhum momento houve o real desejo, especialmente de seus representantes legais, em negociar um acordo, pois a ideia já era levar o caso para os tribunais. Algumas famílias têm vários advogados, e a postura dos deles incomodou. Em entrevistas à imprensa, alguns familiares se disseram desamparados pelo clube. A diretoria não se pronunciou oficialmente, mas um dirigente, que preferiu não se identificar, contestou:
– Estamos pagando R$ 5 mil por mês por família apenas para sentarmos e conversarmos. Arcamos com todas as despesas, desde hospital, velórios, funerais, hotéis, passagens, psicólogos… Tudo.
A diretoria gostaria de evitar uma arrastada disputa na Justiça e entende que esse seria o melhor caminho para todos. No caso do Flamengo, além de colocar um ponto final na questão indenizatória e amparar as famílias, evitaria um desgaste ainda maior em sua já arranhada imagem pós-tragédia. Mas internamente já admitem que o dano está feito. A marca do clube está prejudicada e, em um primeiro momento, será difícil amenizar o cenário.
Questionamentos internos
Desde o primeiro dia, o Flamengo priorizou a assistência às vítimas. No entanto, optou por uma estratégia de comunicação perigosa, por vezes pouco transparente. O clube fez três breves pronunciamentos – dois com o presidente Rodolfo Landim e outro com o CEO Reinaldo Belotti –, mas não deu espaço para perguntas. Além disso, o Rubro-Negro soltou diversas notas oficiais. O vice jurídico Rodrigo Dunhsee foi o único que se aventurou a responder os jornalistas semana passada, no Ministério Público, mas se irritou com questionamentos e abandonou a entrevista.
Em nota oficial, o clube argumenta que o combinado era que Dunshee só responderia a três perguntas.

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